O show do atraso - O paulistano Felipe Andreoli, repórter do programa CQC, voa em média oito vezes por semana a trabalho. Para se precaver, marca todos os voos com duas horas de folga. Mesmo assim, às vezes chega atrasado. No mês passado, deixou uma plateia inteira na mão no Rio de Janeiro porque não conseguiu chegar a tempo para fazer um show. “Tive de devolver o dinheiro dos ingressos”, ele lamenta.
Engarrafamento de aeronaves - A atriz Larissa Maciel, 32 anos, viveu um pesadelo no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Ao pousar ali devido a um temporal, seu avião, que vinha do Rio de Janeiro, ficou parado em meio a uma frota de mais oito, todos no aguardo de uma vaga para o desembarque dos passageiros. A espera durou cinco horas. “O comandante se limitou a dizer que Viracopos não tinha infraestrutura para receber tanta gente.”
Dezessete horas para chegar ao Maranhão - A enfermeira Paula Sodré, 30 anos, passou por diversos sufocos numa única viagem, de Ribeirão Preto a São Luís. Contabilizados os atrasos, um overbooking numa das conexões e ainda uma escala fora do previsto, em Manaus, a epopeia, que deveria consumir seis horas, durou dezessete. “O pior é que vivi tudo isso sem receber sequer um pedido de desculpas.”
Enganado pelo taxista - Em viagem recente de São Paulo ao Rio de Janeiro, o analista de sistemas Fernando Labombarda, 31 anos, viveu momentos de tensão dentro do táxi que pegou no ponto do Santos Dumont. Ao perceber que o motorista dava voltas na cidade alegando se tratar de um atalho, ele resolveu saltar no meio da rua. “Já sabia da má fama do ponto desse aeroporto, mas dessa vez senti a insegurança na própria pele.”
O mistério do embarque - Em março, o casal Markus Runk e Camila Giudice embarcou no Santos Dumont e não foi a lugar algum. Depois de meia hora dentro do avião, desembarcaram para aguardar novo embarque. Por fim, decidiram dormir num hotel e pegar um voo pela manhã. Levando em conta o tempo de espera, a viagem que deveria durar uma hora, demorou quinze.
Uma noite no aeroporto - A chef de cozinha Renata Bessa, 30 anos, foi forçada a passar a noite no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, sem saber se seu voo iria decolar ou não. Em nenhum momento lhe ofereceram comida ou acomodação. “A companhia aérea informava que embarcaríamos dali a meia hora, dali a uma hora, e o embarque não acontecia nunca”, conta.
A conta do tempo perdido - Fabricante de móveis no Rio Grande do Sul, Maristela Cusin Longhi, 48 anos, viaja de avião até oito vezes por mês. Em seu roteiro, ela sempre acrescenta uma hora para compensar os atrasos no avião. No ano passado, a precaução foi superada por um superatraso. A viagem entre Porto Alegre e Londrina, no Paraná, normalmente de duas horas e meia, demorou nove horas. “O mais grave não é o atraso no voo, mas a falta de informação sobre o que está acontecendo.”
Um atraso a cada três voos - O economista carioca Gilberto Braga, 49 anos, fez uma conta: a cada três voos na ponte aérea, trecho que ele percorre semanalmente, um sai com atraso. Depois de perder dezenas de compromissos por isso, tomou a decisão de ir a São Paulo sempre na véspera. Para cobrir o prejuízo do hotel, o economista passou a cobrar 10% a mais por suas consultorias. “No aeroporto, estou sempre pronto para o caos”, diz.
Socos e empurrões em Guarulhos - O voo da publicitária Mariana Tozzini, 25 anos, para Nova York foi cancelado devido a nevascas no destino. No dia seguinte, ela e os outros passageiros tentaram conseguir lugar num avião da mesma companhia, que já estava lotado. O impasse no check-in degenerou em tumulto, com socos e empurrões, que só terminou com a chegada da polícia. “Os passageiros ficaram furiosos porque muitos deles iriam perder reservas e passeios que já estavam pagos”, conta Mariana.
De castigo no avião – Vítima frequente de atraso de voos, a administradora de empresas Cristiane D’Amico, 37 anos, ficou em agonia, já dentro do avião, quando o comandante avisou que a aeronave que seguia de Brasília para São Paulo precisaria passar por manutenção. Preocupada, ela tentou descobrir o motivo, sem sucesso. “Foram quatro horas de confinamento sem nenhuma explicação”, queixa-se.
UM BOM EXEMPLO EM NATAL
Natal, a capital do Rio Grande do Norte, vai ganhar até 2012 um aeroporto exemplar. Localizado em São Gonçalo do Amarante, terá capacidade inicial de 5 milhões de passageiros e 500 000 toneladas de carga por ano. Sua vocação é se tornar o quarto hub – centro de irradiação de voos para outros aeroportos – do Brasil. Hoje, há apenas três aeroportos no país que funcionam como hubs, os de Guarulhos, Congonhas e Brasília. A grande novidade do novo aeroporto de Natal, contudo, é que ele será o primeiro do Brasil que escapará da gerência ruinosa da Infraero.
NO CAMINHO CERTO: Pista do novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante: a construção do terminal será entregue à iniciativa privada
A pista foi construída pelas Forças Armadas, mas a missão de erguer o terminal e administrar o aeroporto será entregue à iniciativa privada, em regime de concessão. Há duas semanas, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, enviou ao presidente Lula uma proposta nesse sentido. O documento diz que a concessionária responderia diretamente à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e teria autorização para explorar comercialmente o aeroporto por 35 anos, com possibilidade de renovação pelo mesmo período. Blog Notícias sobre Aviação. No momento, está em construção um aeroporto novo em Macapá, capital do Amapá. O último aeroporto de grande porte construído no Brasil foi o de Palmas, capital do Tocantins. As demais obras aeroportuárias tocadas pela Infraero são pouco mais que remendos em instalações já saturadas, cujo resultado não deve causar alívio duradouro no congestionamento dos aeroportos.
Embora a ideia de privatizar qualquer órgão público cause arrepios na administração petista, entregar o aeroporto de Natal à iniciativa privada foi a única alternativa para que ele entre em funcionamento até a Copa do Mundo de 2014. Ele só não é o marco inicial de uma revolução porque o governo não pretende repetir a concessão com outros aeroportos. O ministro Jobim deixa claro que o aeroporto de Natal é uma exceção: “Durante este ano eleitoral, não haverá concessões. Isso aí deixa para o governo seguinte decidir sobre o assunto”.
A CLASSE C VAI AO CÉU
Nos últimos quatro anos, a ascensão de 20 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe C mudou o perfil econômico e demográfico do país. A classe C respondeu por 22% dos passageiros transportados pela Gol e por 6% dos que voaram pela TAM em 2009. A substituição do ônibus pelo avião é especialmente vantajosa quando se trata de cobrir grandes distâncias, como aquelas que separam os migrantes nordestinos que vivem no Sudeste de seus estados de origem. “Se somarmos os gastos com alimentação e banho que o passageiro de ônibus costuma ter em três ou quatro dias de viagem, a vantagem de viajar de avião é grande”, diz Líbano Barroso, presidente da TAM. A maranhense Lucélia Pereira (foto), de 32 anos, que vive em São Paulo, concorda. No ano passado, ela fez sua primeira viagem de avião para visitar a família em São Luís. Trocou a viagem de ônibus, que duraria três dias, por um voo de três horas. “Foi maravilhoso”, ela conta.
Fonte: Revista Veja via Blog do Marcelo