Ao lado, Bianca Penelas, gerente sênior de operação da Azul, no CCO da empresa (Imagem: Alexandre Saconi)
"Qual é a primeira coisa que você faz no trabalho?", pergunto. "Você quer dizer a primeira coisa quando eu chego ao CCO [Centro de Controle de Operações] ou quando eu começo a trabalhar mesmo? Porque eu acordo e já estou trabalhando", diz aos risos Bianca Penelas.
Dos cerca de 280 mil voos analisados, 88,93% chegaram com até 15 minutos de atraso no destino, a melhor marca para uma linha aérea no mundo. E essa é a primeira vez que uma empresa brasileira assume o posto.
Como funciona a operação
Bianca explica que, por dia, a Azul chega a operar cerca de 900 voos. Em 2022, a empresa atingiu a marca de cerca de 27,2 milhões de passageiros transportados, segundo dados disponibilizados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Antes de transportar os passageiros em si, os voos passam por dois setores para programar a operação: planejamento de malha e planejamento de escala. Um irá definir como os voos serão feitos, qual a capacidade das aeronaves e quais as rotas, enquanto o outro setor define a escala dos profissionais que irão atuar neles.
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CCO (Centro de Controle Operacional) da Azul, em Barueri (Imagem: Alexandre Saconi) |
Veja o ranking de pontualidade:
- Azul: 88.93% dos voos
- All Nippon Airways: 88.61% dos voos
- Japan Airlines: 88.00% dos voos
- Latam Airlines (grupo): 86.31% dos voos
- Delta Air Lines: 83.63% dos voos
A partir daí, a previsão de voos é levada ao CCO (Centro de Controle Operacional) da empresa, que fica em Barueri (SP). Ali, todos os detalhes das operações e eventuais problemas são gerenciados em tempo real em todos os locais onde a empresa opera.
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Avião da Azul em inauguração do voo de Manaus para Fort Lauderdale (Imagem: Divulgação) |
Entre alguns dos problemas que podem ser encontrados cotidianamente, se destacam:
- Aeroporto fechando por causa de problemas meteorológicos
- Tripulante que precisou se ausentar por motivos de saúde
- Parada para manutenção não programada, como quando uma ave colide no avião
- Desvio de voo após um passageiro passar mal
Se um avião apresentar um problema, a equipe busca outra aeronave que possa cumprir a rota no lugar daquele. Já se um piloto não conseguirá estar em um voo, outro que fica na espera assume o posto dele na operação.
Também é preciso coordenar como reacomodar os passageiros em caso de cancelamento do voo e os locais onde as tripulações irão ficar caso excedam a carga horária de trabalho.
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Estivemos no CCO (Centro de Controle Operacional) da Azul, em Barueri (Imagem: Alexandre Saconi) |
Por exemplo, se o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro fecha por causa da meteorologia e o voo é alternado para pousar no Galeão: É preciso replanejar qual avião irá buscar os passageiros que estão no Santos Dumont que iriam embarcar naquela aeronave quando o local fosse reaberto, já que ela foi parar no Galeão.
Esses são apenas alguns dos desafios que precisam ser enfrentados diariamente por uma empresa aérea, sem levar em conta falhas de infraestrutura dos locais onde são feitos os voos, equipes de empresas terceirizadas que atuam no solo, falhas em pistas, entre outras.
São aproximadamente 900 operações por dia que são acompanhados por 150 funcionários da empresa 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Quem comanda a operação?
Foto ao lado: Bianca Penelas, gerente sênior de operação da Azul, no CCO da empresa (Imagem: Alexandre Saconi)
Quem está à frente de toda operação de voos da empresa é a carioca Bianca Penelas. Sua história começou na Varig, em 1994, onde entrou quando tinha 23 anos de idade. Quando a aérea faliu, ela foi trabalhar na instalação do centro de operações da Barcas, empresa de transporte aquaviário no Rio de Janeiro.
Em 2009 voltou para a aviação, quando entrou na Azul, já no CCO. A partir dali, assumiu vários postos até chegar à posição de gerente sênior das operações, tornando-se a primeira mulher a assumir o cargo.
Com a conquista do prêmio de pontualidade, Bianca diz ter orgulho de sua atuação. "Eu gosto muito do que eu faço, e não é um trabalho só meu. Ele começa nos planejamentos, passa pelo CCO e chega nas pontas, que são os aeroportos, a manutenção e as empresas especializadas. Não é um mérito só meu", diz a gerente.
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CCO: 125 funcionários durante 24h operam o centro (Imagem: Alexandre Saconi) |
Sobre sua presença em um meio predominantemente masculino, Bianca diz que leva isso de maneira natural. "Hoje, se eu chegar no trabalho e alguém fizer uma piadinha sem graça, eu corto logo e não me afeta em nada. Mas eu fico preocupada com as minhas funcionárias, pois eu quero muito que tenham mais mulheres na liderança. Lá atrás eu tinha de me impor mais, falar com mais firmeza algo que outro colega, falando baixinho, seria respeitado de cara."
Outras áreas no CCO
Para que os voos saiam (e cheguem) no horário, Bianca ainda atua com equipes de outras áreas da empresa que ficam sob sua responsabilidade durante as operações.
Uma delas é formada por profissionais que auxiliam pilotos e mecânicos a solucionarem problemas encontrados com os aviões.
Também há uma equipe, entre outras, ligada à logística de materiais para a realização de manutenções, tanto as programadas quanto as não programadas, que precisam ser feitas fora do hangar principal da empresa, em Campinas.
Raio-X
- Bases da empresa: 158 em vários países
- Aviões: 167 aeronaves
- Rotas: Cerca de 300
- Operações diárias: Aproximadamente 900 pousos e decolagens por dia
- Funcionários na área de operações: 150 no total
- Pilotos: Acima de mil pilotos
- Comissários: Cerca de 3.300
- Funcionários na empresa: Mais de 14 mil
- Passageiros em 2022: 27,2 milhões