O advogado afirmou que o casal voltava de uma viagem a Caldas Novas, em Goiás, e resolveu continuar até Anápolis, retornando em seguida a Goiânia. No trajeto, agrediu a mulher. Esta versão difere da contata anteriormente por parentes. Na versão inicial, ele teria saído do apartamento do casal, em Goiânia, dizendo que fariam um passeio até Anápolis.
- Não houve discussão alguma. Foi uma coisa repentina - diz o advogado de Érika.
Érika deve prestar depoimento nesta terça-feira. A polícia acredita que ela poderá detalhar as razões do crime. Kléber e a filha Penélope morreram. Por milagre, ninguém se feriu na queda do avião do estacionamento do shopping. Cerca de 10 mil pessoas estavam no local.
O Ministério Pùblico abriu inquérito civil público para investigar os procedimentos de segurança adotados pela Aeronáutica.
O procurador Raphael Perissé afirmou que um obstáculo impediu que Kléber consumasse seu plano, o de jogar a aeronave sobre o shopping. Durante o voo ele falou com um tio da mulher, que é policial, e disse que faria algo ainda pior. "Ele queria se suicidar em grande estilo" disse o promotor.
No Aeroclube de Luziânia, no entorno de Brasília, Kléber ninguém desconfiou de nada. Ele afirmou que queria fazer um voo panorâmico com a filha.
- Ele estava até brincando muito com a filha, ao lado da aeronave. Estava até bastante alegre. Não daria para saber que ele ia fazer esse troço. Ela estava rindo e pulando no colo dele - conta Antônio Pereira dos Anjos, mecânico de aviação.
Kleber queria voar em um monomotor e saber tudo sobre o Tupi, um avião que voa a 200 km/h.
- Ele perguntou se estava o tanque estava cheio e sobre a autonomia de voo. Ele foi bastante esperto - diz José Luiz de Sousa Filha, instrutor de voo.
Kleber perguntou até mesmo como se faz a troca de combustível de um tanque para outro.
- Você voa uma hora, troca para outro tanque. Voa mais duas horas e troca para outro tanque. É para balancear o peso do avião - explica Omar do Espírito Santo, vice-presidente do aeroclube.
Já a bordo do avião Tupi, com a filha, Kleber rendeu o instrutor na cabeceira da pista.
- Ele gritou comigo, segurou a minha mão e colocou alguma coisa no meu pescoço que, para mim, no momento, eu pensei que fosse uma arma - lembra José Luiz.
O comandante Volney Dutra, que está acostumado a viajar em aviões pequenos na região de Goiás, afirmou que Kléber tinha um conhecimento mínimo de aviação. Ele não tinha brevê.
- Uma pessoa sem conhecimento não daria conta de decolar um monomotor desses. Ele deve ter rendido o instrutor quando ele viu que a aeronave estava pronta para decolar. Pronta para decolagem, ele precisa apenas direcionar a aeronave na pista e acionar o motor na mão - diz o comandante Volney.
Depois que o avião ganhou certa altitude, Kleber teve que adotar um outro procedimento de certa complexidade. Apontar para a direção certa, apontar para a proa de Goiânia. E fazer isso, visualmente de cima, não parece ser muito fácil.
- A pessoa tem que conhecer muito bem e ter uma noção básica de navegação aérea para seguir estrada, seguir visual - complementa o comandante.
Um Mirage da Força Aérea Brasileira saiu da base de Anápolis para localizar o monomotor. O radar do Mirrage indicou a posição exata do Tupi, depois foi sobrevoar Brasília. Em seguida, a Aeronáutica mandou um Tucano, também da base de Anápolis, para seguir o Tupi. O Tucano posicionou-se mais atrás e um pouco mais alto, em uma operação chamada de acompanhamento discreto à distância. Os pilotos tentaram contato por rádio e não conseguiram.
O Ministério Público quer saber se o Mirage foi orientado apenas a proteger Brasília, deixando Goiânia em segundo plano.
Em Goiânia, Kleber passou raspando por um prédio por três vezes e começou a fazer uma série de rasantes arriscados sobre a cidade, principalmente sobre o bairro onde ele morava com a mulher e com a filha.
Um vizinho fez imagens pelo celular. O avião passa muito perto do prédio onde ele morava.
Um helicóptero da Polícia Militar de Goiás passou a seguir o Tupi. Um dos tios de Érika, Adão da Mota Correia, que por coincidência é sargento da PM, estava no helicóptero e conseguiu falar com Kleber pelo celular.
- Eu falei assim: 'Cadê a criança?' Ele falou: 'A criancinha está comigo aqui, vou fazer uma besteira'. E aí desligou o celular - conta o sargento.
O delegado Jorge Moreira diz que Kléber é um maníaco. Para o delegado Manoel Borges, que investiga o caso, ele era psicopata.
- Ele é emocionalmente perturbado. Há histórico de que ele alimentava ideias suicidas - diz Borges.
Maria Luísa Nunes Nicola, vizinha de Kleber no bairro onde ele passou a infância e a adolescência, diz que ele tinha ideias suicidas.
- Sempre falava que queria morrer em um avião. Então, nas últimas semanas que ele esteve com a minha filha, falou: 'Você vai muito ouvir falar de mim ainda, quando eu morrer você vai ouvir muito falar de mim - afirma Maria Luísa.
Ela conta ainda que ele elogiou os terroristas do atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
- Ele achou muito bonito. Só que ele achou bonito, não pelas outras vidas, mas pelo piloto, que teve a coragem. Ele falou assim, tipo engraçado, 'Que cara corajoso!' - relembra a vizinha.
Telma Nunes Nicola, amiga de infância de Kléber, diz que ele adorava aviões e bombas.
- Teve uma época que ele começou a fazer bombas caseiras. Aquele fixação por tudo que era perigoso, ele gostava - diz Telma.
Funcionários da locadora do bairro, que não quiseram se identificar, dizem que os filmes preferidos dele eram os da série "Faces da morte", que mostram imagens violentas e acidentes aéreos de todos os tipos.
A polícia de Goiás pediu exames toxicológicos do corpo de Kleber.
Fonte: O Globo - Foto de família/Reprodução