Boeing 747-8 jumbo da família real catari tem valor estimado em US$ 400 milhões (R$ 2,25 bilhões) e deve ser usado para o transporte do presidente americano, segundo plano de Trump.
A doação de um avião de luxo Boeing 747-8 jumbo da família real do Catar ao presidente dos EUA, Donald Trump, abriu uma nova crise em Washington. À medida em que se discute como o milionário presente de um país estrangeiro se encaixa nas regras legais e de decoro, analistas apontam que o uso do avião para transporte do presidente — como Trump alegou que pretende fazê-lo — representa um sério risco à segurança nacional americana.
Uma série de especialistas em temas de segurança nacional dos EUA, ouvidos pela mídia americana desde a segunda-feira, apontaram preocupação com o plano de Trump de utilizar a aeronave para seu deslocamento oficial. Entre os principais pontos de tensão indicados pelos analistas, as possibilidades do avião não corresponder aos altos padrões de segurança exigidos para o Air Force One e a chance de grampos ou escutas na aeronave — o que comprometeria a segurança das comunicações — estão entre os mais citados.
— Acho que o povo de Tróia, quando aceitou aquele cavalo, arrependeu-se depois — afirmou Darrell Blocker, ex-agente da CIA, em comentário na rede americana ABC News. — Se analisarmos quase tudo o que é fornecido por um governo estrangeiro, veremos que existem regulamentações, restrições e diretrizes para garantir que não estejam grampeados, e seria um verdadeiro pesadelo conseguir confirmar isso com um avião. Do ponto de vista da inteligência, não é a decisão mais brilhante.
O uso de escutas por países estrangeiros para obter informações sobre autoridades de uma outra nação é uma constante na História. O próprio ex-agente da CIA citou o caso da embaixada dos EUA em Moscou, nos anos 1980, que o governo americano precisou botar quase abaixo antes de torná-la operacional, porque o prédio estava totalmente grampeado.
— Seria necessário praticamente desmontar o avião até o esqueleto e montá-lo novamente — disse Mac Plihcik, agente aposentado do serviço secreto que trabalhou na equipe de Barack Obama, em entrevista ao Washington Post. Ele acrescentou ainda que no caso de um avião presidencial, a segurança de cada componente é muito importante individualmente.
![]() |
| Boeing 747 pousa na pista do Aeroporto Internacional de Palm Beach após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter visitado a aeronave em 15 de fevereiro de 2025 (Foto: Roberto Schmidt/AFP) |
Muitos dos recursos de segurança do avião permanecem confidenciais, mas é sabido que o Air Force One Possui defesas antimísseis ou sistemas de contramedidas para proteção contra mísseis terra-ar e ar-ar, e dispositivos de comunicação que podem suportar o pulso de uma explosão nuclear. Também contém equipamentos de comunicação que permitem ao presidente governar a partir do ar, protegido de ataques cibernéticos.
— Não é uma coisa dos EUA em particular. Há um motivo pelo qual coisas como o transporte presidencial, para protegê-lo, é gerido em seu próprio país, porque existem coisas que não podem ser simplesmente delegadas — disse a analista de segurança nacional da CNN, Juliette Jayyem.
Reações negativas foram captadas entre democratas e republicanos. O senador democrata Jack Reed, integrante da Comissão de Serviços Armados do Senado, criticou o aceite de Trump ao presente do Catar, argumentando que usar o avião como Air Force One "representaria imensos riscos de contrainteligência".
"Este desrespeito imprudente à segurança nacional e à propriedade diplomática sinaliza uma perigosa disposição de negociar interesses americanos em benefício próprio", disse Reed em um comunicado na segunda-feira. "É uma afronta à Presidência e uma traição à confiança depositada em qualquer líder americano para salvaguardar a soberania da nação".
O ex-secretário de imprensa da Casa Branca de George W. Bush, Ari Fleischer, também levantou preocupações sobre o possível acordo.
"Nada sobre obter o Air Force One de um governo estrangeiro parece certo. Pode ser juridicamente legal, mas eu não faria isso", escreveu em uma publicação na rede social X. "O Air Force One deve ser totalmente americano. Não deve passar por mãos estrangeiras e não deve ser um presente de um rei".
Nothing about getting Air Force One from a foreign government feels right. It may be legal, but I wouldn’t do it.
— Ari Fleischer (@AriFleischer) May 12, 2025
Air Force One should be American through and through. It shouldn’t pass through foreign hands and it shouldn’t be a gift from a King.
Don’t do it.
Interesse privado?
A aeronave de luxo de propriedade da família do emir do Catar tem valor estimado em US$ 400 milhões (R$ 2,25 bilhões no câmbio atual), contendo dois banheiros completos, nove lavabos, um quarto principal e um quarto de hóspedes, além de lounges e um escritório privado. Segundo uma declaração pública de Trump, ela seria utilizada temporariamente, até a Boeing entregar o novo avião presidencial encomendado pelo governo americano, prevista para 2029.
— Eles [o governo do Catar] disseram que gostariam de fazer algo e se pudessem obteriam um 747 como contribuição para o nosso Departamento de Defesa usar durante alguns anos, enquanto os outros são construídos — disse Trump na segunda-feira. — Eu jamais recusaria esse tipo de oferta. Quer dizer, eu poderia ser um idiota e dizer: 'Não, não queremos um avião grátis e muito caro'. Mas foi, eu achei que foi um grande gesto.
Apesar da declaração de Trump que a doação seria para o Departamento de Estado, e não pessoal a ele, as notícias sobre a incorporação à frota rapidamente levantaram questões sobre seus interesses privados.
Mencionou-se em meios de comunicação americanos a possibilidade de Trump incorporar o avião à sua fundação museu ao fim do mandato (ele chama de “biblioteca”, mas bibliotecas presidenciais são centros de pesquisa administrados pelos Arquivos Nacionais). De acordo com o New York Times, Trump comparou esse plano ao do museu de Ronald Reagan na Califórnia, onde um Boeing 707 presidencial é uma das principais atrações. A diferença é que aquele avião estava no fim de sua vida útil — foi usado como Air Force One de 1973 a 2001 antes de ser desativado. Ele também continua sendo propriedade da Força Aérea e está apenas emprestado de forma permanente.
A Procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, e o principal advogado de Trump na Casa Branca, David Warrington, elaboraram uma análise concluindo que a doação da aeronave seria "legalmente permitida", desde que sua propriedade seja transferida para a biblioteca presidencial de Trump antes do final de seu mandato, de acordo com a rede ABC.
Em carta ao Controlador-Geral dos EUA, ao Escritório de Ética Governamental e ao Inspetor-Geral Interino do Pentágono, o deputado democrata Ritchie Torres exigiu uma revisão ética imediata e um parecer consultivo formal. Ele busca orientação oficial sobre se o presente viola as regras federais de ética ou a proibição constitucional de que titulares de cargos públicos americanos aceitem presentes de governos estrangeiros sem a aprovação do Congresso. Ele vem chamando o caso de "fraude voadora".
Via O Globo com NYT e Bloomberg
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/5/v/b5kbgLTiCBZaEphdu0Ag/111024377-us-president-donald-trump-gestures-as-he-exits-his-plane-upon-arriving-at-the-airport-in-r.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/a/S/oGzOaXRfGzFgjM2BkZcw/afp-20250511-46ar2df-v4-highres-uspoliticsethicstrump.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/J/V/v6dOA1StOqBDLs6nRdrw/d8e796e3-c6a4-43db-8d49-3c9103c01bf9.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/i/q/RJAgOvS3mJkeX7zzhang/a7cf4c0b-ab61-4224-9889-65f0e8aafd52.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário