segunda-feira, 16 de junho de 2008

Cientista quer mudar design das hélices de aviões

E se alguém tivesse inventado uma tecnologia melhor e o mundo o ignorasse? Até agora, é isso que vem acontecendo com Jay Harman, um naturalista australiano que acredita ter encontrado uma maneira de utilizar as propriedades fundamentais da física e da biologia para melhorar o design de todas as coisas - a começar pelos ventiladores e chegando aos aviões, depois de passar por bombas hidráulicas e usinas hidrelétricas.

Jay Harman aplica seu conhecimento de fluidos para criar novos designs industriais

Quase todas as máquinas do mundo físico enfrentam limites de eficiência relacionados ao fluxo de líquidos e gases: as bombas hidráulicas consomem energia para mover líquidos; a quantidade de combustível que os aviões e carros consomem é definida pela sua eficiência aerodinâmica e os ventiladores e turbinas eólicas tanto consomem quanto geram energia com base na eficiência de suas lâminas rotativas.

Quando menino, Harman percebeu que os objetivos na natureza pareciam odiar a idéia de movimento em linha reta. Os fluidos e os gases se movem em lânguidas espirais, e ainda que ele não tenha treinamento científico, lhe pareceu óbvio já então que essa observação tinha algo de profundo a ensinar sobre o movimento.

Por fim, ele transformou a fonte de seu fascínio infantil em algo que acreditava pudesse ter uso prático. Ele depreendeu que poderia aproveitar suas observação sobre fluidos a fim de alterar a forma de hélices, ventiladores em qualquer outro objeto que precise se mover em um ambiente fluido ou gasoso.

Depois de estudar vórtices informalmente por diversas décadas, ele trabalhou em sua banheira e conseguiu criar um molde do vórtice que a água forma ao correr pelo ralo. Depois, usou esse molde para ajudar a alterar o projeto das partes rotativas dos impulsores de bombas hidráulicas e outros dispositivos cuja função é movimentar fluidos. Desde então, ele vem aplicando sua abordagem de maneira mais ampla e alterou a forma de diversos aparelhos utilizados para mover fluidos e gases.

Dois exemplos de possibilidades intrigantes demonstram o alcance de suas ambições. Caso os vórtices criados pelas pontas das asas dos jatos pudessem ser eliminados, os aviões de passageiros poderiam viajar a distância menor uns dos outros, o que aumentaria em muito a eficiência de aviões e aeroportos. Harman acredita que tenha desenvolvido uma abordagem tecnológica que propicia exatamente isso.

Em uma arena completamente diferente, o impulsor de Harman pode ser utilizado em combinação com um motor acionado por energia solar a fim de criar um efeito de ondulação em um recipiente de água estagnada, alterando o equilíbrio entre nitrogênio e oxigênio no tanque. Isso torna possível interromper o desenvolvimento das larvas de mosquitos, e potencialmente reduz a ameaça da malária e encefalite.

Harman é praticante de um método conhecido como biomímica, um movimento que vem crescendo consideravelmente no campo do design industrial. Há 11 anos, ele estabeleceu a Pax Scientific a fim de comercializar suas idéias, imaginando que conseguiria convencer rapidamente as empresas de que elas poderiam ganhar eficiência, reduzir ruídos ou criar categorias inteiramente novas de produtos caso seguissem a abordagem que ele propõe. Mas o caminho vem sendo mais longo e mais tortuoso do que ele imaginou inicialmente. A despeito de suas realizações terem sido muito elogiadas e de uma tecnologia altamente fotogênica, a Pax Scientific não pode ser considerada um sucesso instantâneo.

"Quando comecei, imaginei que o processo levaria de seis a 12 meses", conta Harman. Mas o que ele encontrou pelo caminho, em lugar disso, foram empresas que tinham pouco interesse em mudar o projeto de seus produtos, mesmo diante da promessa de ganhos de eficiência da ordem de dois dígitos.

As idéias radicais de Harman encontraram, até o momento, recepção cautelosa nos setores aeronáutico, de ar condicionado, náutico, de bombas hidráulicas e no de turbinas eólicas. A experiência dele não é incomum. Em lugar de correr em busca dos proponentes de idéias criativas, o mundo parece se esforçar para evitá-los.

De fato, um de seus conselheiros, Paul Saffo, um analista que trabalha no segmento de previsões tecnológicas no Vale do Silício, muitas vezes costuma repetir um ditado bem simples: "Uma visão desobstruída não significa um percurso curto". Mesmo em ramos como a computação, que celebra a inovação, as alterações sistêmicas podem ocorrer em ritmo glacial.

"Eles estão procurando por mudanças em uma forma que lhes seja compreensível", disse Harman. Novos chips são fáceis de vender. Mas a idéia de reinventar a forma do computador, do zero, é bem mais difícil. Basta considerar que Douglas Engelbart inventou o mouse em 1964, e era evidente para muita gente, já então, que o aparelho seria a melhor maneira de controlar um computador. Mesmo assim, foram necessárias duas décadas para que o invento encontrasse audiência de massa.

Ou pensem no caso dos links de Internet, concebidos simultaneamente, e de maneira independente, por Engelbart e por Ted Nelson, um entusiasta da computação, na metade dos anos 60. Eles demoraram cerca de três décadas para chegar ao mundo mais amplo, via World Wide Web.

Mas a lenta aceitação de suas idéias sobre formas mais eficientes de promover o fluxo de fluidos não desanima Harman, que se declara um otimista incorrigível. "Existe uma psicologia básica da espécie humana que nos leva a resistir a mudanças", disse ele, "mas desistir não está no meu DNA".

E as coisas enfim parecem estar favorecendo suas idéias. Com a ajuda do empresário ambientalista Paul Hawken, ele criou a subsidiária PaxIT, que está projetando ventiladores mais silenciosos e eficiente em termos de energia para o setor de computação. Os designs da Pax começarão a ser usados em bens de consumo já no ano que vem, diz o empresário.

E, em outro sinal positivo para as empresas de Harman, um mundo que ignorou por tempo demais a questão da eficiência energética agora praticamente não pensa em outra coisa. "Tentamos por anos promover a conservação de energia, mas ninguém estava interessado", disse. "Agora, o mundo mudou de curso".

Fonte: The New York Times - Foto: Peter DaSilva (The New York Times)

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