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Foi às 23 horas, 56 minutos e 20 segundos (horário de Brasília) da fria noite de 20 de julho de 1969 que o homem pisou a Lua pela primeira vez. Há 40 anos, portanto. E pisou com o pé esquerdo. Não vai aqui nenhuma superstição, é que de fato foi esse o pé que o astronauta americano Neil Armstrong conseguiu pôr em primeiro lugar no poroso e irregular solo lunar, após descer a escada metálica do módulo (batizado de Águia) da Apollo 11. Armstrong era um homenzarrão de quase 100 quilos. Naquele momento, sem a gravidade da Terra, começou a andar em leves saltos e experimentou em seu corpo a sensação de pesar feito uma criança de 15 quilos. Nosso planeta conquistara a Lua.
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A ciência espacial, dali para a frente, nunca mais seria a mesma - e seu desenvolvimento chegou ao inimaginável. Na verdade, deve-se à Lua - tal foi a tecnologia que se teve de criar para alcançá-la - um legado fantástico não somente nesse setor, mas em diversas áreas científicas. Também esse é um precioso ganho da conquista do nosso satélite natural. No que se relaciona diretamente ao espaço, hoje se sabe, por exemplo, que existe água em Marte e as sondas que lá estiveram devem um tributo à quarentona Apollo 11 - e, se lá há água, é bem provável que tenha havido vida ou, quem sabe, ainda existam formas de vida bacterianas em condições de sobrevivência em ambientes extremos.
Fora do campo da astronomia e das metas espaciais, a herança tecnológica daquela noite do pé esquerdo é diversificada. Por exemplo: na medicina foi possível a criação do marca-passo e da tomografia computadorizada. Na dieta, criaram-se os alimentos desidratados. No vestuário, foram desenvolvidos materiais sintéticos, mais leves e resistentes, que atualmente entram na confecção de tênis e roupas. Na cozinha, quem diria, a revolucionária panela revestida de teflon tem um pé na Lua: ele foi criado para revestir a Apollo 11 com a finalidade de ela resistir a altas temperaturas.
No campo da política internacional, os americanos conquistaram a Lua no cenário da chamada Guerra Fria entre EUA e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (a ex-URSS), na qual a corrida ao espaço era também um fator para se marcar a hegemonia da democracia capitalista sobre as ditaduras comunistas. Some-se tudo que derivou daquela noite de 20 de julho de 1969, some-se ciência e ideologia, e se verá que faz sentido o fato de Armstrong ter cravado no satélite a bandeira de seu país. "Esse é um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade", disse o astronauta.
Na Terra a Agência Espacial Americana (Nasa) transmitiu a cena ao vivo (a primeira transmissão ao vivo via satélite para televisão) a cerca de 1,2 bilhão de pessoas - muitas maravilhadas, outras temerosas, sem falar nas incrédulas. A comerciante da cidade paulista de Rio Claro Maria de Lourdes Marchiori relembra, emocionada. "Minha família estava toda reunida ao redor da tevê. A imagem era em preto e branco. Ficamos impressionados e ao mesmo tempo não acreditávamos", disse ela à ISTOÉ na semana passada. "Mas jamais esqueci aquela noite. Eu tinha 15 anos, meus pais não permitiam que eu ficasse acordada até mais tarde, mas naquela ocasião essa regra se quebrou."
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Na cidade mineira de Capitólio, outra família uniu-se na sala. "A tevê que tínhamos na época exigia que um parente ficasse sentado ao lado dela porque a todo momento a tela corria verticalmente e era preciso regulá-la no botão. Mas vimos o homem pisar a Lua. Ninguém nem respirava", diz João Vianei Soares, hoje coordenador-geral de Observação da Terra do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). "Eu era criança e acho que ali se definiu a minha vocação profissional".
As imagens através da tela que teimava em correr e lhe ficaram na lembrança dão conta também dos dois companheiros de Armstrong, os astronautas Michael Collins e Edwin Aldrin: o primeiro em estado contemplativo, o segundo retirando uma hóstia de um estojo e levando- a à boca. Aldrin era católico fervoroso e, ao mesmo tempo, um homem convicto da racionalidade de sua missão espacial. Ciência e Deus se entrelaçaram. Foi a primeira comunhão na Lua. Quatro anos depois ele mergulhou no alcoolismo: "Alguns de nós sofrem de tendências ao vício. As minhas vieram à tona depois de meu voo à Lua." Aldrin passou seis anos em clínicas e hoje se dedica a divulgar o turismo espacial.
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Com intervalos entre maiores e menores investimentos, é certo que a Nasa, em média, acelerou a produção de equipamentos para uma série de lançamentos da missão Apollo - US$ 25 bilhões foram gastos e 400 mil profissionais envolveram-se no projeto. Desde que a Apollo 11 e os três astronautas pioneiros retornaram à Terra na madrugada de 24 de julho de 1969 (pousando no oceano Pacífico), foram seis as missões tripuladas que alunissaram - ao todo 12 homens - em diversos pontos do satélite, mas sempre em sua face que está voltada à Terra, para segurança de comunicação. A última visita humana se deu em 1972.
Na exploração do universo, as agências espaciais americana e europeia voltaram então seu interesse para a descoberta de galáxias e a exploração de Marte. Mas a Lua, pelo menos em planos, continuou presente. Foi a partir de um jipe lunar que se chegou ao robô Spirit e à sonda Phoenix, que em 2008 encontrou água em Marte. Quarenta anos, em termos de história da humanidade, é ainda ontem, mas em termos de tecnologia já é uma eternidade, dada a velocidade com que ela progride. E o futuro é amanhã. Prova disso é que a Nasa se prepara para montar bases de colonização na Lua, com o satélite LRO. E, dela, saltará para Marte.
Fonte: Luciana Sgarbi (IstoÉ) - Fotos: NASA/REUTERS - Arte: Fernando Brum
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