quarta-feira, 10 de março de 2010

Estudante da UFMG desenvolve software para a Nasa

Depois de intercâmbio em Portugal e na Inglaterra, Flávio Henrique Alves enfrentou desafios ao lado de grandes cientistas do planeta nos EUA

Ele teve a chance com a qual sonham milhões de pessoas em todo o mundo: conhecer a Nasa. O universitário mineiro Flávio Henrique de Vasconcelos Alves, de 23 anos, esteve nas dependências da Agência Espacial Americana, no estado do Texas, e engana-se quem pensa numa simples visita. Ele pesquisou, encontrou soluções para grandes desafios e mostrou, aos maiores cientistas do planeta, que o Brasil também não brinca em serviço. O jovem é aluno do 9º período de engenharia de controle e automação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fez um estágio de pouco mais de dois meses no National Space Biomedical Research Institute (NSBRI), o instituto de pesquisas biomédicas. Agora, ele quer usar o aprendizado para contribuir com a saúde dos brasileiros.

Usando o termo da Nasa, o estudante atuou como um “consultor”. “Eles entendem que, para ser estagiário, seria necessário alguém me orientando e explicando as coisas. E isso não ocorre. Uma pessoa dizia em 10 minutos o que queria e eu tinha de encontrar uma solução, sem falhas, e me virar sozinho”, relata. O lema da equipe, impresso no cordão do crachá do universitário mineiro, mostra o tamanho da cobrança e o que deve ser seguido à risca: “O fracasso não é uma opção”.

Flávio trabalhou em três projetos. O primeiro foi o desenvolvimento de um programa que compara as condições do coração do astronauta antes e depois de ir ao espaço. São analisados dados como batimentos, frequência e pressão. O outro foi na área de metabolismo cerebral. Mas, o mais importante revolucionou as técnicas de processamento de dados da agência espacial. Ele criou um software de decodificação dos dados cardíacos, que diminui de 30 minutos para 108 segundos o tempo de conversão de cada arquivo. “Eram gastos meses para a tarefa, pois são milhares de arquivos e mais de 600 gravações de sinais cardíacos. Com esse programa, conseguimos terminar tudo o que estava pendente”, afirmou.

O feito teve reconhecimento. “Eles só me elogiaram quando estava vindo embora e deixaram as portas abertas para voltar com uma equipe. Pensaram que se um estagiário conseguiu fazer, mais gente será ainda melhor” relata. Mas, antes de receber as glórias, Flávio percorreu um longo caminho. A ideia de tentar uma vaga na Nasa surgiu num estágio que fez na Inglaterra, depois de um intercâmbio pela UFMG, em Portugal, em desenvolvimento de programas para engenharia biomédica e análise de metabolismo cerebral. No Reino Unido, o estudante recebeu uma carta de recomendação e a enviou para um professor que trabalha na Nasa, autor da maioria dos artigos que leu sobre o tema.

Ao fim de seis meses de troca de e-mails, finalmente, em novembro do ano passado, veio a confirmação: as malas deveriam estar prontas para o mês seguinte. O investimento foi todo custeado pela empresa de engenharia na qual Flávio faz estágio no Brasil. “A parte mais difícil foram os primeiros dias, quando me disseram que o que eu havia desenvolvido na Inglaterra eles já tinham há 50 anos e, o que não tinham, podiam comprar. Portanto, eu teria de ser inovador. Tive vontade de voltar para casa”, recorda-se.

Sorte e modéstia

O estudante, cuja família é de Sete Lagoas, na Região Central de Minas, atribui a conquista à sorte e à base que teve na universidade. “Sou um aluno mediano. Se não fossem meus amigos para me ajudar a estudar e a tirar minhas dúvidas, não conseguiria nem ser aprovado na faculdade, porque o curso é muito apertado”, diz. A experiência vale até um recado aos colegas: “Temos uma formação muito competitiva”.

Voltar ao centro espacial não está nos planos do jovem, que agora só pensa na monografia. Ele quer desenvolver um programa de computador para avaliar a condição cardíaca da população e, com os dados, avaliar as chances de morte nos anos seguintes. A ideia é aplicar a técnica em hospitais. No futuro, talvez valha mais uma vista, mas para exportação de tecnologia brasileira. Por enquanto, morar definitivamente nos Estados Unidos é uma opção a ser pensada. E bastante. Com modéstia, ele resume a experiência: “O que fiz tanto na Inglaterra quanto na Nasa foi nada demais, apenas o que aprendi em sala de aula.”

Fonte: Junia Oliveira (Estado de Minas) via Portal UAI - Foto: Euler Júnior (EM/DA Press)

Nenhum comentário: