quinta-feira, 31 de julho de 2025

Hoje na História: 31 de julho de 1943 - O dia em que a Força Aérea Brasileira afundou o submarino alemão U-199


No dia 31 de julho de 1943, o submarino alemão U-199 navegava na costa de Cabo Frio em sua caçada sinistra por novas presas. 
O Lobo Cinzento (como era conhecido, pois o mesmo era pintado no estilo camuflado, nas cores cinza-claro, marrom e azul cobalto, tendo, na sua torre, o desenho de uma embarcação viking) partiu de Kiel em 13 de maio de 1943, chegando à sua área de patrulhamento, ao sul do Rio de Janeiro, em 18 de junho do mesmo ano.

Os submarinos do tipo IXD2 (very long-range) da 12º flotilha – Bordeaux – começaram a operar em novembro de 1942. Considerados, na época, como de última geração, eram capazes de executar patrulhas de ataque em regiões afastadas do Atlântico Sul.

Em suas longas jornadas, eram abastecidos em alto mar por unidades submarinas de apoio, chamadas vacas leiteiras, estendendo assim, ainda mais, sua grande autonomia de 44.000 km. Deslocavam 1.600 ton, atingindo, na superfície, a velocidade de 20,8 nós e, submerso, chegavam a 6.9 nós.

Como armamento de convés, tinham um canhão naval de 105 mm, dois canhões antiaéreos – de 37 e 20 mm – e duas metralhadoras pesadas. Podiam operar com 24 torpedos e 44 minas. A tripulação era de 61 homens.

Seu comandante, o Kapitänleutnant (capitão-tenente) Hans-Werner Kraus, de 28 anos. A missão, ao lado de outros submersíveis do Eixo, era interromper o fluxo de navios mercantes que transportavam produtos brasileiros para o esforço de guerra aliado.

Desde sua chegada até o dia 31 de julho, o U-199 já havia afundado ou seriamente danificado os cargueiros Charles Willson Peale, norte-americano (27 de junho) e o inglês Henzada (24 de julho).

No dia 03 de julho, durante a noite, fora atacado e abateu um hidroavião PBM 3 Martin Mariner do VP-74, de um esquadrão americano baseado na Base Aérea do Galeão, comandado pelo Tenente Harold Carey. Toda a tripulação pereceu.

Na tarde de 22 de julho, em um ato de extrema covardia, o submarino atacou e afundou a tiros de canhão o pequeno barco de pesca brasileiro Shangri-lá, matando seus 10 tripulantes.

Na manhã de 31 de julho, navegando na superfície, o Lobo Cinzento avistou um avião ainda distante e o comandante Kraus, na torre, comandou força total à frente e mudança de rota.

Os aviões atacantes

O PBY-5 Catalina Arará

No dia 28 de agosto 1943 foi realizada no aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro, a solenidade de batismo do avião anfíbio PBY-5 Catalina, nomeado de Arará e adquirido por subscrição do povo do Rio de Janeiro para a Aeronáutica.

Antes de ser batizado com o nome de Arará o avião já havia afundado um dos corsários do eixo nas proximidades do litoral do Brasil e o perfil do navio estava pintado em sua carlinga.

PBY-5 Catalina Arará
O Catalina foi batizado com o nome de Arará , em homenagem aos tripulantes do navio de mesmo nome que foi afundado em 17.08.1942 pelo U-507 na costa da Bahia, enquanto tentava resgatar os marinheiros do navio brasileiro Itagiba, torpedeado horas antes no mesmo local pelo mesmo submarino.

Sua tripulação durante a operação de ataque ao U-199 consistia: Piloto, Primeiro-Tenente-Aviador Luís Gomes Ribeiro; Copilotos, Segundo-Tenente-Aviador José Carlos de Miranda Correia e Aspirante-Aviador Alberto Martins Torres (pilotava o avião na hora do ataque); Observador, Capitão-Aviador José Mendes Coutinho Marques (antigo aviador naval); Sargentos Sebastião Domingues, Gilson Albernaz Muniz, Manuel Catafino dos Santos; Cabo Raimundo Henrique de Freitas. Soldado Enísio Silva.

No dia do ataque ao U-199 (31.07.1943) o plano de voo original do PBY-5 Catalina da FAB era fazer a cobertura aérea da saída da Baía de Guanabara até o Cabo Frio para o comboio JT-3 (Rio de Janeiro até Trinidad).

PBM Mariner P-7

PBM-3C Mariner do VP-211 saindo pela barra da baia da Guanabara
Varrendo a frente do comboio, do sul para o norte, paralelamente à rota do comboio JT-3, estava o avião brasileiro PBM Mariner P-7 do esquadrão VP-74 de Aratu (Natal, RN), mas com a esquadrilha deslocada para o Rio de Janeiro. Ele iniciava a operação de varredura das proximidades da Baía de Guanabara, comandado pelo capitão-tenente William F. Smith, quando captou um contato pelo radar, indicando um objeto a 19 milhas de distância.

O Lockheed A-28 Hudson

Lockheed A-28 Hudson tinha como tripulação o Comandado Piloto Capitão-Aviador Almir dos Santos; o Copiloto, Policarpo. Tenente-aviador Sérgio Cândido, Schnoor e os Tripulantes Sargentos João Antônio do Nascimento e Manuel Gomes de Medeiros Filho.

A estratégia de ataque anti submarino dos aviões

A estratégia mais eficiente durante a Segunda Grande Guerra para destruir os submarinos era a utilização de aviões bombardeios. O objetivo dos aviões era em um mergulho rápido, passar sobre o submarino na diagonal. O lançamento de bombas espaçadas deixava cargas explosivas dos dois lados do casco. A tática trazia vantagens, pois escondia algumas das armas de defesa antiaérea dos U-boats atrás da torre.

Além disso, as poderosas bombas MK 44, MK 47, quando explodiam dos dois lados do casco, produziam uma forte torção da embarcação, que facilitava a sua ruptura, além de empenar profundores, eixos, hélices e lemes; o que prejudicava muito a manobrabilidade e capacidade de submersão dos submarinos.

O ataque ao U-199

Iniciava-se o dia 31 de julho de 1943 e uma das últimas ações da guerra submarina em nosso litoral estava prestes a começar.

Partindo do Rio de Janeiro o comboio JT-3 receberia cobertura aérea de dois esquadrões. O esquadrão VP-74 de Aratu, composto por PBMs Mariner, mas deslocado para o Rio de Janeiro, deveria executar a varredura a frente do comboio até o nordeste brasileiro. Apoiando essas operações, o PBY Catalina Arará, do esquadrão do Rio de Janeiro, patrulhava as proximidades da Baía de Guanabara.

O PBY Catalina e o BPM Mariner decolaram da base aérea do Galeão, Rio de janeiro, para cumprir suas respectivas funções na cobertura do comboio

Pouco depois das 7 horas da manhã; o Mariner 74 P-7, que voava a 4.000 pés, captou pelo radar um contacto, a 19 milhas ao sul da Baía de Guanabara, navegando na superfície a 5 nós.

A aeronave seguiu direto para o alvo, a 15 milhas o Mariner pode divisar na superfície agitada uma fina esteira e, finalmente a 5 milhas o U-Boat foi identificado.

O U-199 apresentava uma camuflagem com tons cinza e marrom no casco e, a base da torre de comando e a popa, apresentavam faixas sinuosas brancas semelhantes às ondas no mar.

Rapidamente a tripulação comunicou por rádio ao comando aéreo as coordenadas de 23º 54' S e 042º 54' W (Em frente à Praia de Maricá, RJ.) e iniciou o ataque.

O alarme foi imediatamente atendido pelo Grupo de Bombardeio-médio da FAB no Rio de Janeiro Da base do galeão decolaram dois Mariners, o P-4 primeiro a partir, não foi capaz de localizar o U-199, devido a um erro na localização passada pelo P-7. o Mariner P-2 chegaria no final da ação.

Um Lockheed A-28 Hudson, pilotado pelo Tenente Sérgio Schnoor, com o objetivo de completar o ataque ao U-Boat. Ele iria se juntar ao PBY Catalina (Arará), que já estava no ar em missão de patrulhamento ao norte de Cabo Frio, sob o comando do Capitão Coutinho Marques. As duas aeronaves alcançaram o submarino com 10 minutos de diferença, executando uma ação coordenada.

A cerca de uma milha de distância do ponto, o Mariner embicou em direção ao submarino, já com as portas do compartimento de bombas abertas, objetivando passar na diagonal. Esse ataque permitia maximizar o efeito das bombas e esconder algumas das armas antiaéreas do convés. A partir daí as armas do convés começaram a disparar.

As antiaéreas do U-199 começam a disparar e o avião Mariner responde ao fogo

Segundo a tripulação do Mariner no tombadilho havia: um canhão à vante e um à ré, que parecia ser um obuseiro. Ambos foram empregados durante a aproximação do Mariner e as granadas explodiram entre 100 e 400 pés da fuselagem, sacudindo fortemente o avião. Da torre de comando duas metralhadoras calibre 30 mm., abriram fogo acertando 3 tiros no motor esquerdo. Entre a torre de comando e o canhão de ré, outras duas metralhadoras, possivelmente de 20 mm. procuravam criar uma barreira á aproximação do avião.

A configuração de armas do U-199 é pouco usual para o final da guerra, pois os canhões já haviam sido substituídos por montagens quádruplas de metralhadoras, já que os U-Boats não encontravam mais espaço para ataques da superfície. Porém, essa configuração podia ser alterada pelos capitães.

Durante o mergulho, o Mariner fez uma série de manobras para evitar o pesado fogo antiaéreo e também revidou os tiros do U-199, utilizando seus canhões de proa e disparando mais de 1.200 cartuchos.

Na aproximação final, o Mariner desceu à altitude de 75 pés (23 metros), mesmo sob pesado fogo inimigo. O U-Boat alterou seu curso para apresentar seu través.

O Mariner lançou a bombordo seis bombas MK-47, espaçadas por 65 pés (20 metros), que caíram à frente da torre de comando.

Explosão das primeiras bombas junto ao casco do submarino

Segundo o atirador de cauda, que também disparava suas armas, quatro bombas explodiram próximas ao costado de bombordo. Uma grande nuvem de água encobriu o U-199.

O Mariner fez uma agressiva curva à esquerda, desfechando um segundo ataque pela proa, ao longo do eixo do submarino. As duas bombas restantes foram lançadas de forma certeira a menos de 40 pés (12 metros).

O U-199 começou a emitir forte fumaça negra, deixando uma trilha de óleo na superfície e passou a navegar em círculos, com a popa mergulhada. O primeiro ataque aparentemente conseguiu provocar avarias no casco, lemes e profundores o que dificultou a imersão. Assim, as guarnições continuavam no convés mantendo o bloqueio aéreo.

Sem outras bombas o capitão-tenente Smith, informou pelo rádio que havia atacado um submarino nazista, mas devido ao intenso fogo de seus canhões e das metralhadoras antiaéreas não conseguiu destruí-lo, mas que permaneceria sobrevoando a área, já que o U-Boat, aparentemente muito avariado, não poderia mais mergulhar.

Já sem bombas, o Mariner circula sobre o U-199, incapaz de mergulhar
Quinze minutos depois do ataque, o U-Boat tentou navegar em direção ao norte. O comandante Kraus procurava águas mais rasas (135 metros), a fim de pousar o submarino do fundo, se protegendo do ataque de outros aviões, enquanto providenciava os reparos necessários a sua fuga.

Todas as vezes que o Mariner P-7 se aproximava em mergulho, o submarino alterava seu curso como forma de defesa.

Às 8 horas e 40 minutos o convés foi rapidamente esvaziado e o submarino tentou submergir. A tentativa foi inútil, o U-199 submergiu completamente, porém voltou à tona rapidamente. O U-Boat parecia sem controle, com dificuldade de permanecer na tona e com a popa completamente inundada.

Na superfície, reiniciou a navegação para o norte e a tripulação retornou ao convés, guarnecendo novamente as armas antiaéreas.

O submarino ainda navegou até 9 horas no rumo norte; o ponto do ataque final. Era a Latitude de 23° 47' sul e Longitude de 42° 57' oeste (37 milhas a sul do litoral de Maricá), pouco menos de oito milhas do ponto do primeiro ataque; nesse trajeto, deixou um grande rastro de óleo.

U-199 avariado, navegando em círculos e deixando uma esteira de óleo
Com a chegada do A-28 Hudson do Tenente Schnoor, o Mariner americano manobrou para atrair o fogo do U-Boat. Com isso, o Hudson executou seu ataque, cruzando a proa do submarino e de cerca de 300 pés (100 metros), lançou 2 bombas MK-47 que explodiram a 30 metros do alvo.

Menos de 10 minutos depois chegou a área de combate o PBY Catalina, do Capitão Coutinho. O piloto, poucos dias antes, havia concluído o estágio de treinamento na base da Esquadrilha VP-74, em Aratu, era literalmente seu teste de fogo. Embora a barreira antiaérea continuasse, Coutinho conduziu o Arará para seu primeiro mergulho, atirando contra o submarino e lançando 3 bombas MK-44, que caíram na lateral da aleta de bombordo, fazendo com que o submarino rolasse violentamente para frente e para trás. O Catalina ganhou altura e executou outro mergulho, lançando a terceira bomba que restava. Ela explodiu diretamente sobre a popa do U-199, desfechando o golpe final.


