Engenheiros da Universidade de Purdue estão testando um protótipo de refrigerador para que a comida dos astronautas tenha mais qualidade em missões futuras. A pesquisa tem o apoio técnico das empresas Whirpool Corporation, fabricante de eletrodomésticos; e Air Squared Inc., que fabrica compressores e outros componentes do tipo, bem como envolvimento da Nasa.
Tradicionalmente, limitações técnicas impedem que um refrigerador seja levado nas missões ao espaço. Por isso, a comida dos astronautas é enlatada e seca, com uma vida útil de mais ou menos três anos, mas sem muita variedade ou sabor. Os engenheiros, porém, estão usando microgravidade para criar um sistema que pode conservar alimentos por até seis anos.
Três testes foram conduzidos ao longo deste mês de maio, avaliando o design de um refrigerador especialmente projetado e acoplado em um avião especial, que por sua vez realizou 30 voos em microgravidade – com cada voo durando em torno de 20 segundos.
Segundo os dados coletados até agora, a experiência parece ser promissora: o refrigerador funcionou normalmente, dentro do esperado, tanto em terra firme como na microgravidade.
Mais além, os engenheiros determinaram que não há aumento no risco de vazamento de líquidos no aparelho – esse tipo de problema poderia danificar o refrigerador, ou mesmo inutilizá-lo permanentemente.
“Nós queremos atingir um ciclo de refrigeração que seja resistente à gravidade zero e funcione dentro das especificações normais”, disse Eckhard Groll, professor e chefe da Escola de Engenharia Médica da Universidade de Purdue. “Nossas análises preliminares mostram claramente que o nosso design permite que a gravidade tenha menos impacto neste ciclo”.
Na prática, o funcionamento do refrigerador no espaço é exatamente o mesmo que ele teria aqui na Terra: resfriar e conservar a comida dentro dele por meio de um ciclo de compressão de vapor ou gás frio (no caso, freon). O problema é que o design de refrigeradores comuns depende de lubrificação a óleo para que o compressor funcione.
Líquidos, como todo o resto das coisas, não se movem em ambientes de zero gravidade. Logo, simplesmente enfiar uma geladeira em uma cápsula não funcionaria.
O protótipo da AirSquare não usa óleo lubrificante, teoricamente eliminando esse problema. E ao invés do gás, ele bombeia pelo “circuito” um líquido refrigerado a uma velocidade acelerada, reduzindo os efeitos da gravidade.
Também ajuda o fato de o aparelho ter mais ou menos o tamanho de um microondas, o que facilita seu posicionamento dentro das prateleiras da Estação Espacial Internacional (ISS), que contam com um sistema exclusivo de acomodações de aparelhos, chamado “EXPRESS Racks”.
“O fato de que os ciclos de refrigeração operaram continuamente em microgravidade indicam que o nosso design é um ótimo começo”, disse Leon Brendel, candidato ao Ph.D em engenharia mecânica pela Universidade de Purdue.
“Nossas primeiras impressões são as de que a microgravidade não altera o ciclo de forma evidente, quando testamos seu efeito no refrigerador no solo, girando-o e inclinando-o”, afirma.
“Flutuar por aí com esses experimentos é parecido com o ato de nadar, só que você não tem resistência ao seu redor e, ao mesmo tempo, ainda precisa trabalhar para obter os dados que precisa”, disse Paige Beck, graduanda em Engenharia Mecânica pela mesmoa universidade. “Foi divertido, mas tive que me policiar para não me deixar levar”.
Segundo ela contou, sua parte no estudo envolvia ficar parada e estabilizada em alguns lugares específicos e gravar suas ações em um microfone – “ficar parado” é uma tarefa simples para nós, reles seres presos pela gravidade da Terra, mas no espaço, onde ela não existe, isso é um processo meio complicado.
Os engenheiros ainda vão testar o refrigerador por mais algumas semanas, e não foi informado se próximos testes envolveriam um voo real, com comida armazenada e astronautas operando o eletrodoméstico.
Via Olhar Digital
Nenhum comentário:
Postar um comentário