Esquema veio à tona em 2019, após prisão de militar na Espanha; sargento transportava 39 quilos de cocaína pura. Quase dois anos depois, investigação não apontou quem está à frente do esquema.
Investigação aponta possíveis cúmplices de militar que transportava cocaína na comitiva presidencia (Imagem: Reprodução) |
Quase dois anos após a prisão de um sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) por tráfico internacional de drogas, autoridades ainda não conseguiram provar quem está à frente do esquema. Na semana passada, a investigação teve mais desdobramentos após a Polícia Federal deflagrar uma operação e cumprir 15 mandados de busca e apreensão, sendo um dos alvos outro militar.
O esquema veio à tona em junho de 2019, quando o sargento Manoel Silva Rodrigues foi preso em Sevilha, na Espanha. Ele transportava 39 quilos de cocaína pura em um voo da comitiva presidencial. À época, Jair Bolsonaro (sem partido), não estava na aeronave.
Mala e os 39 kg de cocaína apreendidas com militar da FAB preso na Espanha (Foto: Guarda Civil de Sevilla) |
No início do ano passado, Rodrigues foi condenado a seis anos de prisão, confessou o crime à polícia espanhola e teria dito que "aproveitou a condição de militar". O sargento contou ainda que deixaria a droga em um centro comercial de Sevilha.
Apesar de ter sido sentenciado na Espanha, o processo contra o sargento segue a passos lentos no Brasil. O último andamento relevante no processo foi registrado em agosto do ano passado. Na fase de inquérito, a Justiça Militar ouviu pelo menos 37 pessoas.
O que se sabe até agora
- O sargento da FAB Manoel Silva Rodrigues foi preso transportando 39 quilos de cocaína em Sevilha, na Espanha;
- Rodrigues foi sentenciado pela Justiça espanhola a seis anos de prisão em fevereiro do ano passado;
- O processo contra Rodrigues na Justiça brasileira não tem andamentos significativos há seis meses;
- Ele confessou o crime e admitiu ter se aproveitado da condição de militar;
- Jorge da Cruz Silva é outro militar da FAB investigado por participar do esquema;
- Jorge foi afastado do gabinete da vice-governadoria do DF após operação da Polícia Federal.
O que falta saber
- Quem está à frente do esquema?
- A droga era levada a outros países?
- Qual origem do entorpecente?
- A participação de mais militares é investigada?
- Quais informações foram colhidas pela investigação espanhola (que ainda não foram repassadas ao Brasil)?
Investigação
Na última terça-feira (2), a Polícia Federal deflagrou a operação Quinta Coluna, um desdobramento da investigação contra o esquema de tráfico internacional de drogas. Ao todo, os agentes cumpriram 15 mandados de busca e apreensão e duas medidas cautelares que impedem a saída de investigados do Distrito Federal.
Entre os alvos, estava a mulher de Manoel Silva Rodrigues, preso na Espanha, Wilkelane Nonato. De acordo com os investigadores, após a prisão do sargento, ela desapareceu com R$ 40 mil e um celular que o sargento usava para se comunicar com o grupo criminoso. Os policiais também pediram a prisão dela, entretanto, a Justiça brasileira negou.
A defesa do sargento informa que ele já cumpre pena pelo crime e que colabora com as investigações. Os advogados de Wilkelane dizem que ela não tem participação no esquema e que está sendo incluída nas investigações apenas por ser esposa do militar.
Sargento da Aeronáutica brasileira Manoel Silva Rodrigues, que foi detido na terça-feira (25) no aeroporto de Sevilha, na Espanha (Foto: Redes sociais/ Reprodução TV Globo) |
Além de Wilkelane, outro sargento da FAB, Jorge Luiz da Cruz Silva, também teve o pedido de prisão negado. O militar, que era funcionário do gabinete da vice-governadoria do DF, é investigado por contratar "mulas" para o esquema.
Por meio da quebra de sigilos telefônicos, os investigadores identificaram que os sargentos se encontraram e trocaram mensagens às vésperas de duas viagens de Rodrigues, e que Jorge trocou de celular logo após a prisão do colega. A reportagem tenta contato com a defesa do suspeito.
O que dizem as autoridades
O Comando da Aeronáutica informou que reforçou as normas de segurança nos voos e que atua firmemente para coibir irregularidades. Além disso, o órgão diz que repudia condutas que não representem os valores, a dedicação e o trabalho do efetivo da corporação.
Para a Força Aérea Brasileira, as informações sobre os militares e punições são resguardadas pela Lei Geral de Proteção de Dados e não podem ser divulgadas. Além disso, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), diz que não houve participação de militares do gabinete no gerenciamento do voo em questão, e que não se manifesta sobre investigações da Justiça Militar.
Por fim, o Ministério da Justiça afirmou que não comenta casos em andamento, mas que os pedidos de cooperação à Justiça espanhola foram feitos e não estão encerrados.
Por G1 DF e TV Globo
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