Segundo alguns autores, um terceiro Mariner brasileiro, comandado pelo Tenente Estore Pires, chegou à área da batalha pouco depois, mas sua participação no combate não é clara.

Às 9 horas e 2 minutos, uma hora e quarenta e cinco minutos após o primeiro ataque do Mariner P-2 o U-199 agonizava, a água já atingia a base das armas de convés, diversos tripulantes foram jogados ao mar pela explosão na popa e agora se debatiam no mar agitado.

O comandante Kraus, vendo que não havia esperança, ordenou o abandono do U-199, vários tripulantes saíram pela escotilha da torre e os que estavam sobre o tombadilho atiraram-se ao mar. O afundamento definitivo não demorou mais de três minutos e segundo os tripulantes do Arará ocorreu a 87 km ao sul do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro.

Foi o fim do Lobo Cinzento, primeiro submarino do tipo IXD2 a ser afundado na 2ª Guerra Mundial 

Posição do ataque final ao U-199

Após o naufrágio do U-199


Ambos os aviões lançaram balsas, depois que o submarino desapareceu e permaneceram circulando a área, até serem substituídos por outro avião dos Estados Unidos, que orientou e auxiliou o destreoier USS Barnegat a recolher 12 sobreviventes, inclusive o comandante do U-199, Werner Kraus. O USS Barnegat, também havia recolhido os tripulantes do U-513 afundado ao largo de Santa Catarina em 19 de julho de 1943.

Resgate dos sobreviventes do submarino afundado
Todos alemães foram levados inicialmente para um campo de concentração em Pernambuco - o único existente no Brasil e logo após foram transferidos para os Estados Unidos, onde foram interrogados e permaneceram presos em um campo de concentração, provavelmente no Arizona, até o final da guerra.

Comandante Alberto Martins Torres


O comandante do Arará, Alberto Martins Torres, foi o único brasileiro reconhecido como responsável por um afundamento de submarino alemão. Pelo feito recebeu nos EUA, a medalha Distinguished Flying. No início de 1944 deixou o 1º Grupo de Patrulha, sendo engajado como voluntário para servir no 1º Grupo de Caça (Senta a Pua), seguindo para o teatro de operações da Itália, onde realizou 99 missões de ataque.

Alberto Martins Torres, em seu livro "Overnight Tapachula" (1985, Ed. Revista de Aeronáutica) descreveu o ataque:

“Já a uns 300 metros de altitude e a menos de um quilômetro do submarino podíamos ver nitidamente as suas peças de artilharia e o traçado poligônico de sua camuflagem que variava do cinza claro ao azul cobalto…Percebi uma única chama alaranjada da peça do convés de vante, e, por isso, efetuei alguma ação evasiva até atingir uns cem metros de altitude, quando o avião foi estabilizado para permitir o perfeito lançamento das bombas. Com todas as metralhadoras atirando nos últimos duzentos metros, frente a frente com o objetivo, soltamos a fieira de cargas de profundidade pouco à proa do submarino. Elas detonaram no momento exato em que o U-199 passava sobre as três, uma na proa, uma a meia-nau e outra na popa. A proa do submersível foi lançada fora d’água e, ali mesmo ele parou, dentro dos três círculos de espuma branca deixadas pelas explosões…Em seguida, nós abaixáramos para pouco menos de 50 metros e, colados n’água para menor risco da eventual reação da antiaérea, iniciamos a curva de retorno para a última carga que foi lançada perto da popa do submarino que já então afundava lentamente, parado. Nesta passagem já começavam a saltar de bordo alguns tripulantes…Em poucos segundos o submarino afundou, permanecendo alguns dos seus tripulantes nadando no mar agitado. Atiramos um barco inflável e o PBM, lançou dois. Assistimos aos sobreviventes embarcarem nos três botes de borracha, presos entre si, em comboio. Eram doze. Saberíamos depois que eram o comandante, três oficiais e oito marinheiros”.

No início de 1944, o Tenente Torres deixou o 1º Grupo de Patrulha, seguindo, como voluntário, para servir no 1º Grupo de Aviação de Caça, que iria combater na Itália. O Tenente Torres, pilotando o P-47 Thunderbolt A-4, integrou a esquadrilha vermelha e realizou 99 missões de guerra ofensivas e uma defensiva, completando um total de 100 missões, tendo sido o recordista brasileiro em missões de combate.

Em uma delas, foi condecorado com outra DFC. Recebeu, ainda, dos EUA, a Air Medal com cinco estrelas, valendo cada estrela como mais uma medalha.

Da França, recebeu a La Croix de Guerre Avec Palme e finalmente, no Brasil, foi agraciado com a Cruz de Aviação Fita A, Cruz de Aviação Fita B, Campanha da Itália, Campanha do Atlântico Sul e a Ordem do Mérito Aeronáutico.

Após retornar da Itália, o Tenente Torres foi promovido e licenciado do serviço ativo. O capitão-aviador (R/2) Alberto Martins Torres faleceu em 30 de dezembro de 2001, aos 82 anos, e seu corpo foi cremado em São Paulo.

Antes do falecimento, o então comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça (1° GAvCa), coronel- aviador Márcio Brissola Jordão, em outubro de 2001, prestou-lhe significativa homenagem, mudando o nome do 'Troféu do Piloto mais Eficiente', prêmio conferido anualmente, no final da instrução, ao melhor piloto de caça da Unidade, para 'Troféu Alberto Martins Torres'.

A pedido do Cap Torres, suas cinzas foram lançadas no mar nas cercanias do Aeroporto Santos-Dumont, antiga sede do 1º Grupo de Patrulha, a primeira Unidade em que serviu como oficial da Reserva Convocado da FAB.

Uma aeronave C-115 Búffalo conduziu a urna para o local da cerimônia, escoltada por dois aviões de patrulha, P-95 Bandeirulha do 4º/7º GAv, e dois caças F-5 Tiger, do 1° GAvCa.

Antes do lançamento das cinzas na Baía de Guanabara, os veteranos da FAB saudaram o Capitão Torres com um vibrante "ADELPHI!", seguido por um sonoro "A LA CHASSE!", grito de guerra da aviação de caça brasileira. Em seguida, foi realizado o lançamento das cinzas do nosso herói e de uma coroa de flores, homenagem do Comando da Aeronáutica.

O exemplo daquele punhado de jovens que, na 2ª Guerra Mundial, não hesitou em se sacrificar – no mar, na terra e no ar – pela manutenção dos princípios e valores que forjaram a nacionalidade, deve estar sempre presente nos corações e mentes dos verdadeiros brasileiros.

Consequências

Com o desgaste da guerra e os fortes bombardeios de suas bases os U-boat pararam de atuar no litoral brasileiro em 1944. No dia 30 de abril de 1945 Adolf Hitler se suicidava em seu bunker em Berlim. Assumia as forças armadas alemães o mesmo almirante Dönitz, que estivera a frente da guerra submarina. 

No dia 07 de maio de 1945 ele mesmo assina a rendição da Alemanha. Por rádio, os submarinos remanescentes foram avisados da suspensão das hostilidades. Alguns dos capitães continuaram a navegar por vários dias até que pudessem confirmar as notícias. Vários deles optaram por afundar seus submarinos ao invés de entregá-los aos vitoriosos, como o U-1277, abandonado em Portugal.

A arma submarina alemã teve proporcionalmente as maiores perdas de seus integrantes durante o conflito.

Edição de texto e imagens por Jorge Tadeu

Fontes e imagens: DefesaTV / naufragiosdobrasil.com.brsixtant.net / Wikipedia

Vídeo: Médico e aviador, apaixonado por aviação


Conversamos com Dr. José Luiz Capalbo, um médico apaixonado por aviação.

Via Canal Porta de Hangar de Ricardo Beccari

Aconteceu em 31 de julho de 2018: O dramático acidente com o voo 2431 da Aeroméxico Connect


Em 31 de julho de 2018, o voo 2431 operado pela Aeroméxico Connect e era um voo regular doméstico do Aeroporto Internacional de Durango para o Aeroporto Internacional da Cidade do México, ambas localidades do México.

A aeronave era o Embraer 190AR, prefixo XA-GAL, da Aeroméxico Connect (foto abaixo), que na época havia voado um total de 27.257 horas e tinha 18.200 ciclos de decolagem e pouso. Quando foi fabricada, originalmente a aeronave estava equipada com um radar meteorológico Honeywell WU-880. Este sistema pode detectar tempestades ao longo da trajetória de voo da aeronave e dar aos pilotos uma indicação visual da intensidade da tempestade.´

XA-GAL, a aeronave envolvida no acidente
A aeronave também foi equipada com um sistema de detecção de cisalhamento de vento e orientação de escape que pode detectar as condições de cisalhamento de vento e alertar os pilotos usando uma combinação de alarmes visuais e sonoros. Os alarmes de áudio são desativados no caso de um alarme de áudio de prioridade mais alta, como o alarme do sensor de proximidade do solo.

O piloto no comando do voo era Carlos Galván Meyran, 38 anos, residente na Cidade do México. Ele tinha uma licença de piloto de transporte aéreo e trabalhava na Aeroméxico desde 2010, como piloto desde 2011. Ele tinha um total de 3.700 horas de voo registradas. Galván concluiu seu treinamento de capitão para a série Embraer E-Jet em junho de 2017 e registrou 1.064 horas no tipo. Ele ocupou o assento esquerdo da cabine durante o voo.

O primeiro oficial designado, Daniel Dardon Chávez, tinha licença de piloto de transporte aéreo e um total de 1.973 horas de voo registradas, incluindo 460 horas na aeronave Embraer 190. Ele tinha 25 anos na época e era natural de Metepec, Estado do México. Ele foi certificado para copiloto deste tipo de aeronave em fevereiro de 2018. Durante o voo, ele estava ocupando o assento auxiliar na parte de trás da cabine ao invés do assento à direita normalmente ocupado pelo primeiro oficial.

Outro piloto que voou pela companhia aérea, José Ramón Vázquez, também estava na cabine. Ele tinha uma licença de piloto comercial e tinha um total de 3.296 horas de voo registradas. Ele foi certificado para pilotar as aeronaves Beechcraft King Air F90 e Beechcraft Super King Air 200. Ele estava em processo de treinamento para pilotar os E-Jets, mas até o momento do voo, ele havia recebido apenas a instrução inicial em sala de aula, havia completado 64 horas de tempo de simulador, e ainda não havia recebido sua certificação. Ele não tinha experiência na aeronave Embraer E190. No momento do voo, ele ocupava o assento à direita da cabine normalmente ocupada pelo copiloto, e era o piloto que pilotava o avião até os últimos cinco segundos antes do acidente, quando o capitão Galván assumiu o controle. 

Duas comissárias de bordo estavam na cabine principal. A comissária de bordo sênior trabalhava para a companhia aérea desde junho de 2012 e a comissária de bordo júnior havia sido contratada pela companhia aérea a cerca de uma semana.

Originalmente programado para sair às 14h56 (horário central - UTC -06h00), a partida foi ligeiramente atrasada quando o primeiro oficial observou um vazamento de combustível do motor número um e pediu às equipes de manutenção que investigassem. Foi verificado que a taxa de vazamento estava dentro dos limites seguros. 

A aeronave deixou o portão às 15h14 e seguiu em direção ao final da pista 03, levando a bordo 98 passageiros e 5 tripulantes. Dois dos passageiros eram funcionários da companhia aérea sendo transportados entre os locais, incluindo o piloto em treinamento que estava na cabine. Dos passageiros, excluindo o piloto em treinamento, 31 eram cidadãos mexicanos, 65 eram cidadãos dos Estados Unidos, um era cidadão espanhol e um era cidadão colombiano.


Enquanto o avião taxiava, a chuva começou a cair com intensidade cada vez maior, acompanhada de fortes rajadas de vento. Às 15h18, o controlador de tráfego aéreo relatou ventos de 20 nós (23 mph; 37 km/h) de 90 graus. 


O serviço de informações de voo do aeroporto publicou um boletim meteorológico atualizado às 15h18, indicando a presença de trovoadas e chuva, visibilidade reduzida e a presença de nuvens cumulonimbus. Porém, o controlador de tráfego aéreo não viu essa atualização porque estava trabalhando sozinho e participando do voo 2431.

A chuva ficou tão forte que a torre não conseguia ver a pista. Embora o controlador estivesse na melhor posição para ver a deterioração das condições meteorológicas, ele não informou à aeronave sobre nenhuma de suas observações.


O voo foi liberado para decolagem às 15h21. Fortes rajadas de vento fizeram com que várias árvores fossem arrancadas do aeroporto, derrubando linhas de energia e comunicação. Uma atualização especial do clima foi enviada pelo serviço de informações de voo às 15h22, alertando para trovoada e chuva, 0 pés de visibilidade e diminuição do teto para 0 pés, mas este relatório nunca foi recebido pelo controlador da torre devido ao corte de energia.

