Grupo se alivia após horas de viagem em um ônibus sem ar condicionado e sob um calor intenso |
O pastor Ademir Machado e o funcionário do governo federal norte-americano, Cesar Freitas, fazem parte de um grupo de quase 50 brasileiros que estavam no voo 687, que saiu de Guarulhos, em São Paulo, tinha escala no Newark Liberty International Airport, em New Jersey, com destino à Boston, em Massachusetts.
A viagem seguiu normalmente até que a aeronave aterrissou em Newark (NJ), no dia 29 de junho. Foi neste momento que começou o pesadelo dos passageiros, em sua grande maioria brasileiros. Todos deveria passar pela checagem de imigração e serem embarcados em outra aeronave que seguira até o destino. Mas não foi isso que aconteceu.
De acordo com Ademir, um mineiro que reside em Somerville (MA), a aeronave chegou à Newark por volta das 6h40 a.m., e quando ele desceu viu uma fila enorme com pessoas de voos vindos de diversos países. A princípio, ele pensou que seria um processo rápido, pois era só checar ser documentos e fazer a conexão com outro avião.
Ele explicou que às 8h15 a.m., um funcionário pediu para as pessoas que tinham Boston como destino para segui-lo. Cerca de 50 passageiros passaram pelos oficiais de imigração, tiveram seus passaportes carimbados e se dirigiam ao portão de embarque. “Mas quando chegamos lá, fomos barrados sob a alegação de que o voo já estava lotado”, disse.
Brasileiros pagam por passagem de avião e voltam de ônibus à Boston |
Um representante da empresa disse que, além de não poderem embarcar naquele voo, também não poderiam ser colocados no próximo que sairia às 7:00 p.m. “Mas ninguém queria dormir no aeroporto até que um avião estivesse à nossa disposição”, afirmou acrescentando que todos começaram a reclamar.
Foi então que por volta da 13h00, um funcionário disse que a empresa teria contratado um ônibus que levaria a todos até Boston. “Apensar de ser uma viagem longa e cansativa, aceitamos, pois queríamos chegar logo em nossas casas, depois de horas de voo e espera”, disse. “Mas para a nossa surpresa o sofrimento ainda não tinha acabado”, acrescentou.
Ele relatou que os compartimentos internos do ônibus estavam lacrados com fitas isolante. Além disso, o veículo não tinha ar condicionado, nem água e as janelas não abriam. O calor de 100 graus Fahrenheit (cerca de 38 graus Celsius) foi mais um fator para aumentar a tensão e fazer com que algumas pessoas passassem mal.
Os brasileiros reclamaram, mas a empresa entregou a eles apenas duas caixas com água, as quais estavam muito quentes. O ônibus não foi trocado e todos foram obrigados a seguir viagem nele. “Cerca de uma hora depois uma mulher se sentiu mal e apresentou dificuldades para respirar. Depois de muita insistência, o motorista saiu da rodovia e parou em um posto de combustível onde todos puderam sair, comprar comida e se aliviar do calor intenso”, disse. “Havia crianças e idosos entre nós e que estavam prestes a desmaiar”, destacou.
Durante a parada do ônibus brasileiros compram comida |
Ademir disse que a ambulância queria levá-lo, mas ele se recusou, pois estava com sua esposa e tinha compromissos em Massachusetts. “Mas perdi todos, pois chegamos muito tarde a Boston”, disse.
Após o atendimento médico, a empresa enviou outro ônibus, mas com o motorista. De acordo com o grupo, este segundo veículo tinha ar condicionado, mas apresentava alguns problemas e o condutor era uma pessoa áspera e não atendia bem aos passageiros. Além disso, quando o veículo chegou ao estado de Connecticut, começou a perder a força e quase parou. “O trajeto de Newark a Boston teríamos feitos em cerca de 55 minutos de avião, mas de ônibus foram sete horas de viagem e sofrimento”, se revoltou. “Por causa disso eu perdi um serviço que me renderia US $16 mil”, disse acrescentando que já entrou em contato com um advogado e que vai exigir que a United pague pelo transtorno, constrangimento e maus-tratos prestados aos passageiros.
Outro caso
César Freitas, 62 anos, que trabalha para o governo federal dos Estados Unidos, foi ao Brasil com a esposa e um filho, que é autista. Já na ida, os problemas com a companhia começaram. De acordo com ele, quando o avião, que saiu de Boston, chegou à Newark, onde tivemos que ficar mais de cinco horas devido a uma tempestade. “Pela lei norte-americano, os passageiros não podem ficar mais que duas horas parados”, disse ele.
Ele explica que depois que o alerta de tempestade cessou, começaram outros problemas, tais como a necessidade de colocar mais combustível na aeronave. “Ficamos quase seis horas, sentados, com máscaras no rosto e quando chegamos à São Paulo perdemos o avião de conexão até Minas Gerais. Fui obrigado a comprar outra passagem para seguirmos viagem”, disse.
A esposa e o filho ficaram no Brasil e ele retornou e mais uma vez teria problemas com a United. Desta vez no mesmo voo já citado anteriormente. “Tudo o que eles passaram eu também passei e fomos vítimas da incompetência de uma empresa que não deu a mínima para os passageiros”, afirmou.
Racismo e maus-tratos
César afirma que o grupo foi vítima de racimos pelo fato da maioria ser brasileira. Ele explica que desde o momento em que desceram da aeronave, em Newark, percebeu algo errado. “Existem uma fila para os turistas e uma para quem já é legalizado no país e cidadãos. Mas eles colocaram todos em uma só fila, onde ficamos por duas horas”, disse.
Além disso, depois que não havia voo para o grupo, um funcionário da empresa entregou apenas US$10 para cada um e disse “para que todos se virassem para arrumar comida”. César denuncia que não havia nenhum supervisor da empresa e que o único funcionário disponível dizia que não podia fazer mais nada.
Ele também relatou que os maus-tratos continuaram e quando entrou no ônibus percebeu o descaso da companhia. “Aquele veículo não deveria estar rodando, pois não oferecia nenhum conforto e segurança”, disse. “Além disso, durante toda a viagem o motorista estava alterado, batia com as mãos no volante quando falávamos com ele sobre o calor”, continuou.
O motorista também foi acusado de não estar preparado para a viagem. César disse que ele entrou em pista que ônibus é proibido circular, durante todo o trajeto não usou o cinto de segurança e quando chegou à Boston, os passageiros tiveram que orientá-lo qual caminho tomar para chegar ao aeroporto. “Fico imaginando se meu filho, que sofre de autismo, tivesse voltado comigo. Graças a Deus ele não estava lá”, disse. “Não vivenciamos um caso de racismo, preconceito e descaso”, finaliza.
Grupo no Whatsapp
Os passageiros criaram um grupo no WhatsApp onde compartilham suas experiências e estão a se unir para abrir um processo contra a United Airlines. Eles exigem que todos sejam ressarcidos e a empresa pague pelo erro cometido, bem como os maus-tratos sofridos por cada um.
Até agora o grupo conta com quase 30 membros e um deles, Santina da Costa, relatou que este não é o primeiro problema que teve com a United. Ela disse que a companhia a deixou em São Paulo e não deu nenhum suporte. “Tive que comprar outra passagem para voltar aos EUA”, disse relatando que a pessoa que a atendeu foi grossa e não resolveu nada. “Agora tem mais este problema”, seguiu.
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