Com as obras concluídas por volta de 1939, o Cais do Hidroavião, na Região de Santo Antonio, em Vitória, foi o primeiro aeroporto do Estado, mas operou por pouco tempo. Apesar do charme das aeronaves que pousavam na água, a manutenção delas era cara e, com o tempo, os passageiros acabaram migrando para o Aeroporto de Goiabeiras, cuja primeira etapa foi finalizada em 1946.
A União acena com a retomada das atividades do Cais do Hidroavião, em Vitória, estimulada pelo lançamento, na última quarta-feira (7), do Programa Voo Simples, que contempla um conjunto de 50 medidas para modernizar e desregulamentar o setor aéreo, dentre elas a permissão de operações comerciais anfíbias em águas brasileiras, com aviões que pousam no solo e na água.
Com isto o superintendente de Patrimônio da União no Estado, Márcio Furtado, decidiu retomar o Cais do Hidroavião, que estava cedido para a Prefeitura de Vitória, e anunciar a sua venda com a finalidade de se transformar em aeroporto comercial com aeronaves anfíbias, que podem pousar na água e na terra. A previsão é de que o edital de leilão seja publicado em janeiro.
Memórias do aeroporto marítimo
O jornalista Álvaro Silva, autor do livro “Patrulha da Madrugada: a história da aviação no ES”, conta que além da estrutura do Cais do Hidroavião, havia um flutuante que foi instalado ao final do píer que avançava pela baía.
Era neste flutuante que as pessoas embarcavam ou desembarcavam. Ele tinha o objetivo de compensar as diferenças entre a estrutura fixa do píer e o avião, causadas pela maré. “Ele ficava sempre na altura do avião. Foi retirado por volta na década de 1950 e afundado bem próximo ao Cais do Hidroavião. Meu pai, que trabalhou na construção da obra, fez o trabalho de retirada do equipamento, a pedido do governador da época”, relata Álvaro.
O jornalista conta ainda que no local havia ainda um restaurante e uma espécie de posto de combustível para o abastecimento das aeronaves. “Era muito movimentado para a época, com voos do Norte e Nordeste que faziam escala de reabastecimento. O último pouso do comandante Severiano Primo, que foi o primeiro comandante brasileiro de aviação comercial, foi feito lá. Ele seguiu depois para o Rio de Janeiro e sofreu um acidente na aproximação, quando ocorreu uma batida contra o morro. Todos morreram”, lembra.
Várias autoridades e personalidades do exterior ficaram pelo menos algumas horas no Estado, revela Álvaro. Do presidente Getúlio Vargas ao ator de Hollywood Tyrone Power, muita gente conhecida desembarcou no primeiro aeroporto capixaba, cujas aeronaves deslizando pela baía era a atração da região.
Álvaro destaca que em alguns outros pontos do Brasil este tipo de aeroporto ainda continuou operando por mais algum tempo, mas no Espírito Santo ele foi utilizado de 1939 a 1942, tendo suas atividades encerradas seis anos depois, em 1948. “A construção do aeroporto de Goiabeiras matou o Cais do Hidroavião. As aeronaves que pousam em terra eram mais baratas do que os hidroaviões ou as anfíbias, que tinham o custo muito elevado para operar, o que refletia no valor das passagens. E ainda eram mais lentas”.
Retomada das atividades
Para o jornalista, a retomada das atividades no Cais do Hidroavião ainda é cara e pode vir a inviabilizar o negócio. “É uma atividade que ainda continua sendo cara, principalmente se for operar no mar, em função da água salgada, que demanda muito cuidado com a manutenção das aeronaves. Na água doce é um pouco mais viável”.
Ele, que já voou em um hidroavião, relata que a experiência é única. “Foi em uma represa, em São Paulo. É muito especial. E na água o pouso tem que ser preciso”, conta.
Para resgatar as atividades em Vitória seria preciso, além de reformar o prédio do Cais do Hidroavião, construir um novo flutuante. “E será ainda preciso um local para o abastecimento das aeronaves”, pontua.
Situação de abandono
Uma visita ao local, feita por nossa equipe, revelou que o imóvel conhecido como Cais do Hidroavião se encontra em situação de abandono, com a estrutura sendo destruída pela ação do tempo e por quem invade o espaço.
No local há destruição, paredes queimadas, fogões improvisados por moradores de rua, madeira fazendo a divisão de locais para dormir, vidros quebrados e sujeira. Há ainda partes do local que estão sofrendo a ação do tempo, com ferragem exposta, por falta de manutenção.
O imóvel fica em uma das áreas mais bonitas da cidade e a vista do local revela verdadeiros cartões postais. Apesar das portas da frente terem sido fechadas por alvenaria, é possível entrar pela lateral, com certa facilidade, e percorrer todo o espaço. Atualmente, foi invadido por moradores de rua e usuários de droga.
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