A aeronave seguiu pela pista. Depois de atingir a velocidade de 147 nós (169 mph; 272 km/h), o piloto em comando girou os controles para colocar a aeronave no ar e aumentou a marcha quando a aeronave estava 2 pés acima da pista. 


O avião começou sua decolagem com um vento contrário, mas os ventos rapidamente mudaram para um vento cruzado direito de 11 nós (13 mph; 20 km/h), aumentando para 33 nós (38 mph; 61 km/h) enquanto o avião prosseguia pela pista.

O avião atingiu sua altitude máxima de cerca de 30 pés (9 m) e uma velocidade máxima indicada de 151 nós (174 mph; 280 km/h) quando a direção do vento mudou repentinamente para 24 nós (28 mph; 44 km/h) de vento de cauda. O avião perdeu velocidade e altitude rapidamente, e um alarme audível de "NÃO AFUNDAR" soou na cabine. 

Cinco segundos depois, a asa esquerda atingiu a pista e ambos os motores se separaram das asas. O avião derrapou para fora da pista e parou cerca de 1.000 pés (300 m) além do final da pista. Todas as 103 pessoas a bordo do avião conseguiram evacuar e sobreviveram ao acidente antes do início de um incêndio que destruiu a aeronave. Abaixo, vídeo de um passageiro sentado do lado esquerdo da aeronave.


Imediatamente após a queda, os passageiros relataram ter visto fumaça e chamas enquanto corriam para escapar do avião. Alguns passageiros disseram que uma porta foi arrancada e a fuselagem do avião se partiu em duas, permitindo que eles pulassem diretamente de uma lacuna na lateral da aeronave. Abaixo, vídeo de um passageiro sentado do lado direito da aeronave.


A tripulação conseguiu abrir os escorregadores de saída de emergência e evacuar com segurança todos os ocupantes em 90 segundos. Cerca de três a quatro minutos depois de parar, e depois que todos os passageiros foram evacuados, a aeronave explodiu e foi envolvida pelas chamas.


O controlador de tráfego aéreo tentou entrar em contato com a aeronave e, quando não obteve resposta, contatou o controlador do setor de abordagem para ver se eles estavam em contato com a aeronave.

O controlador despachou um veículo de serviço do aeroporto para inspecionar a pista. O motorista viu os motores da aeronave na lateral da pista e a fumaça subindo de fora da pista. Os oficiais do aeroporto ativaram o centro de operação de emergência do aeroporto e enviaram bombeiros para ajudar no resgate e extinguir o incêndio.


Após relatos sobre o acidente, a Aeroméxico enviou uma equipe a Durango para fornecer assistência aos passageiros afetados e suas famílias. A empresa anunciou que cobriria todas as despesas médicas, acomodação, transporte e despesas extras resultantes do acidente. A companhia aérea elogiou as ações da tripulação e disse que a evacuação rápida e eficiente da tripulação do avião foi fundamental para evitar mais ferimentos graves e fatalidades, alem de enfatizar que a experiência e profissionalismo do piloto evitou a perda de vidas no acidente.

Diferentes fontes deram relatórios conflitantes sobre o número de feridos no acidente. O Ministério da Saúde informou inicialmente que havia 18 passageiros feridos. A Cruz Vermelha disse que houve 97 feridos. O governador de Durango disse à mídia que 49 pessoas foram tratadas por ferimentos em hospitais.


Dois dias após o acidente, a Aeroméxico informou que 17 passageiros ainda estavam hospitalizados, 16 estavam em processo de liberação e 24 já haviam sido dispensados ​​dos cuidados médicos. O relatório final do acidente oficial afirmou que houve 14 feridos graves e 25 feridos leves.

O piloto Carlos Galván Meyran sofreu ferimentos graves no acidente, exigindo uma cirurgia de quadril e coluna que os médicos consideraram bem-sucedida. O primeiro oficial designado, Daniel Dardon Chávez, sofreu ferimentos leves. O copiloto Vázquez também recebeu ferimentos leves no acidente. A comissária de bordo sênior sofreu uma fratura na vértebra lombar. A comissária de bordo júnior sofreu ferimentos leves.


Cerca de um mês após o acidente, a Aeroméxico anunciou que os três pilotos que estavam na cabine naquele dia foram demitidos da empresa. Ela disse que, embora não parecesse que o acidente ter sido culpa dos pilotos, eles violaram os procedimentos da empresa ao não seguirem suas funções atribuídas durante o voo, permitindo que o piloto em treinamento assumisse o controle da aeronave. 

O sindicato que representa os pilotos protestou contra a rescisão, dizendo que a decisão foi tomada com base apenas em um relatório preliminar do acidente, e que uma investigação completa sobre o acidente ainda estava em andamento. Pouco depois, a Diretoria Geral de Aeronáutica Civil do México (DGAC) emitiu uma mudança nos regulamentos que proibia as companhias aéreas de permitir que pilotos inativos e comissários de bordo voassem na cabine da aeronave.


Os pilotos da Aeroméxico se opuseram a essa mudança e convocaram uma greve, vendo a retirada repentina de um benefício de viagem como uma violação do acordo coletivo entre o sindicato e a companhia aérea. Após negociações, o sindicato que representa os pilotos concordou com uma mudança no acordo, onde todas as tripulações de voo que não estivessem no trabalho teriam assentos reservados na cabine principal e continuariam sem acesso à cabine.

Pouco depois do acidente, a DGAC anunciou que havia formado uma comissão para investigar o acidente. A comissão recebeu assistência do National Transportation Safety Board e da Federal Aviation Administration, ambos dos Estados Unidos. Assistência adicional foi fornecida pela Embraer SA, que havia construído a aeronave, e pela General Electric Co., que havia construído os motores da aeronave. Os investigadores localizaram rapidamente os gravadores de dados de voo da aeronave e descobriram que estavam em perfeitas condições.

Em 5 de setembro, um pouco mais de um mês após o acidente, José Armando Constantino Tercero, o investigador principal do DGAC, anunciou que a conclusão final ainda não tinha sido alcançada, mas que a causa do acidente parecia ser súbita cisalhamento do vento a partir de uma micro-explosão. Ele disse que os pilotos não haviam recebido nenhum aviso das condições adversas antes do início da decolagem e que nem falha humana nem mecânica pareciam ser responsáveis ​​pelo acidente. 

Ilustração de uma micro-explosão. O ar se move em um movimento descendente
até atingir o nível do solo. Em seguida, ele se espalha em todas as direções.
Ele também disse que a análise do gravador de voz da cabine revelou que um treinamento de piloto não autorizado estava ocorrendo durante o voo, e que o piloto em treinamento ocupava o assento de copiloto e pilotava o avião até pouco antes do acidente.

Isso não estava de acordo com os regulamentos da aviação, e ele disse que um processo administrativo foi iniciado. No entanto, ele ressaltou que nem a presença nem as ações de qualquer um dos pilotos causou o acidente. Pouco depois, a companhia aérea anunciou que havia demitido os três pilotos que estavam na cabine do voo.

Os investigadores realizaram uma série de testes de voo em simuladores de voo completos no México e no Brasil usando as mesmas condições meteorológicas que existiam no momento do voo, com tripulações com níveis de experiência semelhantes aos da tripulação do Voo 2431.


As tripulações do simulador não foram avisadas com antecedência da situação que estavam prestes a enfrentar. Em uma situação, a tripulação de voo ligou o radar meteorológico, reconheceu os sinais de cisalhamento do vento a partir das variações e pistas visuais nos instrumentos e abortou com sucesso a decolagem. 

Em um segundo cenário, as condições climáticas de cisalhamento do vento não foram carregadas no simulador até que a rolagem de decolagem tivesse começado. Nesse caso, o voo simulado atingiu uma altitude máxima de cerca de quinze pés (5 m) antes de perder altitude e impactar o solo com o trem de pouso. O grupo de simuladores concluiu que, como a tripulação não percebeu a presença de cisalhamento do vento durante a decolagem, não poderia ter recuperado a aeronave a tempo de evitar o acidente.


Em 23 de fevereiro de 2019, o relatório final foi divulgado. Concluiu que o acidente foi causado por "impacto na pista causado pela perda de controle do avião durante a fase final da decolagem em decorrência de cisalhamento do vento em baixa altitude que causou perda de velocidade e altitude". A investigação não encontrou nenhum mau funcionamento mecânico na aeronave que levou ao acidente.

O relatório identificou fatores que contribuíram para o acidente causado pela tripulação de voo. Um fator foi que o piloto do avião, que não era instrutor certificado, estava dando uma instrução para um piloto estudante, que estava pilotando o avião na época. Isso causou uma perda de consciência situacional e os pilotos não mantiveram uma "cabine estéril", livre de distrações. 


Ele descobriu que, entre outros erros, o piloto e o piloto estudante não perceberam que o indicador de velocidade no lado do piloto estava fornecendo informações diferentes do indicador de velocidade no lado do copiloto. A notificação desse fato poderia ter fornecido informações sobre as condições climáticas perigosas da época. Além disso, constatou que os pilotos não seguiram os procedimentos operacionais padrão durante o voo.


Os investigadores também identificaram fatores contribuintes relacionados ao controlador de tráfego aéreo. O relatório disse que o controlador da torre falhou em seguir os procedimentos adequados para as condições climáticas, criando a possibilidade de cisalhamento do vento em baixa altitude. Ele culpou o controlador por não informar o voo de partida sobre a visibilidade em rápida deterioração e as mudanças na velocidade e direção do vento. Disse que o controlador não tinha supervisão e assistência adequadas na torre de controle de tráfego aéreo. A investigação fez várias recomendações à companhia aérea para evitar a ocorrência de acidentes semelhantes no futuro.

Por Jorge Tadeu (Desastres Aéreos) com Wikipedia, ASN, The Aviation Herald e baaa-acro

Vídeo: Mayday Desastres Aéreos - Voo FedEx Express 14 Acidente no Aeroporto Internacional Newark Liberty


Em 31 de Julho de 1997, o voo 14 da FedEx Express sofre um acidente no Aeroporto Internacional Newark Liberty, nos Estados Unidos. Ao pousar, o McDonnell Douglas MD-11F salta, rola para a direita e se vira, explodindo em chamas. Todas as cinco pessoas a bordo sobrevivem.

Aconteceu em 31 de julho de 1997: Acidente com o voo 14 da FedEx Express durante a aterrissagem


Em 31 de julho de 1997, o voo 14 da FedEx Express, um voo de carga programado de Cingapura para Newark, em Nova Jersey, via Malásia, Taiwan e Alasca, caiu durante o pouso em seu segmento final, no Aeroporto Internacional de Newark, pegando fogo ao virar de cabeça para baixo, ferindo todas as cinco pessoas a bordo.

A aeronave, denominada 'Joshua' pela FedEx Express, número de construção 48603 e número de linha 553, era um modelo de carga McDonnell Douglas MD-11F, prefixo N611FE, equipado com três motores General Electric CF6-80C2D1F (foto abaixo). 

N611FE, a aeronave envolvida no acidente
A aeronave foi entregue nova à FedEx em setembro de 1993. Antes do acidente, a aeronave tinha um total de 13.034 horas de voo e 2.950 ciclos de voo (um ciclo de voo é definido como uma decolagem e pouso), e esteve envolvido em dois incidentes anteriores. 

Em janeiro de 1994, quando sofreu danos no baixo-ventre durante uma aterrissagem no Aeroporto Internacional de Memphis . Então, em novembro de 1994, a aeronave foi envolvida em um ataque de cauda emAeroporto Internacional de Anchorage . Reparos permanentes foram feitos a partir do incidente de Anchorage dentro de alguns dias do ataque de cauda, ​​e reparos permanentes no incidente de Memphis foram feitos na próxima verificação C em agosto de 1995.

O capitão era Robert M. Freeman, de 46 anos, que ingressou na FedEx em 1988 quando esta comprou a Flying Tiger Line  para a qual ele havia trabalhado anteriormente. Freeman registrou um total de 11.000 horas de voo, incluindo 1.253 horas no MD-11. O primeiro oficial foi Donald E. Goodin, de 39 anos, que estava na FedEx desde 1994, tendo servido como ex-piloto da Força Aérea dos Estados Unidos e tinha 3.703 horas de voo, embora apenas 592 deles estivessem na FedEx. Goodin teve apenas 92 horas no MD-11.

O voo se originou em Cingapura com paradas intermediárias em Penang, na Malásia, seguido por Taipei, em Taiwan e Anchorage, no Alasca. Além do capitão e do primeiro oficial, havia três passageiros a bordo, incluindo um no assento auxiliar .

Durante o voo, os pilotos ficaram preocupados porque teriam pouca distância de parada após o pouso, e o comandante disse que queria pousar a aeronave logo no início da pista. 

A aeronave havia decolado com um reversor de empuxo (no motor esquerdo) inoperante e os pilotos sabiam de incidentes no registro de manutenção da aeronave em que os freios automáticos falharam ao ativar durante os pousos. Eles também interpretaram mal os dados da pista e, portanto, acreditavam que tinham menos distância de parada do que a realmente disponível.

