Por: Carlos Oliveira*
Não percebo como há pessoas que duvidam deste feito, em face de todas as evidências - desde rochas, passando pela parte de baixo dos módulos lunares que lá foram deixados, e acabando nos refletores que foram lá colocados pelos astronautas e que permitem diariamente saber com precisão a distância a que a Lua está, entre muitas outras provas.
É curioso que quem duvida, por ignorância ou assumindo ignorância da parte dos seus leitores/ouvintes, assume que só esteve lá uma missão - foram 6 missões, com 12 homens ao todo!
É também curioso que quem duvida tenha como principal argumento a falta de estrelas nas fotos. É um disparate de argumento - mas é só um entre muitos, e até há piores! Qualquer pessoa com uma máquina fotográfica pode ir até lá fora e tirar uma foto ao céu estrelado e depois digam-me quantas estrelas aparecem.
Quanto ao não se ir agora lá – outro argumento sem sentido -, não é necessário inventarem-se teorias da conspiração. Sabe-se perfeitamente a razão para não se ir lá.
Como se costuma dizer: "já se tem a t'shirt, para quê voltar?" Foi-se lá por motivos políticos, esses motivos políticos desapareceram, tendo sido os motivos científicos a concentrarem-se na área à volta da Terra, mais precisamente nas experiências científicas na Estação Espacial Internacional. Para ir à Estação Espacial Internacional não é preciso um "embalo" tão grande - daí que os lançadores tipo Saturn V deixaram de ser necessários. Preferiu-se fazer os vaivéns espaciais - mas estes não têm poder para ir à Lua.
Ou seja, deixou-se de ir à Lua por motivos concretos, científicos, que fez com que deixasse de ser necessária a tecnologia mais "potente". Mas ela existe! Só não é precisa! Quando fôr precisa de novo, será novamente feita, melhor e mais moderna. Esperem pelos Chineses e pelo programa americano Constellation.
Também acho interessante provavelmente terem um forno microondas na cozinha e mesmo assim duvidarem que o Homem foi à Lua. Com que objetivo pensam que o microondas foi desenvolvido? Sem a NASA e o programa lunar, essa era uma das tecnologias que não teriam em casa – entre outras!
O que considero completamente irracional é haver tantas provas de que fomos à Lua, é não haver um cientista que pense o contrário, e no entanto ainda haver gente que pensa que não fomos, só porque sim e apresentando argumentos ridículos.
Será que pensam que a ciência mente? Se é assim, então deixem de entrar na net (feita com base na ciência), não andem de carro (que trabalha devido a processos científicos), etc.
Ou será que pensam que os cientistas são mentirosos? Se é assim deviam deixar de ir a médicos (que são cientistas por natureza), e deviam ligar-se a grupos que dizem que a Terra não é redonda – estes também acreditam que todas as imagens tiradas por astronautas fora da Terra são falsas, não têm inteligência suficiente para perceberem que estão constantemente a utilizar tecnologia por satélite, e simplesmente não conseguem abrir os olhos durante um eclipse (quando se vê a sombra da Terra e ela é redonda).
Aristóteles provou que a Terra é redonda há mais de 2300 anos, e no entanto ainda há quem, no século XXI, não acredite e pense que ela é plana; quando, como eu disse atrás, basta abrir os olhos. Esta falta de pensamento racional estende-se a outras áreas – como por exemplo, a quem não acredita que o Homem foi à Lua.
Para concluir: todos os pensam que o Homem não foi à Lua, assumem obviamente que todos os cientistas estão a mentir. Ao fazê-lo, devem então pôr a hipocrisia de lado e deixar de ir aos cientistas ou de confiarem na ciência quando precisam (por exemplo, na net, na doença, etc); mas aconselho-vos a irem ainda mais longe! Como diz Richard Dawkins: convido todos esses que duvidam da ciência e dos conhecimentos dos cientistas para subirem ao topo de um edifício de 20 andares e atirarem-se cá para baixo.
Das duas uma: ou os cientistas são mentirosos e subsequentemente a gravidade não existe e a pessoa poderá voar sem problemas; ou então será menos uma pessoa no mundo com ideias disparatadas. Qualquer que seja a resposta, o mundo fica a ganhar!
* Estudante de doutoramento em Educação Científica com especialização em Astrobiologia, na Universidade do Texas em Austin nos EUA. Carlos Oliveira é professor nesta mesma Universidade e colaborador de Ciência Hoje.
Fonte: Ciência Hoje (Portugal) - Fotos: NASA