Imagens combinadas de satélite e radar meteorológico, associadas à rota feita pelo avião da Voepass que caiu na sexta-feira (9), mostram que o ATR 72 sobrevoou uma área crítica por oito minutos e 42 segundos, período em que reduziu sua velocidade e enfrentou nuvens carregadas até - 40 °C.
A análise dos dados foi feita pelo pesquisador Humberto Barbosa, coordenador do Lapis (Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite) da Ufal (Universidade Federal de Alagoas). "A reconstituição deixa mais precisa as áreas críticas durante o voo", explica.
Usando as coordenadas geográficas e as informações do clima, ele fez reconstituição, minuto a minuto, das condições na rota do voo. "Ele passou esses quase 10 minutos sob uma condição mais úmida e gelada", diz.
Segundo os dados, o avião entrou no trecho crítico às 13:10:40 e saiu dessa fase às 13:19:18. Nesse período, enfrentou o que chama de água supercongelada, que pode ter virado gelo e aderido à aeronave.
Nesse período, o avião caiu de uma velocidade de 403 km/h para 300 km/h. "Após sair da área, ela ainda recupera velocidade, mas poucos minutos depois começa a ter problema."
Horário que o avião sai da zona crítica a velocidade de 162 nós (300 km/h) (Imagem: Reprodução/Lapis/Ufal) |
Nuvens super frias
O horário do voo sob trecho crítico é pouco antes do avião começar sua trajetória de queda, que culminou no contato com o solo às 13h25 e a consequente morte dos quatro tripulantes e 58 passageiros.
Nesse período crítico, o topo das nuvens da área marcaram uma temperatura mínima de - 40 °C. "Essa reconstituição confirma que ele cruzou área com gelo pouco antes de cair", afirma
Barbosa diz que essa temperatura não chega a ser o maior problema, visto que há trechos que podem ter médias ainda menores. O que chamou sua atenção é a condição de umidade e o contraste que o avião encontraria logo em seguida.
"Era uma área crítica, sim, com formação de gelo, mas algumas imagens mostram que ele já tinha passado outros trechos assim 30 minutos antes", diz.
"O que é destaque é que, quando o avião sai desse trecho, a atmosfera já está bem diferente: a temperatura está - 16 °C, e o avião começa logo a queda. Foi uma região de grande contraste de temperatura e umidade em um intervalo de tempo relativamente curto", disse Humberto Barbosa.
A região do voo do ATR 72 tinha alerta de "gelo severo". Para especialistas, a formação de gelo nas asas pode levar a perda aerodinâmica de um voo e contribuir para um acidente.
No caso do voo da Voepass, não há ainda qualquer conclusão, e as causas da queda estão sendo investigadas pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Outro fator que Barbosa cita é que havia muita turbulência na área, e que o vento estava forte e "na mesma direção do voo, porém na cauda do avião." "No trecho já em São Paulo, em alta altitude, poderia haver rajadas pelo contraste térmico. Gelo e ventos podem ter dificultado a estabilidade da aeronave", sinaliza.
Após analisar os dados disponíveis, ele diz que, do ponto de vista meteorológico, os 15 minutos finais foram de um trecho crítico.
"Talvez por ter sido já na reta final do voo, ele não tinha emitido nenhum pedido de emergência. A caixa-preta, com a gravação de voz da cabine, deve trazer mais informações sobre essas adversidades de tempo", declarou Humberto Barbosa.
Via Carlos Madeiro (UOL)
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