O pouso na pista 22R do aeroporto de Newark foi normal até o início da fase de flare. O MD-11 pousou, quicou e rolou para a direita. No segundo touchdown, cerca de 1.100 pés depois, a marcha direita estalou e o motor nº 3 (motor da asa direita) entrou em contato com a pista, com a rolagem da direita continuando até que as longarinas da asa direita quebraram. 

A aeronave parou do lado direito da pista, de costas, e em chamas. Todos os cinco ocupantes escaparam por uma janela da cabine. O avião foi destruído por um incêndio.


O National Transportation Safety Board (NTSB) conduziu uma investigação completa do acidente e concluiu que a causa provável foi o controle excessivo do comandante da aeronave durante o pouso e sua falha em dar a volta após um surto desestabilizado. 


Começando a cerca de 5 metros acima da pista, o capitão deixou o nariz abaixar, provavelmente para conseguir um toque inicial mais cedo, então o ergueu e aumentou o empuxo para desacelerar a descida do avião, em seguida, empurrou o nariz para baixo novamente (por volta da hora do primeiro toque) para tentar manter o avião na pista.


Essas últimas entradas de controle foram "tarde e grandes demais" para estabilizar o pouso, e a alta taxa de afundamento do avião e a rolagem para a direita comprimiram o suporte do trem de pouso direito no segundo toque, o que quebrou a longarina traseira da asa direita e rompeu o tanque de combustível direito.


As recomendações de segurança do NTSB incluiíram técnicas adequadas de recuperação de alta taxa de afundamento durante o flare até o pouso, técnicas para evitar e se recuperar do excesso de controle no arremesso antes do toque, e técnicas para evitar o supercontrole e redução prematura durante uma aterrissagem saltada; e para promover uma orientação para uma volta pró-ativa. O Relatório Final da investigação foi divulgado três anos após o acidente.


Por seu papel no acidente, o capitão Freeman foi demitido da FedEx em 30 de outubro de 2000. No entanto, o sindicato de pilotos da FedEx criticou a decisão e anunciou que iria apelar, citando que o acidente foi causado por falhas no projeto da aeronave.

A FedEx Express continua a usar o voo 14 como um número de voo ativo. Atualmente, a rota foi modificada para se originar em Hong Kong, com a parada em Taipei antes de continuar para Anchorage e Memphis como destino.


Por Jorge Tadeu (Site Desastres Aéreos) com Wikipédia, ASN e baaa-acro

Aconteceu em 31 de julho de 1993: Acidente com turboélice Dornier 228 da Everest Air no Nepal

Um Dornier 228 da Everst Air semelhante ao envolvido no acidente
Em 31 de julho de 1993, o turboélice Dornier 228-101, prefixo 9N-ACL, operado pela companhia aérea nepalesa Everest Air, voava do Aeroporto Internacional de Tribhuvan, em Katmandu, para o Aeroporto de Bharatpur, ambos no Nepal. 

A aeronave havia sido fabricada pela Dornier Flugzeugwerke em 1984 e foi operada por várias companhias aéreas alemãs e mais tarde nas Ilhas Marshall, antes de ser adquirida pela Everest Air em 1992.

Havia a bordo dezesseis passageiros, dois pilotos e um comissário. Após a decolagem às 14h29 horário local (10h29 UTC), houve contato normal até as 14h45.

Após esse período, o contato foi perdido. O avião caiu às 14h51. Os destroços foram encontrados no distrito de Tanahun, perto da colina Chule Ghopte, no NepalO acidente matou todos os 19 passageiros e tripulantes a bordo.

O avião foi pilotado por um capitão nepalês e um primeiro oficial indiano. Outro piloto da Nepal Airlines presumiu que o copiloto não tinha conhecimento do terreno montanhoso do Nepal. A maioria dos passageiros nepaleses eram funcionários do Ministério da Saúde a caminho de Terraia, áreas afetadas pelas cheias de 1993 no Nepal .

O Governo do Nepal criou uma comissão de investigação poucos dias após o acidente. Presume-se que a falha do farol não direcional no aeroporto de Bharatpur levou ao acidente. O dispositivo não estava funcionando devido às fortes enchentes recentes na área.

Por Jorge Tadeu (Site Desastres Aéreos) com Wikipédia e ASN

Vídeo: Mayday Desastres Aéreos - Voo Thai Airways 311ㅤO Avião Perdido


Aconteceu em 31 de julho de 1992: Voo 311 da Thai Airways International - Colisão no Himalaia


Em 31 de julho de 1992, um Airbus A310 da Thai Airways, ao se aproximar de Katmandu, desviou-se da rota e caiu no Himalaia, colidindo com uma encosta íngreme, levando consigo a vida de 113 pessoas. Em meio aos picos da cordilheira mais alta do mundo, as equipes de busca levaram dois dias para encontrar o avião e, quando o fizeram, pouco restava, exceto uma mancha preta na face de um penhasco e uma pilha de destroços em uma encosta bem abaixo. Mas o aspecto mais surpreendente da descoberta não foi a extensão da destruição, mas sua localização. Por que, perguntaram os investigadores, um avião que os controladores pensavam estar ao sul de Katmandu atingiu uma montanha de 4.800 metros, 40 quilômetros ao norte do aeroporto?

A história de como o voo 311 da Thai Airways chegou ao seu local de descanso final, na verdade, se desenrolou ao longo de cerca de 45 minutos de conversas cada vez mais frustrantes entre os pilotos e o controle de tráfego aéreo, enquanto cada um tentava conciliar pistas contextuais cada vez mais desconcertantes com seus modelos mentais da situação. Em algum lugar em meio ao caos, o voo 311 começou a voar na direção errada, e ninguém percebeu até que fosse tarde demais. 

Como tal erro pôde ser cometido? E, mais preocupante, como pôde passar despercebido? As respostas estão em algum lugar na intersecção da natureza humana e da tecnologia, ilustrando o que não fazer quando uma situação se torna complexa demais para ser compreendida adequadamente — uma lição não apenas para pilotos, mas para qualquer pessoa que precise interagir com pessoas e os sistemas que elas constroem.

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Um mapa topográfico do Nepal (Nations Online)
Lar de oito dos quatorze picos do mundo com mais de 8.000 metros, a pequena nação himalaia do Nepal é um país definido mais do que qualquer outro por sua topografia. Ir de um lugar a outro pode ser uma jornada árdua, mesmo em curtas distâncias, especialmente fora das planícies densamente povoadas perto da fronteira com a Índia. 

Alguns países com terrenos acidentados, como a Indonésia, com suas milhares de ilhas, adotaram o transporte aéreo como uma solução eficaz, mas no Nepal, o transporte aéreo demorou a decolar, devido à dificuldade de construir aeroportos e atendê-los com segurança. Alguns dos aeródromos de montanha mais perigosos do mundo estão no Nepal, mais notavelmente o Aeroporto Tenzing-Hillary em Lukla, a porta de entrada para o Monte Everest e, segundo alguns relatos, o aeroporto mais perigoso do planeta.

Até mesmo o Aeroporto Internacional de Tribhuvan, o principal porto de entrada para o Nepal, tem uma longa reputação de aproximações e pousos complicados. Localizada na capital, Catmandu, a pista fica em um vale a mais de 4.000 pés (1.200 m) acima do nível do mar, com picos que se elevam a mais de 9.000 pés (2.750 m) imediatamente ao sul e 20.000 pés (6.100 m) a uma curta distância ao norte. 

Para piorar a situação, na década de 1990, o Aeroporto de Tribhuvan não tinha infraestrutura básica, como radar ou um sistema de pouso por instrumentos, qualquer um dos quais teria sido caro para instalar devido à interferência do terreno próximo. O resultado foi que os voos internacionais para o Nepal foram forçados a pousar pelas cordilheiras ao sul e, em seguida, descer abruptamente até a pista sem o benefício de uma rampa de planeio ou orientação de radar do controle de tráfego aéreo. Se o tempo estivesse ruim, o que acontecia durante grande parte da temporada de monções de verão, o pouso era simplesmente impossível.

HS-TID, a aeronave envolvida no acidente (Torsten Maiwald)
Uma das relativamente poucas companhias aéreas que operavam rotineiramente jatos de grande porte para Katmandu em 1992 era a Thai Airways International, a companhia aérea estatal da Tailândia. A companhia aérea operava um voo regular Bangkok-Catmandu usando um Airbus A310 de fuselagem larga, um jato bimotor de longo alcance projetado para voos de médio a longo curso com menor capacidade de passageiros do que outras aeronaves de fuselagem larga.

Um desses A310, registrado como HS-TID e apelidado de "Buri Ram", estava programado para realizar o voo 311 da Thai Airways International de Bangkok para Kathmandu no dia 31 de julho de 1992. A bordo estavam 99 passageiros e 14 tripulantes, incluindo os dois pilotos, o Capitão Preeda Suttimai, de 41 anos, e seu Primeiro Oficial Phunthat Boonyayej, de 52 anos. Embora Boonyayej tivesse um pouco mais de experiência, ambos os pilotos tinham bem mais de 13.000 horas de voo, e Suttimai não era apenas um capitão, mas também um instrutor. Boonyayej havia tentado ser promovido a capitão no passado, mas foi considerado inadequado para a posição; ele era capaz o suficiente como primeiro oficial, mas não tinha as qualidades necessárias para assumir o comando. Algumas dessas limitações se tornariam aparentes horas depois, quando o voo 311 começou sua fatídica aproximação a Kathmandu.

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A rota do voo 311 da Thai Airways International (origem e destino apenas —
não é uma descrição exata) (Google, anotações próprias)
Após uma decolagem, subida e cruzeiro sem incidentes, o voo 311 fez contato com o controle de área de Katmandu às 6h26 UTC, ou 12h11, horário local no Nepal. Com o Capitão Suttimai nos controles, o Primeiro Oficial Boonyayej relatou sua posição sobre um ponto de referência chamado Monda e estimou que chegariam ao ponto de referência Romeo às 12h28, seguido pelo pouso em Katmandu às 12h39. O controlador respondeu com a última observação meteorológica, feita às 11h45, que indicava nuvens dispersas a 2.500 e 4.000 pés, céu nublado a 10.000 pés e visibilidade superior a 10 quilômetros, mais do que suficiente para uma aproximação bem-sucedida.

Às 12h18, o Primeiro Oficial Boonyayej ligou novamente para o controle de tráfego aéreo e perguntou: "Thai três um um, solicite descida". Mas não houve resposta. Ele tentou novamente mais duas vezes, sem sucesso. Questionando se o rádio do Primeiro Oficial poderia estar com defeito, o Capitão Suttimai tentou ele mesmo, mas só conseguiu se comunicar na terceira tentativa. Gravações mais tarde comprovariam que as chamadas foram ouvidas no centro de controle, mas por algum motivo o controlador não estava prestando atenção. Só então, após seis chamadas, ele respondeu, relatando que o único outro avião na área era um voo da Royal Nepal com destino a Katmandu a 37.000 pés. Ele então autorizou o voo 311 a descer de 35.000 pés, e Boonyayej respondeu: "Entendido, deixando três cinco zero".

Cinco minutos depois, às 12h23, o controlador ligou novamente com más notícias: a chuva havia se espalhado sobre o aeroporto e a visibilidade ao sul era de apenas 1.500 metros. Isso representou um problema porque o voo 311, como a maioria dos voos para Katmandu, planejava uma aproximação direta para a pista 02, o que exigia uma visibilidade de pelo menos 3.000 metros.

Esboço básico da abordagem Sierra VOR/DME para Katmandu (Trabalho próprio, mapa do Google)
O Aeroporto Internacional de Tribhuvan tem uma pista, que é chamada de pista 02 para pousos vindos do sul e pista 20 para pousos vindos do norte. Quando a visibilidade era ruim, os voos para Katmandu normalmente pousavam na pista 02 usando o que é conhecido como aproximação VOR/DME. Nesse tipo de aproximação, os pilotos devem sintonizar um VOR, ou Alcance Omnidirecional de Frequência Muito Alta, localizado no aeroporto. Os receptores VOR no avião podem então determinar onde o avião está em relação ao VOR, expresso em termos de sua radial. 

Por exemplo, um avião diretamente a leste do VOR é considerado "na radial de 90 [graus] do VOR", enquanto um avião diretamente ao sul está na radial de 180 graus, e assim por diante. Simultaneamente, um conjunto de Equipamentos de Medição de Distância, ou DME, colocalizado com o VOR, determina a distância entre o avião e o DME em milhas náuticas; essa distância é então exibida nos indicadores DME dos pilotos. Usando essas duas fontes de informação, os pilotos podem se alinhar com o radial correspondente ao rumo da pista e então descer até a pista atingindo certas altitudes alvo em certas distâncias DME, conforme indicado em seu gráfico de aproximação.

No Aeroporto Internacional de Tribhuvan, existia um procedimento de aproximação VOR/DME para um pouso direto na pista 02, começando em um ponto a 16 milhas náuticas do VOR (doravante, 16 DME) e seguindo a radial de 202 graus em relação à pista. Esse procedimento era conhecido como aproximação Sierra, em homenagem ao ponto de referência "Sierra", localizado a 10 DME. 

