domingo, 27 de março de 2022

Azul Conecta vai adotar realidade virtual em treinamento para pilotos

(Foto: Lucas Berredo/Olhar Digital)
Por causa do Metaverso, a realidade virtual (VR) voltou aos holofotes nos últimos tempos. No entanto, ela também pode ser uma aliada na instrução de novos motoristas e pilotos de avião. A Azul Conecta, companhia aérea subsidiária da Azul, por exemplo, se prepara para implementar um programa de treinamento com realidade virtual para seus pilotos. O objetivo é que o recém-admitido na companhia chegue aos simuladores de voo tradicionais já com uma ideia de como se comportar no cockpit — uma dificuldade admitida por Tadeu Primo, comandante e instrutor de simuladores da Conecta.

“Recebíamos pessoas que ficavam perdidas no avião durante o começo do treinamento”, explicou Primo, em entrevista ao Olhar Digital. “A vantagem [da realidade virtual] é que, com ela, o piloto já tem a dimensão espacial de como irá movimentar os manetes, os botões, a distância para esticar o braço. É tudo igual ao avião. Isso é um grande ganho, porque, quando ele chegar no simulador, ele já terá essa memória muscular e fará isso sem olhar.”

Tive a oportunidade de visitar as instalações da Azul Conecta em Jundiaí, nos arredores de São Paulo, e experimentar a tecnologia de realidade virtual estruturada pela companhia em parceria com a Plan XP. E os óculos, de fato, transportam o usuário (ou futuro piloto) para dentro da cabine de um Cessna Grand Caravan — o avião atualmente utilizado nos voos comerciais da companhia.

Tadeu Primo com os óculos de realidade virtual da Azul (Foto: Lucas Berredo/Olhar Digital)
A experiência assustou à primeira vista, por conta da pouca familiaridade do repórter com dispositivos de VR. No entanto, após ajustes ali e aqui, além da ajuda de Primo, de repente me vi dentro do cockpit do Cessna Caravan 208. Nesse sentido, não entendo o suficiente de controles de voo para dar o feedback técnico de estar à frente do manche, mas só o fato de o espaço ter as mesmas dimensões do avião convencional — como depois pude ver, ao entrar, de fato, em um Caravan —, além de acionar os botões e alavancas com os dedos, já deu a noção de que o experimento possui grandes chances de êxito. Além disso, os óculos são capazes de detectar os movimentos das mãos sem o uso de controles, o que permite uma simulação ainda mais real.

“Ainda não temos como medir se é funcional”, ressaltou o comandante, sobre as futuras sessões. “Mas vamos experimentar com uma turma de dez pilotos: cinco deles usando a realidade virtual e outros cinco no método tradicional. Queremos ter uma forma de medir depois.”

Infelizmente não pudemos filmar nossa experiência por questões técnicas, mas pedimos ao instrutor gravar um vídeo abaixo de como funciona o treinamento em realidade virtual para o leitor.


Realidade virtual também pode ajudar no treinamento de emergências


Primo explica que todos os procedimentos de decolagem e pouso com o Caravan podem ser repetidos em um ambiente de realidade virtual: checagem de ventilação e bateria e posicionamento das manoplas de velocidade, por exemplo. No programa de treinamento a ser implementado pela Azul, o usuário poderá checar também se errou alguns desses passos, o que, na visão do instrutor, poderá avaliar o desempenho do piloto com precisão.

“A ideia é que, com o óculos, [o treinamento] seja mais proveitoso possível”, atestou. “Ou seja, o piloto chegue no simulador e já esteja familiarizado com o painel do avião, e aí aproveite o máximo para treinar as emergências. Por exemplo, pane de motor. O aluno perde o motor e não sabe como acionar o GPS para encontrar os aeroportos mais próximos. Aprender a emergência [no simulador] não vai ser proveitosa se ele não tiver ideia do painel.”

Cessna Grand Caravan utilizado pela Azul Conecta (Foto: Luís Alberto Neves/Azul)
Antes de passar pela camada de treinamentos em realidade virtual, o candidato a piloto na Azul Conecta precisa passar por duas a quatro semanas de instrução teórica na UniAzul, em Campinas. Atualmente, o método tradicional de aprender o painel do avião é o mais analógico possível: um pôster do dispositivo em tamanho real que é cedido pela companhia para a apreensão do aluno. Com a implementação da realidade virtual, no entanto, esse processo deve se tornar mais imersivo.“O piloto não precisa aprender como dar partida no motor no simulador”, ressaltou Primo.“

Antiga TwoFlex Aviação Inteligente, a Azul Conecta foi comprada pela Azul em 2020. No presente, a empresa mescla remessas com transportes de passageiros, especialmente em partes mais remotas do país, como o sul do Pará e o leste do Amazonas. O investimento para a implementação da RV no treinamento de pilotos foi de aproximadamente R$ 100 mil, segundo a companhia.

Por Lucas Berredo, editado por Fábio Marton (Olhar Digital)

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