quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Maior e mais caro telescópio espacial, Observatório James Webb decolará depois de 25 anos e tentará enxergar primeiras galáxias do universo


O Telescópio Espacial James Webb, o maior, mais poderoso e mais caro já produzido, está empacotado em seu foguete e deve decolar neste sábado, às 9h20 (hora de Brasília), rumo ao espaço. A missão considerada sucessora do Telescópio Espacial Hubble parte da base aérea de Kourou, na Guiana Francesa. Se tudo der certo, o novo observatório chega em duas semanas ao local onde ficará orbitando o Sol, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra.

Foguete Ariane 5 é preparado para lançamento no centro espacial de Kourou, na Guiana Francesa (Foto: ESA)
O projeto, que levou 25 anos da concepção ao lançamento, custou cerca de US$ 10 bilhões às agências espaciais americana (Nasa) e europeia (ESA) e gera um imenso entusiasmo na comunidade astronômica. Com um espelho coletor de luz de 6,5 metros (o triplo do Hubble), astrônomos esperam conseguir ver as primeiras galáxias formadas no universo e responder a questões importantes da cosmologia.


A alegria pela antecipação do que pode ser descoberto, porém, está em par com o clima de tensão entre os cientistas, porque o James Webb é também uma das missões mais complexas já conduzidas pela Nasa e seus parceiros. Tudo precisa dar certo porque, se o telescópio apresentar problemas, estará longe demais para que astronautas possam ir consertá-lo (tal qual aconteceu com o Hubble).

O projeto foi um desafio de engenharia do começo ao fim, porque mesmo o maior foguete disponível para lançar o telescópio, o gigante francês Ariane 5, não era capaz de acomodá-lo. A solução foi criar um telescópio que se dobra como um origami dentro de um envelope e depois se desdobra quando chega ao espaço e sai de sua cápsula. E o sistema que opera esse processo é extremamente complexo, com 344 diversos mecanismos envolvendo chips eletrônicos, motores, cabos, roldanas e dobradiças.

— Há muitas maneiras de se medir complexidade, e uma delas é contar a quantidade de pontos críticos que precisam funcionar. Se olharmos por essa métrica, posicionar e preparar o James Webb é uma missão três vezes mais complexa do que pousar um jipe-robô em Marte — afirmou nesta terça-feira Thomas Zurbuchen, diretor de missões científicas do QG da Nasa, em entrevista coletiva.

— De qualquer forma, todas as partes que estão sendo usadas foram testadas, o que nos dá a confiança. Por isso, estamos dormindo tranquilos — completou.

Poucos projetos da Nasa tiveram tantos adiamentos quanto o James Webb, que parou diversas vezes desde sua concepção há 25 anos. Para seguir adiante, a missão teve que esperar o desenvolvimento de novas tecnologias, redesenhar componentes críticos e negociar estouros de orçamento.

Imagem de 2017 de montagem do telescópio James Webb
Após outro atraso devido ao clima, a NASA está planejando agora para 25 de dezembro de 2021 o lançamento do telescópio James Webb.

O maior e mais poderoso telescópio espacial do mundo deveria ser lançado na véspera de Natal, mas a NASA disse em 22 de dezembro de 2021 que as condições climáticas adversas atrasaram o lançamento em um dia.

“Uma janela de lançamento de 32 minutos abre às 7h20 EST em Kourou, Guiana Francesa,” NASA, a Agência Espacial Europeia e Arianespace anunciaram.

O telescópio Webb, 100 vezes mais poderoso do que o telescópio Hubble, será lançado em um foguete Ariane 5 do espaçoporto europeu.

Até a semana passada, ainda havia falha em um sistema que ameaçava parar a atual contagem regressiva para o lançamento. Na entrevista coletiva de terça, porém, Greg Robinson, diretor de projeto do James Webb, disse que a decolagem está com o sinal verde.

— O problema é um déficit pequeno de telemetria (transmissão de dados). Não nos impede de prosseguir porque não é um defeito no sistema de voo do foguete ou no observatório em si. É no equipamento de apoio terrestre — disse o cientista.

O processo de desdobrar o telescópio e conduzi-lo até seu ponto de órbita deve demorar cerca de um mês. Depois disso, cientistas ainda devem passar mais cinco meses testando e calibrando todos os componentes do James Webb, que além de câmeras de última geração incluem espectrômetros, ferramentas capazes de separar a luz em diferentes comprimentos de ondas e analisar a composição química de estrelas e planetas.


Com tudo pronto, os cientistas já têm alguns pontos no céu para onde querem apontar o telescópio. Um deles, um dos mais aguardados, é uma região conhecida como Campo Ultraprofundo de Hubble, porque foi fotografada pelo telescópio antecessor do James Webb. Nessa zona escura, é possível tentar enxergar muito longe no cosmo, o que significa que os astrônomos podem olhar também para o passado.

Buscando vida no cosmo


Como o cosmo tem 13,8 bilhões de anos de idade, ao olhar para as maiores distâncias os cientistas esperam ver galáxias que se formaram quando o universo tinha apenas 100 milhões de anos, algo essencial para entender sua evolução. Astrofísicos acreditam que as primeiras estrelas a existirem, compostas só de hidrogênio e hélio, eram muito diferentes do Sol e outras estrelas atuais, e os cientistas esperam captar também algo da luz desses astros, hoje extintos.

— Vamos olhar para alguns desses campos profundos já bem estudados, mas também para planetas em sistemas estelares próximos ao nosso, que estão em zonas de temperatura habitáveis — afirmou Amber Straughn, outra cientista envolvida no projeto.

Um dos alvos é a estrela Trappist-1, na constelação do Aquário, com sete planetas ao seu redor, um sistema visto como candidato a abrigar vida. A ideia é analisar a atmosfera de alguns desses astros e entender sua real condição de habitabilidade.

A lista de desejos dos cientistas, porém, só começará a ser realizada se a missão de lançamento e posicionamento do telescópio der certo.

— Nós sempre soubemos que esse projeto seria uma empreitada arriscada, mas quando se busca uma grande recompensa é preciso enfrentar também um grande risco — disse o administrador da Nasa, Bill Nelson.


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Via O Globo / ESA / UOL / NASA

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