Não havia um procedimento de aproximação correspondente para a pista 20, devido ao terreno elevado ao norte do aeroporto; consequentemente, a única maneira de pousar nessa pista era realizar a aproximação Sierra para a pista 02, sair abaixo da base das nuvens e, em seguida, circular o aeroporto em condições visuais para pousar na outra direção. Realizar essa chamada aproximação circular em Katmandu podia ser estressante, especialmente se a visibilidade fosse marginal, e os pilotos geralmente tentavam evitá-la, se possível.

No entanto, hoje, a visibilidade ao sul do aeroporto estava muito baixa para pousar diretamente na pista 02, enquanto a visibilidade em outras direções era superior a 3.000 metros, então o controlador ofereceu ao voo 311 uma aproximação em círculo para a pista 20. Os pilotos não ficaram satisfeitos com a proposta, então o Primeiro Oficial Boonyayej solicitou que eles continuassem para a pista 02. Mas o controlador simplesmente repetiu que a pista 02 não estava disponível. "Entendido, pista 20, Thai 311", respondeu Boonyayej.

“Acho que não conseguiremos”, disse o Capitão Suttimai.

“Preciso entrar primeiro”, disse Boonyayej, aparentemente sugerindo que eles continuassem a descida para ver se as condições poderiam melhorar.

Suttimai não contava com isso, então perguntou a Boonyayej quanto combustível eles precisariam para desviar para o aeroporto alternativo em Calcutá, na Índia. Em resposta, Boonyayej comentou que eles tinham combustível suficiente para voltar a Bangkok, e muito menos para Calcutá. Mas essa não era a resposta que Suttimai queria: "Calcutá, quanto?", disparou ele.

Desta vez, Boonyayej forneceu o combustível necessário para o desvio para Calcutá. Aparentemente, o Capitão Suttimai queria apenas saber quanto tempo ele conseguiria esperar em Katmandu antes que o combustível obrigasse o desvio.

A relação entre radial e direção em uma aproximação VOR (Trabalho próprio, mapa do Google)
Tendo resolvido esse assunto, os pilotos terminaram de instruir a aproximação da Sierra. Notavelmente, ao discutir a altitude mínima em curso (ou MOCA) aplicável ao segmento entre o ponto de referência Romeo e o início da aproximação, o Capitão Suttimai disse: "Podemos descer para 10.500 [pés] se estivermos na radial 022". Isso foi um lapso de língua — o mínimo realmente aplicado na radial 202, anteriormente mencionado como a radial usada para aproximação da pista 02. A radial 022 do VOR de Kathmandu era a extensão da mesma linha para o norte, na direção oposta, e não era relevante para a aproximação da Sierra, ou qualquer outra aproximação. Foi, no entanto, a direção magnética na qual eles voariam enquanto seguiam a radial 202 (como mostrado acima), que pode ter sido a fonte de sua confusão. A importância desse deslize, à luz de evidências posteriores, está em debate.

Minutos depois, às 12h27, o voo 311 informou que estava sobre o ponto de referência Romeo, localizado na radial 202 do VOR de Kathmandu, a uma distância de 41 DME. Em resposta, o controlador disse: "Liberte Sierra na radial 202, desça para 11.500... espere aproximação da Sierra, sem atraso, informe 25 DME [a] 11.500."

Os pilotos confirmaram a autorização e começaram a discutir o procedimento de aproximação perdida, caso a aproximação falhasse. De acordo com seus mapas, o procedimento normal em tal caso era sobrevoar o VOR, subir a 11.500 pés, fazer uma curva de 270 graus à direita, iniciar uma trajetória de 291 graus e prosseguir para um padrão de espera no ponto de referência "Whiskey", a noroeste do aeroporto.

Na esperança de evitar a necessidade de utilizar esse procedimento, às 12h30, o Primeiro Oficial Boonyayej solicitou novamente a visibilidade. Mas, em vez de fornecer um valor, o controlador respondeu que "a pista 02 também está disponível", sugerindo indiretamente que a visibilidade havia melhorado.

Boonyayej ligou o microfone e começou a dizer: “Ah…”

Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o Capitão Suttimai pegou o rádio e perguntou: "Confirma que a pista 02 está disponível?"

“Afirme”, disse o controlador.

O Capitão Suttimai então solicitou novamente a visibilidade, que o controlador ignorou novamente, solicitando a distância DME. "25 DME agora, solicite visibilidade atual", repetiu Suttimai.

Em resposta, o controlador de área ordenou que ele contatasse a torre, responsável pelas operações nas imediações do aeroporto. Com o avião agora dentro da altitude de 25 DME, o voo 311 era de responsabilidade da torre.

Às 12h31, a tripulação contatou a torre, que os liberou para uma aproximação Sierra à pista 02 e solicitou que reportassem o cruzamento da DME 10 a 9.500 pés. Enquanto isso, os pilotos começaram a configurar o avião para a aproximação. "Freio aerodinâmico acionado, flaps 15", ordenou Suttimai.

O Primeiro Oficial Boonyayej moveu a alavanca do flap para a posição de 15 graus, mas ocorreu um problema inesperado: devido ao atrito excessivo no sistema, o limitador de torque foi acionado e parou os flaps um pouco antes da posição de 15 graus. Um sinal sonoro soou e uma mensagem de "falha no flap" apareceu no visor computadorizado.

"Os flaps não se abriram!", exclamou Boonyayej. Realmente, era a última coisa de que precisavam. Ele tentou mover a alavanca dos flaps mais para a posição de 20 graus, mas os flaps continuaram sem se mover.

A carta de aproximação para a aproximação da Sierra, com anotações relacionadas a
certos eventos futuros (Macarthur Job's “Air Disaster: Volume 3,” anotações próprias)
O Capitão Suttimai sabia que seria impossível pousar na pista 02 se não conseguissem estender totalmente os flaps. A maioria das aproximações tem uma inclinação de descida de 3 graus, mas devido ao terreno íngreme, a aproximação com a Sierra para Katmandu exigiu inclinações de descida de até 6,6 graus. Em uma descida tão íngreme, o arrasto extra dos flaps totalmente estendidos era necessário para evitar o aumento da velocidade do avião. De fato, o procedimento da empresa impedia os pilotos de voar na aproximação com a Sierra com qualquer coisa que não fosse os flaps totalmente abertos.

Em vez de continuar a descida, Suttimai estabilizou a 10.500 pés para ajudar Boonyayej a solucionar o problema. No entanto, não parecia haver um procedimento para corrigi-lo — o manual de referência rápida simplesmente fornecia instruções para pousar com flaps menos que completos, o que era inaplicável à situação deles. Enquanto debatiam o que fazer, o avião passou por cima do ponto onde deveria descer para 9.500 pés, colocando-o pelo menos 300 metros acima do nível do mar.

"Calma", disse Suttimai. "Tarde demais para pousar. Precisamos da configuração... não podemos pousar."

Às 12h33, o Capitão Suttimai ligou para a torre e disse: “Thai 311, solicitação para manter 10.500 e solicitação, ah, de volta para Calcutá, devido a, ah, problemas técnicos.”

“Entenda o Thai 311, gostaria de desviar para Calcutá devido a problemas técnicos”, respondeu a torre.

"Afirme", disse Suttimai. Mas naquele exato momento, os esforços do Primeiro Oficial Boonyayej para solucionar o problema deram resultado: ao retrair os flaps para 0 grau e, em seguida, mover a alavanca de volta para 20 graus, os flaps se estenderam corretamente. Agora eles não precisavam desviar — ainda podiam pousar em Katmandu, mas como estavam muito alto e muito perto do aeroporto para salvar a aproximação, teriam que retornar ao início da aproximação e tentar novamente.

E assim, apenas quatro segundos após sua afirmação de que queriam desviar, Suttimai ligou o rádio novamente e disse: "Ah, gostaríamos de... virar à esquerda, virar à esquerda novamente e voltar para, para nos juntarmos à aproximação da Sierra novamente, ah, de volta ao normal agora. Podemos fazer uma curva à esquerda para Romeo agora?"

“A operação está normal e você gostaria de fazer uma aproximação?” perguntou a torre.

“Afirme, afirme!” disse Suttimai.

Por que o Capitão Suttimai pode ter pensado que precisava retornar a Romeo
para reiniciar a aproximação (Trabalho próprio, mapa do Google)
Sua intenção era retornar ao ponto de referência Romeo, que ele considerava ser o início da aproximação. Ele provavelmente solicitou uma curva à esquerda porque o terreno era mais baixo naquela direção. Mas aqui, ocorreu um mal-entendido crítico: embora Suttimai parecesse acreditar que a aproximação começou em Romeo, este não era realmente o caso. O procedimento de aproximação para Sierra começou no ponto 16 DME, enquanto Romeo estava a 41 DME, muito mais distante do aeroporto. Ele pode ter tido essa impressão de sua carta de aproximação, que mostrava Romeo e o ponto 16 DME bem próximos um do outro, embora com uma quebra na linha e uma etiqueta com a inscrição "escala distorcida" (mostrada acima). 

Como resultado, Suttimai pensou que queria voltar até Romeo — algo que não fazia sentido para os controladores de tráfego aéreo. Na verdade, Romeo estava tão longe do aeroporto que nem estava nas cartas da torre, e voar de volta para ele exigiria viajar na direção errada em uma aerovia de mão única.

Para agravar a confusão, havia outro mal-entendido relacionado ao papel do controle de tráfego aéreo em Katmandu. O Aeroporto Internacional de Tribhuvan não tinha radar, então os controladores não podiam instruir os pilotos a virar em direções específicas ou para rumos específicos. 

Em vez disso, os controladores em um ambiente sem radar normalmente autorizam voos para executar um procedimento publicado específico, como a aproximação Sierra, e garantem a separação mantendo os voos de chegada em altitudes diferentes. Quanto a como navegar até o ponto de referência desejado, esse era o problema da tripulação de voo. 

Então, quando o Capitão Suttimai solicitou uma curva à esquerda de volta para Romeo para iniciar a aproximação novamente, o controlador simplesmente o liberou para uma nova aproximação, esperando que ele chegasse ao ponto de partida sozinho: "Thai 311", disse ele, "autorizar aproximação Sierra, reportar um DME zero, deixando 9.500".

Mas não era isso que Suttimai queria ouvir. Ele interpretou essa autorização como uma autorização para continuar a aproximação em que já estava, o que era impossível, visto que estavam muito alto para pousar. Chamando a torre, ele disse: "Não podemos pousar neste momento. Temos que... virar à esquerda novamente para Romeo e reiniciar nossa aproximação."

"Entendido", disse o controlador. "Continue com sua distância DME."

“Estamos na 9ª DME, a 10.500 pés”, disse Suttimai.

“Entenda 9 DME, 10.500 pés?”, disse o controlador.

Suttimai estava ficando farto do que percebia como a incapacidade ou falta de vontade do controlador em atender ao seu pedido de conversão à esquerda. "Responda, por favor, responda, por favor!", disse ele a Boonyayej, parecendo frustrado.

"Manteremos 10.500 pés", disse Boonyayej à torre. Virando-se para o capitão, perguntou: "Estamos autorizados a passar pela MOCA [altitude mínima de rota]? Conseguimos ver do nosso lado direito. E do lado esquerdo?"

"Sim, estou vendo", disse Suttimai. Retomando o rádio, perguntou: "Virar à esquerda agora?"

“Continue sua distância DME”, respondeu a torre.

"Ah... 7 DME agora", disse Boonyayej, pulando para o rádio. "Solicito retorno à esquerda."

"Entendido, cópia da 10ª DME, senhor, reporte 16ª DME, deixando 11.500", respondeu a torre. Ainda não houve confirmação da solicitação de curva. Muito provavelmente, o controlador não tinha o conhecimento necessário da língua inglesa para explicar sua confusão, então simplesmente repetiu autorizações semelhantes várias vezes, na esperança de que os pilotos eventualmente decidissem prosseguir por conta própria.

O voo 311 começa a dar meia-volta e a subir (Trabalho próprio, mapa do Google)
Nesse ponto, o Capitão Suttimai desistiu de tentar obter a autorização que desejava. "Vamos subir na frente", disse ele. Naquele momento, estendeu a mão para o painel de controle do piloto automático e girou o botão de direção algumas voltas para a direita, comandando o piloto automático a assumir a direção de 045˚, ou nordeste. Simultaneamente, começou a subir, aparentemente imitando o procedimento de aproximação perdida, embora ainda estivessem a 5 DME e não sobre o VOR, onde seus mapas mostravam o início do procedimento. Assim que o avião iniciou a manobra, ele chamou a torre e disse: "Estamos subindo".

Novamente, a torre reiterou sua autorização: “Relatório 10 DME deixando 11.500 pés para aproximação da Sierra na pista 02.”

O voo 311 começou a se deslocar em sua nova direção de 045˚, então o Capitão Suttimai girou o botão de direção um pouco mais. O piloto automático parou de nivelar o avião e começou a virar para a direita novamente. "Relatório 10 DME, um, um, cinco", disse o Primeiro Oficial Boonyayej, lendo a autorização incorretamente.

