Não há nada no radar da aviação agrícola que indique qualquer ameaça à liderança do Ipanema, da Embraer (EMBR3), mesmo a longuíssimo prazo. O próprio concorrente admite isso. Mas tanto como o céu não tem limite, a Air Tractor também não vê pista curta para seus modelos no Brasil.
O avião americano já tem pedidos em carteira para 2022. Para este ano, não há mais nada para entrega. A menos que algum representante mundo afora tenha alguma desistência de cliente e repasse para a Aeroglobo, um dos três agentes da fabricante na América do Sul.
O que vem estimulando a participação do Air Tractor nos ares sobre as principais lavouras brasileiras são suas configurações, em maior capacidade de carga líquida, portanto mais propícios para a pulverização de grandes áreas, explica o sócio-proprietário da Aeroglobo, Luiz Fabiano Zucarelli Cunha, baseada em Botucatu (SP).
Dito isso, enquanto com o Ipanema se necessita de mais passagens, com os Air Tractor não. Desse modo, segue o dealer, customiza a elevação dos gastos com combustíveis, para o proprietário, ou do aluguel da aeronave, quando tem uma empresa de aviação agrícola prestando o serviço.
Um exemplo cada vez mais presente é o caso do algodão, que pela natureza da cultura exige entre 10 e 12 passagens sobre as mesmas áreas com defensivos, além de outras com o perfil de uso cada vez mais intensificado em adubação foliar, diz Thiago Magalhães, presidente do Sindag, o sindicato que representa as empresas de aviação agrícola.
Nas estatísticas da entidade, em 2020 o Brasil fechou com 2.352 aeronaves registradas, em alta de 3,16% sobre o ano anterior. Para este ano, se prevê 100 a 110 novas, em torno de 4,5% a mais.
Se há céu de brigadeiro para todo o setor, há também para a Air Tractor |
Cunha, que já foi da Embraer por mais de duas décadas, tendo participado do desenvolvimento do Ipanema, acredita que 30% é share da marca. Os três representantes juntos, incluindo o da Argentina, devem ter vendidos 60 modelos no Brasil em 2021.
A terceira marca player da aeronáutica agrícola é a também americana Thrush Aircraft, inclusive a mais antiga, mas de participação muito pequena no Brasil.
O diretor da Aeroglobo, que também presta serviços de manutenção e treinamento, não tem sentido as pressões dos dois terrores da aviação em geral. A valorização do dólar e do combustível.
No caso do câmbio, a empresa voou alto este ano, com o dólar acima de R$ 5, porque também os principais clientes da agricultura comoditizada tem ganhos dolarizados, além da proverbial expansão das mais exigentes lavouras em pulverização aérea. A soja é líder, como acontece em todos os elos das cadeias da agricultura.
Em relação ao combustível de aviação – e aí, sim, entra a vantagem do Ipanema movido a etanol -, sujeito à volatilidade de alta do petróleo, Luiz Fabiano Cunha volta a destacar a capacidade de carga dos modelos que vende, eliminando várias passagens.
Vale lembrar que as empresas prestadoras de serviços contam com um Indicador de Inflação da Aviação Agrícola, do Sindag, onde o custo de energia é o principal item. Mas, independente de ser Air Tractor ou outra marca, Thiago Magalhães, o presidente do Sindicato e proprietário da Tangará Aeroagrícola, salienta o custo benefício sobre o uso de tratores.
Uma máquina terceirizada custa o aluguel médio de R$ 70 por hectare, enquanto o avião terceirizado fica em R$ 40, segundo ele.
No cômputo geral, os modelos Air Tractor, que vão de US$ 935 mil a mais de US$ 2 milhões, se pagam, garante o empresário da Aeroglobo.
Por isso o crescimento é visto com destaque para os próximos dois anos, “salvo emoções fiscais e políticas”.
Por Giovanni Lorenzon (Money Times)
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