NB-36H com símbolo de radioatividade na cauda: Avião levou reator a bordo como teste de avião nuclear (Imagem: Divulgação) |
Embora existam submarinos e navios movidos com propulsão nuclear, não há aeronaves que possuem esse sistema hoje em dia. Em um cenário ideal, aviões do tipo poderiam voar por longos períodos de tempo sem precisar parar, mas a ideia de levar um reator nuclear a bordo não ganhou muitos adeptos.
Desenvolvimento
Diversos programas tentaram criar um avião nuclear. Estados Unidos e Rússia lideravam as pesquisas, com vários modelos sendo estudados para essa finalidade.
Avião teria, em resumo, um motor movido por meio de um reator nuclear portátil. Interesse nesse tipo de propulsão cresceu após o Projeto Manhattan, programa de pesquisa e desenvolvimento das bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial.
NB-36H
- O modelo de teste de maior destaque talvez tenha sido o NB-36H. Ele usava como base um bombardeiro Convair B-36.
- Cabine foi reforçada com chumbo. O objetivo era evitar que a radiação afetasse os pilotos.
- Avião realizou 47 voos de teste. Em nenhum o reator foi usado para dar propulsão à aeronave, mas, apenas, para testar se era viável ter um equipamento do tipo dentro de um avião em voo.
- Cabine de comando do NB-36H encapsulada com chumbo para evitar contaminação por radiação.
Cabine de comando do NB-36H encapsulada com chumbo para evitar contaminação por radiação (Imagem: Divulgação) |
Programa nos EUA
Em 1946, os EUA iniciaram um projeto para criar uma aeronave do tipo. Era o Programa de Propulsão Nuclear, ou, Programa de Aeronaves Nucleares Tripuladas, um dos projetos que o país atuaria nos anos seguintes.
Projeto durou de 1946 a 1961. Seu custo estimado à época foi de US$ 1 bilhão, e nenhum avião do programa chegou a voar movido a energia nuclear.
Durante a década de 1950, alguns motores foram adaptados com relativo sucesso. Empresas como General Eletric (GE) e Pratt e Whitney eram responsáveis pelos projetos.
O motor
Esquema do sistema de propulsão nuclear de ciclo indireto que foi projetado para o governo dos EUA (Imagem: Divulgação) |
Além de ter um avião todo adaptado, o motor era o coração do projeto. Desenvolver a tecnologia mais adequada e definir qual o tipo seria usado tomou anos de empresas contratadas pelo governo.
Conceito seria plenamente viável. David F. Shaw, gerente geral dos programas de propulsão nuclear na GE, era otimista com a possibilidade.
"Não é mais uma questão de saber se podemos construir um sistema aeronáutico movido a energia nuclear, mas quando poderemos colocar tal sistema numa aeronave. Chegamos ao ponto em que podemos dizer que quando uma fuselagem estiver pronta, poderemos ter o local de energia nuclear do ciclo aéreo direto pronto para instalação", disse David F. Shaw, da General Eletric.
De fato, aviões comportaram os reatores em seus interiores. Entretanto, eles não chegaram a ter propulsão nuclear na prática, como era desejado, antes do fim dos projetos.
Lançamento de satélite russo freou projetos
Em 1957, a URSS lançava o satélite Sputnik I. O projeto do avião nuclear se tornaria uma questão de honra para recuperar o prestígio dos EUA.
Presidente Dwight D. Eisenhower não considerava os programas como prioridade. Mesmo assim, ele destinou cerca de US$ 150 milhões ao ano para os projetos continuarem.
Em 1961, quando John F. Kennedy assumiu a presidência dos EUA, contratos militares passaram a ser revisados. Com isso, os acordos com as empresas envolvidas foram rescindidos e os projetos, abandonados.
"[...] A possibilidade de uma aeronave militarmente útil num futuro próximo ainda é muito remota", declarou John F. Kennedy, então presidente dos EUA.
Por que não prosperaram?
Quedas seriam problemas. Caso um avião caísse ou se acidentasse, não havia garantia de que não ocorreria vazamento do material radioativo.
Cabine precisaria ser blindada. O local onde os pilotos ficam teria de ser protegido com escudos de chumbo espessos, aumentando significativamente o peso do avião, podendo tornar sua operação inviável.
Novos armamentos da época tornavam aviões alvos mais fáceis. Como voariam mais pesados e mais lentos devido ao peso do reator e da blindagem, esses aviões poderiam se tornar alvos mais facilmente atingíveis por inimigos.
Desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais tornou projeto obsoleto. Como um dos principais objetivos dos aviões nucleares seria conseguir viajar longas distâncias para realizar bombardeios sem precisar reabastecer, com o novo tipo de armamento sendo implementado, esse tipo de voo deixaria de ser tão necessário.
Aceitação popular também seria um entrave. Embora os projetos fossem secretos, havia o receio de que a opinião da população sobre os riscos pudesse colocar o projeto em xeque. Caso o motor fosse usado em aviões comerciais, por exemplo, seria difícil convencer os passageiros a se sentarem a uma curta distância de um reator nuclear ativo.
Via Alexandre Saconi (Todos a Bordo/UOL) - Fontes: FAS (Federation of American Scientists - Federação de Cientistas Americanos); Força Aérea dos EUA; Aopa (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves dos EUA)
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