“Negativo… reporte um DME zero saindo de 9.500 pés”, disse a torre.

“Afirme, informe 10 DME, 9.500”, disse Boonyayej.

“Afirme, afirme”, respondeu a torre.

Mas o Capitão Suttimai ainda parecia achar que a torre queria que ele reportasse 10 DME e 9.500 pés em sua aproximação atual, que ele já estava abandonando. "Não podemos fazer a aproximação agora", disse ele, tentando explicar claramente. "Voltamos à direita para Romeo e subimos para 18.000 pés... para reiniciar nossa aproximação."

O relato de que o voo 311 estava subindo a 18.000 pés sem permissão pegou o controlador desprevenido. "Roger, ah, aguarde por enquanto", disse ele. "Manter 11.500 pés devido ao tráfego." Naquele momento, o voo 206 da Royal Nepal estava descendo para 15.000 pés, e como nenhum dos voos estava seguindo um procedimento publicado, ele não podia permitir que suas altitudes se cruzassem sem violar os princípios de separação em um ambiente sem radar.

Em resposta, o Primeiro Oficial Boonyayej olhou para o altímetro — eles já estavam a 13.500 pés e subindo. "Ok, mantemos um a três mil agora", disse ele.

“Roger”, disse a torre.

"Está tudo bem?", perguntou Boonyayej, hesitante.

“Inicialmente manter 11.500 devido ao tráfego, RA206, estimando Simara [em] 57 de Delhi, descendo para o nível de voo 150”, repetiu o controlador.

"Desça para 11.500", reconheceu Boonyayej. "Estamos agora a 8 DME." O avião começou a nivelar em um rumo sudeste de 130 graus, então Suttimai girou o botão de rumo várias vezes. Então, em resposta à ordem para permanecer a 11.500 pés, Suttimai parou de subir e colocou o avião em descida. "Ok, agora estamos em descida para 11.500, a 9 DME de Katmandu", relatou ele.

"Roger", disse a torre. "Thai 311, você entendeu que gostaria de levar Romeu para fazer uma abordagem?"

Finalmente, o controlador pareceu entender o que Suttimai queria. "Afirme, afirme", disse ele.

O voo 311 faz uma órbita completa de 360 graus (Trabalho próprio, mapa do Google)
Enquanto isso, o avião continuou a virar à direita, passando por 202 graus — a direção de volta para Romeo — e seguindo em direção a 340 graus, ou noroeste. Não era esse o caminho para chegar a Romeo, mas ninguém pareceu notar. "Kathmandu, Thai 311, confirmam que podemos prosseguir para Romeo agora?", perguntou Suttimai.

“Roger, vá até Romeo agora e entre em contato com um dois seis decimal cinco”, disse a torre, devolvendo-os ao controlador de área, cuja jurisdição incluía Romeo.

O voo começou a se mover em uma direção de 340˚, então o Capitão Suttimai estendeu a mão e girou o botão de direção ainda mais, para 025˚. Ao fundo, Boonyayej podia ser ouvido dizendo: "Romeu, oh, direto, Romeu..."

No Aeroporto de Tribhuvan, o controlador da torre ligou para o centro de controle de área e informou que o voo 311 "não conseguiu fazer a aproximação" e estava retornando para Romeo. Em resposta, o controlador perguntou por que o voo estava sendo enviado para Romeo, já que aquele não era o início do procedimento de aproximação, ao que a torre respondeu que era isso que a tripulação queria. É de se imaginar que houve alguns encolher de ombros e sobrancelhas erguidas, mas quem eram eles para negar o pedido?

Enquanto isso, a bordo do voo 311, os pilotos discutiam as altitudes mínimas na área, tentando garantir que uma altitude de 11.500 pés os mantivesse afastados do terreno no caminho de volta para Romeo. O avião nivelou novamente, agora na direção de 025˚, ou nordeste — quase exatamente a mesma direção em que viajavam antes do Capitão Suttimai iniciar sua série de curvas à direita. Ao controle de tráfego aéreo, ele relatou: "Estamos na direção de 025, mantenha 11.500, gostaríamos de prosseguir para Romeo para iniciar nossa aproximação novamente."

Se Suttimai escolheu propositalmente a direção 025, e em caso afirmativo, por quê, se tornaria posteriormente um assunto de considerável debate. Essa direção levaria o voo não para o sul, em direção a Romeu, mas para o norte, em direção à vasta extensão do Himalaia. Era difícil imaginar que ele escolheria essa direção de propósito, e mesmo assim ele a leu para o controle de tráfego aéreo sem pensar duas vezes. Alguns argumentariam mais tarde que ele devia estar ciente de para onde estava indo, mas quanto ao motivo de ter feito isso, as respostas são evasivas. O argumento mais convincente parece ser o de que ele havia ficado desorientado de alguma forma.

Manter o controle desses números em uma situação de alta carga de trabalho pode ter deixado o Capitão Suttimai confuso sobre a direção em que estava voando (Trabalho próprio, mapa do Google)
Uma possibilidade é que ele estivesse confundindo suas direções e seus radiais. Ao voar diretamente para longe de um VOR, a direção de uma aeronave é a mesma que sua radial do VOR — ou seja, um avião voando para fora na radial de 202 graus do VOR também estará voando em uma direção de 202 graus. Mas se alguém estiver voando em direção ao VOR, como faria durante uma aproximação para pouso, a direção e a radial são recíprocas. 

Portanto, ao realizar a aproximação Sierra, uma aeronave está na radial de 202 graus do VOR de Kathmandu, mas sua direção está a 022 graus, ou 180 graus da radial. Antes de toda a confusão, durante o briefing de aproximação, o Capitão Suttimai acidentalmente se referiu à "radial 022" em vez da "radial 202", aparentemente trocando a direção e a radial, embora mais tarde tenha se referido à radial 202 corretamente. Então ele simplesmente sofreu um lapso mental, de alguma forma, invertendo os números em sua cabeça? Será que ele acidentalmente inseriu a radial 022 em vez da radial 202 em seus instrumentos e, em seguida, selecionou às cegas qualquer rumo que o levasse até lá? 

Considerando que ele era um piloto experiente que trabalhava com esses indivíduos todos os dias, parece difícil imaginar. E, no entanto, se esse foi o caso, suas ações fazem algum sentido: afinal, uma direção de 025 graus os colocaria em rota para interceptar a radial 022 do VOR de Kathmandu, e explicaria por que Suttimai foi capaz de ler a direção deles sem aparentemente perceber que não era a direção que ele queria. Ainda assim, de alguma forma, ele deve ter ignorado que 025 era uma direção nordeste que os levaria direto para o Himalaia, ou então ele certamente teria reconsiderado.

Após o relatório de Suttimai ao controle de tráfego aéreo, o controlador pediu para confirmar a altitude e então reiterou: "Mantenha 11.500 e siga com sua intenção". Ele não pareceu notar o comentário de Suttimai de que eles estavam voando na direção 025.

“Gostaríamos de prosseguir para Romeo, tivemos alguns problemas técnicos… relacionados ao voo”, respondeu Suttimai.

“Thai 311, prossiga para Romeo, mantenha 11.500”, disse o controlador novamente.

Um minuto depois, às 12h41, o controlador ligou novamente para solicitar o DME do voo.

“Somos cinco DME de Kathmandu”, respondeu Suttimai.

Não era isso que o controlador esperava. Se o voo tivesse dado meia-volta e voltado para Romeo, então a DME deveria estar aumentando. Afinal, o último relatório deles foi às 9 DME, e nos quatro minutos seguintes, o voo deveria ter conseguido cobrir 20 milhas náuticas. Suspeitando que tivesse ouvido errado, o controlador perguntou: "Confirma a DME 25?"

"Cinco!", respondeu Suttimai enfaticamente. "Zero cinco!". Como o avião havia completado uma órbita de 360 graus antes de retomar o voo na mesma direção de antes, ele não estava a 25 milhas náuticas ao sul do VOR, mas a 5 milhas náuticas ao norte.

O controlador, no entanto, não tinha palavras para expressar sua confusão. "Cinco DME, entendido, Thai 311, manter 11.500, reportar sobre Romeo", disse o controlador.

“Relatório sobre Romeu, 11.500”, reconheceu o primeiro oficial Boonyayej.

Uma possibilidade para o motivo pelo qual a tripulação ficou tão confusa com seu FMS
(Trabalho próprio, mapa do Google)
Enquanto isso, Boonyayej parecia estar tentando programar seu curso de volta para Romeo no Sistema de Gerenciamento de Voo computadorizado do avião, ou FMS. O FMS apresentava um prático visor de navegação que destacava pontos de referência na área à frente do avião e que podia ser programado com um curso desejado selecionando pontos de referência adicionais de um banco de dados interno. 

Simplesmente selecionando Romeo em uma lista e pressionando o botão DIR TO (“direto para”), eles podiam comandar o piloto automático para voar o avião até Romeo, onde quer que estivesse. Mas como o visor mostrava apenas pontos de referência à frente do avião, não atrás dele, Romeo não estava na tela, nem quaisquer outros pontos de referência, já que nenhum havia sido estabelecido na área ao norte de Katmandu — normalmente, aviões simplesmente não vão para lá.

Ao seu primeiro oficial, o Capitão Suttimai disse: “Por favor, encontre Romeu para mim”.

Boonyayej digitou "Romeo" e uma lista de pontos de referência chamada Romeo apareceu na tela. Boonyayej perguntou se eles queriam aquele localizado na latitude de 27 graus norte; Suttimai verificou seu mapa e confirmou que este era o ponto de referência correto. Boonyayej o selecionou e pressionou DIR TO, esperando que ele aparecesse na tela com uma linha branca da posição da aeronave até o ponto de referência. O que realmente mostrou não é conhecido, mas se tudo estivesse funcionando corretamente, então teria exibido uma curva acentuada de volta para o caminho de onde vieram e fora do campo de visão. 

Se o Capitão Suttimai soubesse que estava voando para o norte, isso deveria ter sido o que ele esperava. Mas sua reação indica que o resultado foi, de fato, inesperado. E então, em vez de pressionar "executar" e deixar o piloto automático levá-los de volta para Romeo, ele decidiu continuar tentando até que pudesse fazer Romeo aparecer onde ele achava que deveria estar.

Sua próxima ação foi tentar um ponto de referência localizado perto de Romeu, para ver se produzia resultados semelhantes. O ponto de referência que selecionaram chamava-se Simara, mas quando entraram em Simara, o resultado foi o mesmo. "Não aparece Simara", disse Boonyayej.

Suttimai, por sua vez, notou outra coisa estranha: a distância deles até Romeo. Se ele achasse que Romeo estava perto do ponto 16 DME, então esperaria que o visor mostrasse uma distância de 16 milhas náuticas ou menos com Romeo selecionado, mas como Romeo estava, na verdade, a 41 milhas náuticas do VOR, o número exibido teria sido muito maior. "Romeo está a quantas milhas daqui!?", exclamou.

"Entendemos, funciona direto", disse Boonyayej. A linha para Romeu estava aparecendo, Suttimai só não gostou do rumo que ela tomou.

“Romeo radial dois zero dois, dezesseis DME — espere, seguirei a linha”, disse Suttimai.

Isso respondeu a algumas perguntas sobre o processo de pensamento de Suttimai, mas levantou pelo menos uma nova. Primeiro, mostrou que ele sabia que Romeo estava ao longo da radial 202 do VOR; isto é, ao sul. Segundo, sugeriu que ele pensava que Romeo estava no ponto 16 DME, aparentemente confirmando que ele acreditava ser o início da aproximação. E terceiro, ele se referiu a seguir uma linha — mas qual linha? Certamente não era a linha que apareceu ao selecionar direto para Romeo, porque se tivessem seguido essa linha, teriam retornado. 

Em vez disso, ele poderia estar se referindo à radial 022 do VOR, que também pode ter aparecido como uma linha em seu visor. Se ele tivesse se voltado e tivesse a impressão de que estava voando para o sul, então ele poderia ter pensado que essa linha era a radial 202, e que segui-la o levaria a Romeo mesmo que ele não conseguisse fazer o waypoint aparecer no FMS.

Enquanto isso, o Primeiro Oficial Boonyayej selecionou Romeo novamente e pressionou DIR TO. "Está vindo — já está vindo direto", disse ele.

"Espere, espere, já voltaremos, certo?", disse Suttimai, incrédulo com a indicação resultante. "Voltaremos a falar com Romeu... você pode digitar Romeu de novo?"

“Aqui está Simara de novo, certo?”, Boonyayej disse.

“Ok, retornaremos ao nosso ponto de aproximação inicial novamente… prepare-se para posicionar o Romeo — carregue o Romeo novamente”, repetiu Suttimai.

Enquanto isso, o voo 311 continuou voando para o norte a mais de 230 nós, rumo aos altos picos do Himalaia. Certamente os pilotos não teriam percebido isso — se tivessem, teriam temido por suas vidas.

