As autoridades brasileiras deveriam admitir a existência de uma agenda oculta que não quer pobres viajando de avião. Essa foi a mensagem deixada hoje pelo presidente demissionário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, em entrevista na qual se despediu do cargo e procurou esclarecer e defender suas ações à frente do órgão durante o apagão aéreo.
Ele não citou nomes, mas claramente se referiu ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Não vou falar em nomes, mas quem diz que aeroportos se transformaram em rodoviárias (...) precisa ser honesto e assumir que não gosta nem quer pobres em aeroportos e aviões, fulminou o diretor, citando frase dita pelo ministro.
Segundo Zuanazzi, há uma agenda oculta para o setor aéreo, na qual se propõem medidas que levem a aumento no preço das passagens e, consequentemente, à limitação do acesso às classes mais pobres. Abertamente, o presidente critica as propostas de Jobim de reduzir a oferta em alguns aeroportos e restringir as horas de vôos das aeronaves que, segundo ele, devem levar a aumento nos preços e diminuir a chance de pobres e de a classe média viajarem.
Ainda sem se referir diretamente a Jobim, Zuanazzi comparou as mudanças na diretoria da Anac com um time de futebol que, atuando mal, troca seu treinador. Às vezes o problema é esse, mas na maioria dos casos, o motivo (do mau desempenho) é outro. Mas, segundo ele, isso é praxe na política brasileira, que agora vê um movimento sendo criado e que leva à saída da diretoria de uma agência de Estado.
Fonte: José Sergio Osse - Valor Online
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