A Polícia Civil concluiu as investigações sobre o acidente de avião que matou o piloto Luciano Ferreira Souza e o copiloto Fabiano Luiz Gonçalves, em fevereiro do ano passado, em Guarapari. O inquérito apontou duas falhas do comandante do voo: a omissão em efetuar a drenagem nos tanques de combustível e a decisão por continuar com a decolagem, apesar dos problemas no motor.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o equipamento "apresentou sinais de falha enquanto a aeronave percorria a parte inicial da pista" do Aeródromo de Guarapari. Neste cenário, a decolagem deveria ter sido abortada. Além disso, foi identificada falta de manutenção no bocal de entrada do tanque de combustível, "o que teria permitido a entrada de umidade e água no compartimento".
As investigações foram feitas pela Delegacia Especializada de Investigações Criminais e Outras (Dipo) de Guarapari e concluídas no último dia 28 de outubro — cerca de 1 ano e oito meses após a queda do monomotor em galpões do bairro Aeroporto. Como o piloto morreu no acidente, a Polícia Civil sugeriu o arquivamento do caso ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Sem o objetivo de apontar culpados, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também realizou uma investigação para identificar quais atitudes ou problemas contribuíram para o acidente. O relatório final foi concluído no dia 8 de julho deste ano. Abaixo, você confere os principais fatores que levaram à queda do avião em Guarapari, segundo o órgão:
- Desde o início, o voo foi presenciado por dois funcionários do Aeródromo de Guarapari. Ambos afirmaram que "a aeronave deu sinais claros de falha do motor já durante a decolagem". Quando o avião já estava fora do solo, eles relataram "variação do ruído produzido pelo motor, evidenciando perda abrupta de potência". O motor, então, passou a acelerar e apresentar falhas de forma alternada, evidenciando que "a aeronave decolou em condições precárias".
- Em casos de falha de motor durante a decolagem na pista 6 do Aeródromo de Guarapari, o procedimento informal preconizado é fazer uma curva suave à esquerda, se dirigindo para um setor com menos edificações e algumas áreas descampadas, "proporcionando melhores condições para a realização de um pouso de emergência bem-sucedido". No entanto, o piloto efetuou uma curva acentuada para a direita — procedimento, este, que configurou "uma decisão equivocada".
- No local do acidente, junto aos destroços, foram coletadas amostras do combustível para serem analisadas em laboratórios do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. O resultado apontou a presença de água e de um polímero fluorado. Ou seja, "evidenciou que o combustível estava, de fato, contaminado". Dessa forma, ele pode ter entrado nas linhas de alimentação do motor e provocado as falhas de funcionamento.
No relatório final do Cenipa também consta que a aeronave ficava no pátio de manobras, exposta às chuvas intensas dos dias anteriores — fato que pode ter colaborado para a entrada de água no tanque de combustível, apesar das condições meteorológicas propícias ao voo no dia do acidente.
Antes de falecer, o piloto da aeronave também teria dito, a duas pessoas que prestaram os primeiros socorros a ele, que o avião apresentou falha de suprimento de combustível para o motor e tentou reacendê-lo. "Sendo essa, portanto, a conclusão a ser considerada", afirmou o órgão.
O plano de voo feito junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) indicava que o piloto Luciano Ferreira Souza e o copiloto Fabiano Luiz Gonçalves sairiam do Aeródromo de Guarapari e pousariam no Aeroporto Eurico de Aguiar Sales, em Vitória. No entanto, a aeronave caiu logo após a decolagem.
Na queda, o monomotor modelo Cherokee 180 atingiu dois galpões do bairro Aeroporto, a cerca de 145 metros da pista. Nos estabelecimentos, trabalhavam cerca de 100 pessoas. Na época, o proprietário Thiago Taves contou que duas chegaram a ficar presas na parte de cima do galpão.
Em decorrência do acidente em 19 de fevereiro de 2020, o copiloto do avião morreu ainda no local. Já o piloto chegou a ser socorrido com 80% do corpo queimado para o Hospital Estadual Doutor Jayme dos Santos Neves, na Serra, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu na manhã do dia seguinte (20).
Por Larissa Avilez (A Gazeta) - Fotos: Ascom/CBES
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