Será possível um avião de papel sobreviver à reentrada na atmosfera terrestre? Um grupo de investigadores no Japão decidiu levar esta ideia – literalmente até ao espaço.
Pode parecer uma brincadeira de recreio, mas é um estudo sério com implicações reais para o futuro da sustentabilidade no espaço: investigadores da Universidade de Tóquio estão a estudar o comportamento de aviões de papel lançados do espaço. A ideia, que combina o tradicional origami japonês com engenharia aeroespacial de ponta, pode vir a ajudar a reduzir os impactos ambientais da atividade humana em órbita.
Isto porque o lixo espacial é um problema enorme. Segundo uma notícia da Euronews que cita este relatório da Agência Espacial Europeia (ESA), cerca de 1200 pedaços de destroços de foguetões caíram na Terra no ano passado. Além disso, cerca de 54 mil pedaço de lixo espacial com mais de 10 cm continuam a flutuar à volta do planeta. “A organização cita que estes estão a aumentar em número e tamanho”. A Euronews revela ainda citando outros especialistas que a taxa de objetos devolvidos à Terra pode chegar a 15 por dia em dez anos. O número de lançamento de satélites é uma das causas, aponta o mesmo artigo.
Uma folha A4 no espaço
Voltando ao “avião espacial”. Este não é mais do que uma folha comum de papel A4 dobrada num estilo clássico de “dardo”. Mas não se deixe enganar pela simplicidade: os cientistas testaram este mini-satélite de papel com rigoroso realismo.
O estudo assume que o avião seria libertado da Estação Espacial Internacional (a cerca de 400 km de altitude). A partir daí, a pequena aeronave inicia a sua queda em direção à Terra, atravessando camadas cada vez mais densas da atmosfera – um verdadeiro teste de resistência térmica e aerodinâmica.
Simulações, túneis de vento e física pura
Para estudar o comportamento do avião de papel, os investigadores usaram uma simulação numérica avançada que combina órbita, atitude e aerodinâmica. Além disso, testaram protótipos em túnel de vento hipersónico para observar como o papel se comporta sob calor extremo e velocidades altíssimas.
As descobertas foram surpreendentes:
- O avião desce rapidamente da órbita devido à sua baixíssima massa e elevada área de arrasto.
- A sua orientação é estável, apontando naturalmente na direção do movimento, como um dardo lançado com precisão.
- Mas infelizmente, o avião não sobrevive à reentrada: o calor acumulado leva à combustão ou pirólise do papel, mesmo antes de chegar à superfície terrestre.
Origami espacial com propósito
O estudo não visa criar brinquedos para astronautas, mas sim explorar materiais sustentáveis para uso no espaço. Ao substituir metais por compostos orgânicos, como o papel, os engenheiros podem reduzir o lixo espacial e minimizar a poluição gerada quando satélites queimam na atmosfera.
“O papel é leve, barato, biodegradável e fácil de moldar. Esta investigação abre portas para novos conceitos de veículos espaciais temporários ou descartáveis, como sensores atmosféricos ou estruturas de reentrada de curta duração,” explicam os autores.
Sustentabilidade além da Terra
Num momento em que a quantidade de lixo espacial se tornou uma preocupação crescente, projetos como este apontam para novas soluções criativas. Os chamados “femto-satélites”, com menos de 100 gramas, podem vir a ser feitos de materiais como papel reciclado, que se desintegram de forma segura na atmosfera – sem deixar rasto.
E agora?
Apesar de ainda ser uma ideia em fase conceptual, o projeto de “origami espacial” já está a atrair atenção internacional. Os investigadores esperam que futuros testes possam ser feitos no espaço real, talvez com lançamentos experimentais de aviões de papel diretamente da Estação Espacial Internacional.
Por agora, a mensagem voa alto: a sustentabilidade espacial também pode começar com uma simples folha de papel dobrada com engenho e ciência.
Via sustentix.sapo.pt



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