terça-feira, 6 de junho de 2023

Avião usado é opção favorita para substituir o Aerolula

Chegada do Airbus presidencial, apelidado de Aerolula, à Base Aérea de Brasília em 2005
(Foto: Sérgio Lima - 15.jan.2005/Folhapress)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu para trocar de avião, propondo assim o modelo comprado por ele mesmo em seu primeiro mandato, em 2005. Ele já foi a nove países em seis meses de mandato, e prevê ao menos mais sete viagens neste ano.

É mais um fim anunciado da carreira do Aerolula, o executivo Airbus ACJ319 empregado pelos mandatários desde então. Em outras duas ocasiões, nos governos de Dilma Rousseff (PT) e de Michel Temer (MDB), a mudança acabou não ocorrendo por motivos diversos.

Agora, contudo, parece que vai. Lula determinou à FAB (Força Aérea Brasileira) que apresentou opções para a substituição, e pediu um avião maior e com mais autonomia. Os militares têm como plano preferencial comprar um avião com configuração VIP usado.

Os olhos recaem para a versão executiva do Airbus A330. Embora um avião zero quilômetro possa sair por mais de US$ 250 milhões (R$ 1,23 bilhão), por baixo, um aparelho usado pode sair significativamente mais barato —talvez menos que US$ 40 milhões (quase R$ 200 milhões), a depender da barganha.

Além disso, o modelo tem comunalidade com os dois A330 comprados pela FAB no ano passado por US$ 80 milhões (R$ 393 milhões) da Azul, que ainda esperam a conversão final para serem transformados em aviões de reforço aéreo.

Eles são o plano B da FAB para o pedido de Lula, debatido na reunião que o presidente teve com o Alto-Comando da Aeronáutica na quarta passada (31), conforme revelou o UOL. Neste caso, um dos aviões teria de ser totalmente reconfigurado, um processo que ainda não teve o preço estimado, mas que desagradou os militares.

A aeronave, que foi batizada de Santos Dumont em homenagem ao aviador, ganhou o apelido de AeroLula e custou US$ 56,7 milhões aos cofres públicos. Sua compra à época foi alvo de duras críticas, principalmente por parte da oposição ao governo no Congresso (Foto: Rogério Cassimiro - 19.jan.2005/Folhapress)
Isso porque a instalação de uma suíte com chuveiro, sala de reuniões e todo o sistema de comunicação e internet do modelo o deixaria em solo por até dois meses, e a FAB tem usado com frequência os dois A330 em missões.

O Planalto diz que não há decisão sobre o novo avião, mas discordou que o assunto tenha sido tema no encontro de Lula com os brigadeiros, o que não é verdade segundo presentes ao encontro.

A compra dos A330 não foi sem debate, dado que ocorreu no mesmo momento em que a Força acompanhou sua encomenda de aviões de transporte e reabastecimento Embraer KC-390, de 28 para 19 unidades. O então comando da FAB alegou que as missões das aeronaves são distintas, dada a capacidade e autonomia do A330.

Isso é o cerne das queixas com o Aerolula desde sua compra. O ACJ319 novo, adquirido por US$ 56,5 milhões à época (US$ 88 milhões em valores deflacionados hoje, ou R$ 433 milhões), é todo equipado para uma viagem confortável para até 39 passageiros — mas tem alcance limitado a 8.500 km.

O A300 foi o primeiro avião da Airbus e também a primeira aeronave de fuselagem larga com dois motores (naquela época, esse tipo de avião costumava ter quatro). Seu nome era formado pela inicial da fabricante e a capacidade máxima de passageiros segundo o projeto original, depois reduzida para 266 em esquema de duas classes. Ele entrou em operação em 1974, com a Air France, e foi produzido até 2007 (Foto: Divulgação/Airbus)
Com isso, toda viagem para destinos mais distantes na Europa obriga uma parada, em Cabo Verde ou Portugal. Missões mais distantes obrigatoriamente demandam duas escalas, como foi o caso das viagens de Lula à China e ao Japão.

Lula queixou-se do cansaço, assim como a primeira-dama, Janja da Silva. O A330 na configuração atual da FAB voa até 12.500 km, e um modelo VIP A330-200 chega a 13.300 km. Isso lhe dá autonomia para viagens intercontinentais sem escala e com apenas uma parada para destinos longíquos na Ásia ou Oceania.

O petista parece disposto, segundo militar a par das conversas , a absorver o ônus político da aquisição, mesmo em meio ao debate sobre a austeridade dos gastos subsidiados. Foi isso que derrubou a compra, na forma de um avião de uso misto militar e VIP, por Dilma — um processo iniciado por Lula quando a petista estava eleita, em 2010, mas abortado.

No caso de Temer, pesou o fato de que o avião de transporte a ele oferecido , um Boeing-767 alugado por três anos em 2017, não tinha as comodidades do Aerolula.

De uma forma ou de outra, o novo avião presidencial implica necessariamente gastos com operações maiores. Enquanto o consumo médio do Aerolula seja de 2.800 kg de combustível por hora, o valor quase dobra com o A330 — aí considerando estimativas bem rudimentares, pois cada voo segue parâmetros diferentes.

Em 2005, Lula também foi criticado por não comprar modelos brasileiros da Embraer, respondendo então que eles tinham baixa autonomia — dois E-190 são usados ​​em voos domésticos ou na América Latina. Ironicamente, esse é o epitáfio do Aerolula agora.

Aviões presidenciais são sempre objeto de controvérsia, como a venda do Boeing-787 pelo mexicano Andrés Manuel López Obrador mostra. A defesa deles é mais ou menos intencionalmente: os chefes de Estado precisam de privacidade e segurança adicional em seus deslocamentos. No fim do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a opção por resistentes aluguéis de aeronaves por voo foi colocada na mesa, mas considerada antieconômica e pouco prática pelos militares.

Até a introdução da Aerolula, os aviões principais eram os chamados sucatões, modelos 707 de 1968 convertidos para uso de autoridades em 1986. Barulhentos e beberrões, eram motivo de piada diplomática e, em 1999, um deles quase protagonizou um acidente com então vice Marco Maciel a bordo.

O transporte de autoridades é de responsabilidade do Grupo de Transporte Especial da FAB, que opera o ACJ319, os dois E-190 e ao menos seis modelos menores da Embraer (ERJ-145, ERJ-135 e Legacy 600), além de helicópteros.

Via Igor Gielow (Folha de S.Paulo)

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