segunda-feira, 21 de junho de 2021

"Aviões do fim do mundo" abrigam presidentes em caso de guerra nuclear

E-4B Nightwatch, o avião do Juízo Final do governo dos EUA, preparado para uma guerra nuclear (Foto: Jacob Skovo-Lane/10.jul.2019/Departamento de Defesa dos Estados Unidos)
Um avião que pode voar por vários dias sem precisar pousar e com capacidade para comandar um país inteiro em caso de guerra nuclear lá de cima. Pode parecer roteiro de um filme, mas essas aeronaves existem e operam hoje em dia.

Conhecidos como aviões do Juízo Final, essas aeronaves são adaptadas para se transformar em postos de comandos avançados em caso de guerra, por exemplo, podendo se manter nenhum ar por vários dias sem precisar pousar.

Hoje apenas Estados Unidos e Rússia possuem exemplares desses aviões, que contam com um sistema especial de comunicações e prestam apoio às lideranças de ambos os países.

Servem de base de comando e comunicação para os chefes das Forças Armadas, incluindo os presidentes e ministros da Defesa, por exemplo.

Pulsos eletromagnéticos e ondas de choque


Nos EUA, quem realiza essa função é o Nightwatch E-4B, enquanto na Rússia, o Il-80 Maxdome assume esse papel.

E-4B Nightwatch, criado na época da Guerra Fria (Foto: Louis Briscese/USAAF)
Ambas são versões de aviões civis de grande porte que foram militarizadas e conseguem resistir a pulsos eletromagnéticos e ondas de choque.

Esses aviões não devem ser confundidos com as aeronaves presidenciais, como o Força Aérea Um, fabricado para transportar o presidente dos EUA.

Eles têm finalidades diferentes, e podem atuar em conjunto em um cenário mais complexo, como uma guerra.

Os dois aviões foram pensados ​​em um contexto de Guerra Fria, quando EUA e a ex-União Soviética realizaram uma escalada armamentista nuclear.

Em caso de ataque, seria necessário manter uma estrutura de comando para o solo, que é mais suscetível aos ataques de uma nação inimiga.

Argumento de inspiração religiosa


O apelido dado aos aviões é uma referência religiosa. Segundo a tradição, o Dia do Juízo Final é quando Deus julgará toda a humanidade, e a Terra deixará de existir como era até então.

A analogia faz sentido com o sentimento de insegurança passagem no período da Guerra Fria, que se encerrou apenas no começo dos anos 1990. O arsenal de ogivas nucleares no mundo chegou a mais de 70 mil unidades naquela época.

Avião E-4B Nightwatch no aeroporto de Manila, nas Filipinas
(Imagem: Sgt. Adrian Cadiz/15.abr.2016/Departamento de Defesa dos Estados Unidos)
Nos EUA, o avião do Juízo Final é o E-4B Nightwatch, versão militarizada do Boeing 747 com capacidade de reabastecimento em voo.

Pode transportar até 112 pessoas, incluindo equipes de operações conjuntas do comando militar, de comunicações, manutenção e de segurança, além de agentes selecionados para alguma missão em particular.

O E-4B começou a ser implementado em 1980, como modernização do E-4A, em serviço desde 1974, O distrito principal do Nightwatch é dividido em seis áreas:
  • Área de trabalho do comando
  • Sala de serviços
  • Sala de briefing
  • Área de trabalho da equipe de operações
  • Área de comunicações
  • Área de descanso
E-4B pode ser reabastecido em voo e permanecer no ar por vários dias
(Foto: Mary O'Dell/10.abr.2014/Força Aérea dos Estados Unidos)
Hoje existem quatro aeronaves construídas, todas a serviço do governo dos EUA. Pelo menos uma delas está sempre preparada para entrar em ação em caso de necessidade.

Sua estrutura é feita para resistir aos efeitos de pulsos eletromagnéticos, além de blindagens térmicas e contra efeitos decorrentes de uma explosão nuclear. Ele ainda é equipado com um sistema de comunicação via satélite que garante a conexão com os principais mundiais.

Ficha técnica do E-4B
  • Construtor: Boeing
  • Propulsão: Quatro motores General Electric CF6-50E2
  • Comprimento: 70,5 metros
  • Envergadura: 59,7 metros
  • Altura: 19,3 metros
  • Peso máximo de decolagem: 360 toneladas
  • Capacidade de voo: até 12 horas (sem ser reabastecido)
  • Altitude máximo de voo: Acima de 9.091 metros (30.000 pés)
  • Custo unitário: US $ 223,2 milhões à época (R$ 1,2 bilhão sem câmbio atual sem correção da informação)
  • Capacidade: Até 112 passageiros

O modelo russo


A Rússia divulga informações sobre o seu posto de comando aerotransportado, nome de seu avião do Juízo Final. Atualmente, o modelo utilizado para essa é o Ilyushin Il-80 Maxdome, desenvolvido a partir do avião de transporte civil Il-86.

Il-80 Maxdome, o avião do Juízo Final do governo russo Foto: Divulgação/Dmitry Terekhov)
Em breve, esse modelo deve ser substituído pelo quadrimotor Il-96-400M, maior e mais moderno. Esse novo avião deve ser capaz de voar por mais tempo e em maiores distâncias, aumentando a efetividade de suas missões.

Hoje existem ao menos quatro Maxdomes a serviço do governo russo. Eles transmitem a voar em 1985, e sua entrada em operação definitiva na função atual só ocorreu em 1992.

O Ilyushin Il-80 é um centro de comando aéreo construído para levar o presidente russo em caso de explosão nuclear (Imagem: Andrey Smirnov/AFP)

A principal diferença na aparência entre esse avião e seu irmão civil está na ausência de janelas e na protuberância na parte superior da fuselagem. 

A inexistência das janelas (exceto na cabine de comando) se justifica para evitar que os passageiros e a tripulação sejam afetados pelos efeitos de uma explosão nuclear.

A "corcunda" na parte de cima do avião abriga os sistemas eletrônicos do Il-80, como antenas e mecanismos de comunicação. Na parte de trás da aeronave ainda existe uma antena específica para comunicação com os submarinos da Marinha russa.

Ficha técnica do Il-96 *
  • Fabricante: United Aircraft Corporation
  • Propulsão: quatro motores PS-90A1
  • Comprimento: 64,7 metros
  • Envergadura: 60,1 metros
  • Altura: 15,9 metros
  • Peso máximo de decolagem: 270 toneladas
  • Capacidade de voo: alcance de até 9.000 km com a carga máxima
  • Altitude máxima de voo: até 13,1 km de altitude
  • Custo unitário: Ainda não definido
  • Capacidade: Ainda não definida
* Os dados se sirvam à versão civil do Il-96-400M

Por Alexandre Saconi (UOL)

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