Suttimai começa a se preparar para retornar à pista (Trabalho próprio, mapa do Google)
Às 12h43, o Capitão Suttimai comunicou-se por rádio com o controle de tráfego aéreo e informou: “Thai 311, 14 DME”.

Este relatório, com um novo DME maior que o anterior, acalmou as preocupações do controlador — o avião estava agora se afastando do VOR, como ele esperava. "Thai 311", disse ele, "manter 11.500, reportar sobre Romeo".

“11.500, relatório sobre Romeu, Thai 311”, Suttimai leu novamente.

Nesse ponto, eles se aproximavam da DME 16, onde a aproximação para a Sierra começa, ou melhor, teria começado, se estivessem na radial direita. Isso significava que precisavam fazer uma curva fechada de volta pelo mesmo caminho, revertendo o curso para iniciar a aproximação. Isso normalmente seria feito virando ligeiramente para a esquerda e, em seguida, fazendo uma curva de 180 graus para a direita, como mostrado acima. Em preparação para essa curva, o Capitão Suttimai usou o botão de direção para ajustar a direção ligeiramente para a esquerda, de 0:25 para 0:05, ou quase para o norte.

O Primeiro Oficial Boonyayej, por sua vez, ainda não conseguia fazer o FMS exibir o que ele queria. "Essa coisa falhou de novo", comentou.

Naquele momento, o voo 206 da Royal Nepal chamou o controlador na mesma frequência do voo 311 da Thai, e uma conversa de ida e volta se seguiu por cerca de 30 segundos, durante os quais os pilotos tailandeses se abstiveram de falar. Após o término da conversa, Suttimai disse a Boonyayej: "Transfira do meu lado", sugerindo que usassem os dados do seu FMS.

"Sim, nós o transferimos, mas ele desapareceu, como antes", disse Boonyayej. Não importava em quais pontos de referência eles entrassem, nenhum aparecia — novamente, porque todos estavam atrás do avião, e o visor mostrava apenas uma fatia de 85 graus do espaço aéreo à frente deles.Não importava em quais pontos de referência eles entrassem, nenhum aparecia — novamente, porque todos estavam atrás do avião, e a tela mostrava apenas uma fatia de 85 graus do espaço aéreo à frente deles.

O capitão Suttimai decidiu esquecer o FMS; era hora de retornar. Ao controlador, ele disse: "Solicite visibilidade do Thai 311".

“Aguarde observação da torre e visibilidade”, respondeu o controlador.

De repente, um sinal chamou a atenção do Primeiro Oficial Boonyayej, e ele foi tomado por uma sensação avassaladora de que algo estava errado. Muito provavelmente, ele simplesmente desviou os olhos do FMS por tempo suficiente para consultar uma bússola, mas nunca saberemos com certeza. De qualquer forma, ele exclamou abruptamente: "Ei, estamos indo... estamos indo para o norte!?"

Seu tom de interrogação pode não ter transmitido a urgência necessária, já que o Capitão Suttimai aparentemente acreditou que Boonyayej estava perguntando quando retornariam para o norte para iniciar a aproximação. "Retornaremos em breve", disse ele. Acionando o microfone, ele disse ao controle de tráfego aéreo: "Kathmandu, Thai 311, solicito retorno à direita para o aeródromo."

Assim que o controlador começou a responder, o sistema de alerta de proximidade do solo, ou GPWS, do avião entrou em ação. "TERRAIN, TERRAIN!", gritou a voz robótica. "WHOOP WHOOP, PULL UP! WHOOP WHOOP, PULL UP!"

“Mudança de nível”, disse Suttimai, calmamente ordenando que Boonyayej configurasse o piloto automático para uma subida a uma altitude maior.

“Volte, volte!” Boonyayej gritou.

"É falso, é falso!", exclamou Suttimai, aparentemente ainda acreditando que estavam ao sul do campo. As cordilheiras ao sul não atingiam a altitude atual do avião, de 3.500 metros, mas havia locais onde o terreno se elevava íngreme o suficiente abaixo da trajetória de voo para interferir no envelope de alerta do GPWS; Suttimai poderia ter pensado que essa era a causa do alarme. Se fosse, isso explicaria sua resposta silenciosa. Mas o aviso não parava: "WHOOP WHOOP, PULL UP!", repetia sem parar. "WHOOP WHOOP, PULL UP! WHOOP WHOOP, PULL UP!"

Infelizmente, o tempo para agir já havia passado. Segundos depois, pouco depois das 12h45, os pilotos avistaram a enorme massa de uma montanha espreitando nas nuvens, bem na sua trajetória. Houve tempo suficiente para alguém gritar: "Oh, não!". E então acabou.

Uma animação do acidente, como apresentada no episódio 10 da 17ª temporada de Mayday: "The Lost Plane". Observe que, na realidade, o penhasco estava inclinado em 70 graus, não completamente inclinado
Ainda a 11.500 pés de altitude, o voo 311 da Thai Airways colidiu de frente com a lateral de um penhasco quase vertical a uma velocidade de 425 quilômetros por hora. O impacto resultou na destruição instantânea e total da aeronave e de todos a bordo, reduzindo ambos a fragmentos em um piscar de olhos. 

O combustível restante do avião atomizou e inflamou-se com um poderoso clarão, e então os destroços começaram a cair de volta à terra, despencando pela face de 70 graus do penhasco e em um vale 800 metros abaixo. Em segundos, tudo o que restou foi uma mancha preta na face do penhasco e um campo de destroços espalhados como neve pela encosta de uma montanha alpina. A devastação foi tão completa que quase não sobrou nada para queimar.

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O local do acidente, visto do nordeste, como apareceu em maio de 2016
(Usuário do Wikimedia LawrieM, anotações próprias)
Quando o voo 311 da Thai Airways International não respondeu a novas chamadas de rádio e, em seguida, não conseguiu chegar a Katmandu, as autoridades nepalesas lançaram uma das maiores missões de busca e salvamento da história do país. Sem nenhum registro de radar que revelasse a última localização conhecida do avião, os socorristas tiveram que basear sua grade de busca nas declarações dos controladores, que relataram que, até onde sabiam, o avião estava ao sul do aeroporto e que sua última distância informada foi de 14 DME. Os socorristas partiram para essa área em busca do avião, e alguns avistamentos de fumaça foram relatados na área, mas o mau tempo e a escuridão se instalaram antes que pudessem ser investigados adequadamente.

No dia seguinte, enquanto os buscadores continuavam seus esforços infrutíferos nas colinas ao sul de Katmandu, uma comissão de inquérito especialmente designada já estava se reunindo para ouvir as fitas do controle de tráfego aéreo na esperança de encontrar alguma pista sobre a localização do avião. 

O momento eureka veio quando ouviram o Capitão Suttimai relatar sua direção como "025", um detalhe que os próprios controladores pareciam ter perdido. A área de busca foi imediatamente expandida para cobrir a área ao norte de Katmandu, onde havia poucas estradas e ainda menos meios de comunicação. Conforme as equipes de resgate entravam na área a pé, seguindo trilhas estreitas entre vilarejos agarrados a encostas íngremes de montanhas, eles receberam a notícia de que moradores da cidade de Gyangphedi tinham ouvido o som de um avião, seguido por uma forte explosão, no dia do acidente.

O local do acidente visto em outubro de 1992, três meses após o acidente
(Usuário da Wikimedia Marphanepal777)
Essa pista restringiu a área de busca a um vale específico, onde uma missão mais abrangente foi organizada na manhã seguinte. Os esforços rapidamente deram resultado e, ao meio-dia de 2 de agosto, 48 horas após o acidente, os destroços foram avistados quase simultaneamente por equipes em terra e no ar. O local do acidente foi encontrado na encosta de uma crista descendente de um pico de 4.800 metros no Parque Nacional de Langtang, no fundo de um vale íngreme cercado por terreno inóspito. 

O ponto de impacto em si era inacessível; apenas o campo de destroços abaixo do penhasco podia ser alcançado a pé, e mesmo isso exigia a navegação por encostas traiçoeiras cobertas por tufos de bambu afiados como navalhas. Além disso, era óbvio que nenhuma das 113 pessoas a bordo havia sobrevivido, e agora seus restos mortais estavam espalhados pela área, misturados com terra, plantas e pedaços de metal.

A investigação do acidente provou ser uma das mais fisicamente exigentes já registradas. À medida que especialistas do Nepal, Tailândia e França, sede da Airbus, convergiam para o local, eles descobriram que as únicas maneiras de chegar ao local eram caminhar cinco horas de ida e volta a partir de um acampamento base em Gyangphedi, ou voar de helicóptero até uma plataforma de pouso improvisada a 12.500 pés (3.800 m) e então descer 1.000 pés (300 m) por uma encosta até os destroços. 

A alta altitude e o alto nível de esforço físico cobraram seu preço — um preço mortal, na verdade. Dias após o início da missão, o piloto de testes britânico Gordon Corps, de 62 anos, que estava no local representando a Airbus, tentava a caminhada do acampamento base até o local do acidente quando foi atingido por um forte mal de altitude. Ele logo desmaiou e morreu enquanto era levado às pressas para um local seguro.

Dadas as condições, foi impossível recuperar a maior parte dos destroços; em vez disso, os investigadores voltaram para casa com pouco mais do que os restos mortais das vítimas e as duas caixas-pretas, que esperavam revelar a causa do acidente. No final, o que eles revelaram talvez não tenha sido tão claro — mas forneceram uma visão detalhada da desconcertante sequência de eventos que fez com que o voo 311 se chocasse contra uma encosta de montanha 40 quilômetros ao norte de Katmandu, quando deveria estar bem ao sul.

Esta foi uma das maiores peças restantes do avião (Usuário do Wikimedia Marphanepal777)
A sequência básica de eventos, revelada pelas caixas-pretas, foi se desenvolvendo lentamente por meio de uma série de falhas de comunicação. Tudo estava inicialmente normal quando o voo 311 iniciou sua descida e se preparou para a aproximação direta da Sierra à pista 02. Apesar de uma interrupção momentânea quando a visibilidade pareceu cair abaixo do mínimo, o avião permaneceu em rota de pouso até estar a cerca de 23 milhas náuticas do aeroporto, quando os flaps não se estenderam corretamente. 

Os pilotos passaram cerca de 90 segundos solucionando o problema, tempo durante o qual permaneceram a 10.500 pés em vez de continuar a descida. Como resultado, acabaram acima do perfil de descida adequado e foram forçados a interromper a aproximação para tentar novamente. 

O Capitão Suttimai pareceu pensar que isso o obrigaria a voar de volta para Romeo, o que não foi o caso. Investigadores nepaleses acreditaram que ele interpretou mal sua carta de aproximação e pensaram que a aproximação começou em Romeo, enquanto investigadores tailandeses argumentaram que os pilotos da Thai Airways foram instruídos a começar a se preparar para a aproximação em Romeo, e que teria sido natural para ele retornar para lá. No entanto, alguns comentários posteriores de Suttimai, que sugeriam que Romeu estava em 16 DME quando não estava, parecem apoiar a visão nepalesa de que ele estava enganado quanto à sua localização.

Nesse ponto, a crença de Suttimai de que Romeo era o início da aproximação e que ele precisava de permissão explícita para retornar causou um mal-entendido entre a tripulação e o controle de tráfego aéreo, que foi então exacerbado pela falta de proficiência em inglês por parte dos controladores. 

Embora não entendessem o pedido de Suttimai, suas habilidades linguísticas eram tão limitadas que eles foram reduzidos a repetir a mesma autorização repetidamente, sem responder diretamente às perguntas do capitão ou explicar a fonte de sua confusão. Em um país de língua inglesa, um controlador poderia ter dito: "Sir, you may turn when you want, you are clear back to the start of the approach by any route" (Senhor, pode retornar sempre que quiser, está liberado para o início da aproximação por qualquer rota), mas os controladores em Katmandu aparentemente não possuíam tal habilidade.

Também vale a pena notar que, com o passar do tempo, o Capitão Suttimai assumiu cada vez mais as funções de rádio, embora fosse o piloto de voo, e manusear o rádio deveria ser tarefa do Primeiro Oficial Boonyayej. Ele provavelmente fez isso porque estava insatisfeito com a capacidade de Boonyayej de extrair as respostas que ele queria do controle de tráfego aéreo, mas ele não se mostrou mais eficaz do que o Primeiro Oficial havia sido. Em vez disso, ele se viu desempenhando as funções de piloto de voo e não de voo, enquanto voava em nuvens em uma área montanhosa sem cobertura de radar e sem qualquer conhecimento de sua autorização atual. Sua carga de trabalho era imensa e as condições eram propícias para um erro.

Um pedaço do malfadado Airbus é usado como marcador ao longo da rota de trekking próxima. Guias da região mencionam o local do acidente como um ponto de interesse (usuário do Flickr dm Knaz)
Após quatro tentativas frustradas de solicitar uma curva à esquerda, que os controladores nem sequer estavam autorizados a conceder, o Capitão Suttimai tomou a decisão unilateral de virar à direita. Os investigadores especularam sobre o motivo pelo qual ele decidiu mudar a direção da curva, mas a melhor explicação que conseguiram encontrar foi que ele estava baseando sua manobra no procedimento oficial de aproximação perdida, embora 5 milhas náuticas antes. 

