Dados captados pelo satélite Meteosat-9 e processados pela estação meteorológica da Universidade Federal de Alagoas mostram condições climáticas raras numa rota de voo, segundo o meteorologista Humberto Barbosa
Com base nos dados captados no momento em que o voo AF 447 cruzava a região do oceano (a cerca de 565 km de Natal-RN), o coordenador da estação e doutor em sensoriamento remoto pela Universidade do Arizona (EUA), Humberto Alves Barbosa, meteorologista, aponta uma nova teoria para o acidente. Ele acredita que a aeronave pode ter enfrentado condições climáticas inéditas em percursos aéreos.
Para Barbosa, a situação climática no momento do acidente pode ser decisiva para explicar a tragédia.
"Alguns dos aglomerados convectivos podem ter se intensificado muito rapidamente durante a passagem do avião. As temperaturas de brilho (nos topos das nuvens) apresentaram valores de -83 ºC. Pode ter havido condições únicas encontradas pelo avião na passagem da região, que apresentava alta turbulência", explicou, acrescentando que "isso leva à especulação de que turbulências nas proximidades das tempestades de rápido desenvolvimento podem ter desempenhado um papel no acidente".
Uma situação como essa é considerada muito rara numa área de rota de voo. "É a primeira vez que vi uma situação na vida numa rota de voo", disse Barbosa.
Para explicar o que são "aglomerados convectivos", ele usa como exemplo o algodão-doce. "É como você apertar vários desses algodões até eles não terem mais condições de comprimirem. Foi isso que aconteceu com as nuvens, o que teria ocorrido a uma temperatura baixíssima", exemplifica.
"Pior que um furacão"
Caso a temperatura tenha mesmo sido a calculada pela estação, o avião teria encontrado um cenário pior que o de um furacão. "Um furacão, em média, alcança 70°C negativos. Ela pode ter reduzido significativamente a velocidade do avião. Daí, o piloto automático teria de corrigir esta perda de velocidade por meio dos sensores, que também podem ter entrado em colapso com a tempestade", afirma. Uma outra teoria apontada como suposto motivo para o acidente seria falha dos sensores de velocidade dos modelos Airbus 330 e 340.
A queda na velocidade também é apontada pelo meteorologista como uma hipótese complementar para o acidente. "Com a intensificação da turbulência, é normal que a velocidade da aeronave caia significativamente devido ao atrito do ar, somado à presença de partículas de gelo e de água super congelada. À medida em que a aeronave atravessa a tempestade, por causa da corrente de vento em alto nível, a situação só piora. Ou seja, na hora pode ter acontecido uma 'tempestade perfeita', somente naquele instante", afirma.
Segundo ele, esses dados não foram repassados ou solicitados por autoridades que investigam o acidente, embora ele acredite que a situação climática seja decisiva para explicar a tragédia. "Existem outras imagens de satélites. Porém, essas mostram exatamente o núcleo do aglomerado convectivo e a temperatura de -83°C. Esse cálculo é resultado de uma tecnologia desenvolvida aqui na Ufal", explicou Barbosa.
Ainda segundo o professor, devido à falta de cobertura por radar na região, satélites como o Meteosat-9 acabam sendo a única fonte de dados meteorológicos sobre oceanos.
Fonte: Carlos Madeiro (especial para o UOL Notícias) - Imagem: Evaristo Sá (AFP)
2 comentários:
Será que essa temperatura de 83 graus negativos não possibilita o congelamento do fluido hidráulico do avião? Com isso haveria a perda do leme e o congelamento dos outros controles de voo. Em 1996 um Fokker 100 caiu na Macedônia por este motivo e pelo menos com um 737 decolando de Washington em 1981. Ate agora o que pesquisei é que o fluido hidráulico sem o anti congelante so resiste até os 34 graus negativos.
Vinna, até aonde eu sei, os modelos A330 da Airbus não possuem fluidos pra controlar superfícies móveis, já que elas são controladas por computadores, ou seja, é tudo eletroeletrônico eletroeletrônicos não mais hidráulico.
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