No entanto, em seu livro "Desastre Aéreo: Volume 3", Macarthur Job acertadamente aponta que o que Suttimai deveria ter feito era continuar em linha reta a 10.500 pés até atingir o VOR, então seguir o procedimento de aproximação perdida até um T, subindo na radial 291 antes de parar no ponto de referência Whiskey. O voo poderia então ter permanecido no padrão de espera prescrito em um local e altitude conhecidos enquanto a tripulação tentava resolver sua situação com o controle de tráfego aéreo. Em vez disso, Suttimai avançou em um espaço aéreo indefinido sem articular um plano claro para o que viria a seguir. Isso preparou o cenário para seu maior erro de todos: ao fazer a curva de volta para a direita, ele simplesmente continuou girando o botão de seleção de direção até que o avião tivesse girado 360 graus completos e voltado para a mesma direção de antes.

Os investigadores passaram longas horas debatendo entre si por que ele fez isso. Uma teoria era que ele estava distraído por seus esforços contínuos para descobrir sua autorização com o controle de tráfego aéreo e continuou girando o botão sem pensar cada vez que sentia o avião nivelar, sem perceber que eles estavam virando muito longe. Outra teoria era que ele queria voar para noroeste para interceptar a radial de 291 graus e aderir ao procedimento oficial de aproximação perdida, mas exagerou. Investigadores tailandeses, por outro lado, argumentaram que a curva foi completamente intencional, embora seja difícil imaginar o porquê. 

Este autor pelo menos não consegue pensar em nenhuma razão concebível pela qual o Capitão Suttimai teria conscientemente desejado voar em direção nordeste em direção às montanhas a 11.500 pés, mesmo que ele achasse que receberia autorização para retornar a Romeo em breve. A área ao norte de Katmandu tinha uma altitude mínima de 6.400 metros, e os pilotos já estavam bem cientes dos vários mínimos na área, então é difícil imaginar que eles não soubessem do limite de 6.400 metros, ou que não se importassem com isso. Faz muito mais sentido acreditar que, quando o Capitão Suttimai fez a curva de 360 graus, ele pensou que estava apenas girando 180 graus, e estava tão distraído que não percebeu essa correção exagerada.

Se, em seu modelo mental, Suttimai tivesse girado apenas 180 graus, e não 360, então ele teria acreditado que estava voando para o sul, para longe do terreno elevado, o que explicaria sua falta de preocupação. Além disso, uma vez estabelecida essa crença, o viés de confirmação o teria levado a rejeitar pistas que sugerissem que ele estava, na verdade, voando para o norte. Por exemplo, ele não pareceu registrar que sua direção de 025 estava incorreta — ele provavelmente apenas a leu sem pensar. Além disso, ele parecia estar ciente de uma linha em seu visor de navegação, que pode ter sido a radial 022 do VOR, mas se ele pensasse que era a radial 202, então lhe pareceria que havia selecionado a direção correta.

A maior parte dos destroços foi deixada no local, e várias peças como esta foram
encontradas nas aldeias vizinhas (Autor desconhecido)
Considerando tudo isso, esses foram erros que um piloto treinado e experiente como Preeda Suttimai só poderia ter cometido na ausência de consciência situacional adequada. Essa perda de consciência ocorreu devido à alta carga de trabalho que ele impôs a si mesmo, enquanto se comunicava em uma língua estrangeira com um controlador de tráfego aéreo aparentemente inútil e, ao mesmo tempo, tentava realizar manobras complexas em baixa visibilidade.

Essa perda de consciência colocou o voo 311 em rota de colisão com uma montanha, mas um acidente ainda não era garantido. O voo, de fato, continuou para o norte por mais cinco minutos e poderia ter dado meia-volta em praticamente qualquer ponto sem atingir nada. Mas, para corrigir a situação, os pilotos precisariam primeiro reconhecer que haviam perdido a consciência situacional, e essa etapa crítica nunca aconteceu. Em vez disso, ambos os pilotos se concentraram exclusivamente em tentar fazer o FMS mostrar os pontos de referência e as rotas que desejavam. 

Os minutos finais do voo foram consumidos por seus esforços infrutíferos para fazer Romeu aparecer no visor, quando ele não pôde, de fato, aparecer, pois estava atrás deles. Não há certeza se os dois visores do FMS funcionaram corretamente durante esse período — na verdade, sabia-se que às vezes poderiam ocorrer mau funcionamento se ambos os pilotos inserissem informações usando seus teclados separados simultaneamente. 

Mas alguns comentários feitos pela tripulação parecem ser consistentes com um visor do FMS mostrando um arco de volta para o caminho de onde vieram, o que sugeriria operação normal. Muito provavelmente, mesmo que os monitores estivessem funcionando corretamente, os resultados da seleção de “Romeu” foram suficientemente incongruentes com suas expectativas, a ponto de eles acreditarem que havia um problema.

A coisa mais prudente a fazer neste momento teria sido recorrer a métodos de navegação mais simples — seus receptores VOR, localizadores automáticos de direção e bússola magnética. Estes certamente teriam revelado que eles não estavam onde pensavam estar. Mas quando o Primeiro Oficial Boonyayej finalmente olhou para um instrumento analógico por tempo suficiente para perceber que estavam voando para o norte, restavam apenas 30 segundos até o impacto. Se tivessem reagido a essa descoberta executando imediatamente uma curva acentuada e ascendente, poderiam ter escapado por pouco das montanhas — ênfase em "talvez". 

Mas as montanhas eram tão altas, e suas encostas tão íngremes, que em segundos o avião entrou em uma situação irrecuperável, onde não havia espaço suficiente para subir nem para dar meia-volta. E quando o GPWS foi ativado 17 segundos antes do impacto, certamente era tarde demais.

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Os corpos das vítimas do acidente são transferidos de um helicóptero em Katmandu (The Asahi Shimbun)
Essa sequência de eventos destacou uma série de armadilhas importantes na tomada de decisões que os humanos frequentemente encontram em situações complexas. Em geral, tendemos a não reconhecer quando o nível de complexidade excede nossa capacidade de acompanhar todos os parâmetros relevantes, especialmente se a complexidade aumenta lentamente ao longo do tempo, como aconteceu no voo 311. Nesses casos, tendemos a pular de um problema para o outro, focando em cada um deles, sem reconhecer que a situação em si se tornou um problema que está além da nossa capacidade de resolução. A ação correta, então, é abandonar a situação. 

No voo 311, isso significaria subir a uma altitude elevada, escolher uma direção para o sul e se afastar o máximo possível das montanhas antes de recomeçar do zero. Certamente não significava se atolar tentando solucionar problemas em um computador. Na verdade, o melhor conselho em uma situação como essa é abandonar os computadores, abandonar a automação e voar com base em dados brutos até que você possa confirmar com seus próprios olhos que não está em perigo. Mas para fazer isso, é preciso ser treinado para reconhecer as circunstâncias em que isso é necessário, e esses pilotos evidentemente não o foram.

Muito poderia ser dito sobre a falta de gerenciamento dos recursos da tripulação, ou sobre a inexperiência do controlador da torre (ele estava no cargo havia 9 meses), ou sobre a notável falta de curiosidade dos controladores em relação aos relatórios cada vez mais estranhos do voo 311. De fato, ninguém fez um trabalho particularmente bom naquele dia. Mas focar em erros específicos não nos ajuda a aprender a evitar situações semelhantes, que envolvem erros diferentes, falhas de comunicação diferentes e problemas diferentes, mas as mesmas circunstâncias fundamentais que fazem com que uma situação complexa saia do controle. A lição do voo 311 é que é preciso aprender a reconhecer essa "névoa de confusão" de dentro para fora, porque, assim que se sabe que ela está lá, é fácil escapar.

Ainda assim, é mais fácil falar do que fazer. Assim que o relatório oficial foi divulgado, o voo 311 da Thai Airways se tornou um estudo de caso sobre consciência situacional no treinamento de pilotos de companhias aéreas ao redor do mundo, incluindo a American Airlines. Três anos depois, no entanto, dois pilotos da American Airlines que haviam estudado recentemente o voo 311 estavam se aproximando de Cali, Colômbia, quando voaram seu Boeing 757 em uma montanha , matando 159 pessoas em circunstâncias muito semelhantes. Eles também estavam voando em meio a altas montanhas para um aeroporto sem radar; sofreram uma falha de comunicação com um controlador; sem saber, saíram do curso enquanto estavam em uma situação de alta carga de trabalho; ficaram excessivamente focados em seu FMS; e mergulharam em uma névoa de confusão da qual nunca emergiram. Se os pilotos tivessem reconhecido essas semelhanças antes da ativação repentina do GPWS, o voo 965 da American Airlines poderia não ter caído.

Representações topográficas dos minutos finais do voo 311 da Thai Airways e do voo 268 da PIA,
 conforme desenhado por Matthew Tesch em “Desastre Aéreo: Volume 3”, de Macarthur Job
Há, é claro, outra maneira de abordar o problema, que é implementar salvaguardas tecnológicas que impeçam o desenvolvimento de uma névoa de confusão. A necessidade dessa abordagem tornou-se evidente apenas dois meses depois, em 28 de setembro de 1992, quando a tragédia atingiu o Nepal pela segunda vez. Desta vez, não houve névoa de confusão, apenas um simples erro em um ambiente implacável. 

Quando o voo 268 da Pakistan International Airlines, um voo regular de Islamabad, se alinhou para a mesma aproximação da Sierra à pista 02 em Katmandu, os pilotos aparentemente interpretaram mal sua carta de aproximação e começaram a descer um degrau fora de fase com o perfil de aproximação correto. Em cada ponto DME, eles desciam para a altitude prescrita para o ponto seguinte, e assim por diante, até que o Airbus A300 colidiu abruptamente com o topo de uma montanha de 2.400 metros ao sul do aeroporto. Todas as 167 pessoas a bordo morreram no que continua sendo o pior desastre aéreo do Nepal.

Este acidente, e também o da Thai Airways, poderia ter sido evitado facilmente se o Aeroporto Internacional de Tribhuvan estivesse equipado com radar. Um avião estava fora de rota, o outro estava muito baixo, mas ambos teriam sido detectados pelo radar. No caso do voo 268, um controlador astuto detectou um problema quando o piloto paquistanês relatou "10 DME a 8.200 pés", o que ele sabia ser muito baixo, mas, embora tenha solicitado ao voo uma verificação de altitude imediata, já era tarde demais. O radar, por outro lado, teria revelado a discrepância muito antes.

Esses dois desastres em 1992 levaram à instalação de um radar moderno no Aeroporto Internacional de Tribhuvan em 1997. Devido à inclinação do terreno ao redor, o aeroporto ainda não possui um sistema de pouso por instrumentos, mas agora oferece uma aproximação RNAV, além da antiga aproximação VOR/DME, permitindo que os voos naveguem até a pista usando GPS. Essas melhorias, sem dúvida, tornaram mais seguro voar para o Nepal e, com o crescimento da indústria do turismo no país nos últimos 30 anos, resultando em um aumento significativo do tráfego aéreo, as proteções extras provavelmente evitaram novos acidentes.

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Um memorial às vítimas do voo 311 foi erguido na vila de Kakani, a noroeste de Katmandu
 (“TG 311 Always in Our Hearts” no Facebook)
Apesar de tudo, voar no Nepal hoje ainda é considerado inseguro. O país mantém um dos piores históricos de segurança do mundo, especialmente entre suas companhias aéreas domésticas, embora as companhias aéreas internacionais também não tenham escapado de desastres — em 2018, por exemplo, 51 pessoas morreram quando um avião de Bangladesh saiu da pista ao pousar em Tribhuvan e explodiu em chamas. 

Dito isso, o acidente dificilmente foi culpa do Nepal, já que o piloto sofreu um colapso mental durante a aproximação final, levando diretamente ao acidente. Muito mais preocupante para quem espera viajar para o Nepal é o recente acidente do voo 691 da Yeti Airlines, que mergulhou abruptamente em um desfiladeiro ao se aproximar de Pokhara em 16 de janeiro de 2023, matando todas as 72 pessoas a bordo.


Mais uma vez, a infraestrutura pode ter sido afetada: na verdade, o aeroporto de destino havia sido inaugurado duas semanas antes, e um procedimento oficial para a aproximação escolhida pela tripulação ainda não havia sido publicado, uma discrepância preocupante que a investigação espera elucidar.

Para aqueles que não têm planos de voar para o Nepal, a lição mais útil é aprender a recuar em uma situação complexa. Não é preciso ser piloto para encontrar valor nisso. Se você estiver dirigindo na rodovia, perdeu a saída, seu telefone está tocando e a luz de verificação do motor está acesa, considere parar para lidar com cada problema, um de cada vez. Os pilotos do voo 311 se encontraram em uma situação como essa, mas continuaram dirigindo. A questão é: você vai conseguir?

Edição de texto e imagens por Jorge Tadeu (Site Desastres Aéreos) e Admiral Cloudberg