segunda-feira, 5 de julho de 2021

Voos de jatinhos particulares voltam a crescer no país, mas ainda é um luxo para poucos

Aeronave privativa na pista de Congonhas (SP) (Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo)
A aviação geral de negócios - nome técnico do segmento de especialidades específicas com o estilo de vida de altos executivos, celebridades e milionários —está em crescimento no Brasil em plena pandemia, mesmo com custos altos, atrelados ao dólar.

Após o baque inicial da pandemia, o número de voos voltou aos patamares anteriores ao coronavírus, de acordo com os dados compilados pela Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag).

De janeiro a maio deste ano, foram 134,6 mil voos em aeronaves executivas, 27,3% a mais que no mesmo período de 2020 e praticamente o mesmo número registrado no de 2019.

A alta é influenciada principalmente pelo bom desempenho do agronegócio, diz André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company.

Aviões particulares na pista do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A demanda dos jatinhos é puxada pelo agronegócio. Os executivos de empresas do setor são os que mais usam o meio de transporte privativo (Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo)
- Houve queda na demanda, como na aviação em geral, mas por cerca de quatro meses. Iniciou logo a trajetória de retomada, principalmente porque os segmentos de commodities vão bem, e boa parte da frota no Brasil é destinada a empresas e executivos dessa área - analisa Castellini.

Ele aponta o medo do coronavírus como outro fator que favoreceu o segmento: - Quem tem aviões ou condições de pagar voos privados fez isso para evitar riscos de contaminação nos voos de carreira.

Luxo para poucos


O número de voos da aviação de negócios no país voltou aos patamares pré-pandemia e segue um ritmo acelerado, de acordo com estatísticas da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) (Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo)
Um helicóptero Robinson 22, de pequeno porte, por exemplo, é vendido por cerca de US $ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão), segundo Flávio Pires, diretor-geral da Abag. Um avião monomotor, modelo de entrada sem segmento, não sai por menos de US$ 400 mil (cerca de R $ 2 milhões).

De fato, voar num jatinho sem a companhia de estranhos é para poucos. Apesar do crescimento, a aviação executiva ainda é voltada apenas aos consumidores de alto poder aquisitivo, devido aos custosos elevados, atrelados ao dólar.

Investimento Alto


A TAM Aviação Executiva, uma mais tradicional do setor, vende 22 modelos diferentes. Segundo Leonardo Fiuza, presidente da empresa, os preços podem chegar a US$ 23,5 milhões (cerca de R$ 118 milhões) no portfólio.

Mas, no mercado dos jatos executivos, há modelos que podem custar US$ 90 milhões, quase meio bilhão de reais, diz o executivo.

Ao preço do avião, somam-se ainda os custos com combustível, manutenção, seguros, custos da tripulação e o aluguel de hangares para guardar os aparelhos. As três primeiras despesas são em dólar.

Aeronaves privativas na pista de Congonhas (SP) (Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo)
De olho nesse mercado, a JHSF ampliou, em 2019, uma área de hangares do seu aeroporto São Paulo Catarina, em São Roque (SP), dedicado exclusivamente à aviação executiva, que anterior na semana passada aval para operar voos internacionais.

Agora, com a retomada, Thiago Alonso de Oliveira, presidente da JHSF, já fala em nova expansão: - Pelo tamanho do mercado brasileiro e paulistano, dá para quadruplicarmos nossa área atual.

Táxi aéreo ainda é marginal sem segmento


Quem quer desfrutar dos privilégios de um voo privado e não pode (ou não quer) comprar um avião para chamar de seu, fretar um pode ser uma alternativa mais acessível, embora ainda salgada.

Gustavo Ricci, da Tropic Air, empresa de táxi aéreo e gestão de aeronaves executivas com hangares em quatro aeroportos, conta que uma viagem de ida e volta entre Rio e São Paulo custa pelo menos R$ 24 mil com o jato Embraer Phenom 100, que acomoda quatro passageiros.

Já a rota São Paulo-Miami, nos EUA, muito procurada por brasileiros endinheirados, pode custar R$ 600 mil, ida e volta. Influencia essa tarifa do tipo da aeronave, à medida que distâncias percorridas e o tempo em que o avião ficará para a base.

- Até antes da pandemia, o público era composto mais por executivos de nível C (presidentes e diretores de empresas), seja na categoria de voos corporativos ou na de lazer. Agora, há procura por mais voos corporativos, especialmente quando houve redução de malha das grandes companhias aéreas - diz Ricci.

No Hangar da Tropic Air, aviões de milionários ficam disponíveis para afretamento, o que ajuda a reduzir os custos de manutenção desse privilégio pessoal (Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo)
Mas esse mercado ainda é uma parcela minoritária dos voos do segmento, dominado pelos aviões particulares ou de empresas.

De acordo com Castellini, o táxi aéreo tem custos pressionados pelas exigências da legislação brasileira. Todo avião, por menor que seja, precisa ter dois pilotos, por exemplo. Essa exigência não necessariamente se aplica ao particular.

Recentemente, o país passou a permitir a venda de passagens de assentos durante voos fretados e a compra compartilhada de aeronaves.

Conforto compartilhado


A TAM Aviação Executiva também faz táxi aéreo, gerenciamento de frota, manutenção e hangaragem. A companhia, de propriedade da família Amaro (acionista da Latam), no entanto, não tem avião próprio.

O modelo do negócio, adotado pela maioria das empresas do segmento, é usar como aeronaves de clientes que estão sob sua gestão.

- É mais eficiente. Não compramos nem arrendamos, operamos quatro aeronaves dos clientes nas horas em que eles não estão voando, e esse fretamento é usado para abater os custos de manutenção dos aviões - diz Fiuza.

A Tropic Air opera do mesmo modo, o que pode abater até 70% dos custos fixos dos donos de aeronaves, diz Ricci. A empresa gerencia oito aviões.

Um deles é um jato Embraer Phenon 100 que pertence ao engenheiro e empresário Marcelo Bellodi, que desde 2017 deixa o aparelho para fretamento quando não voa.

 Em 2010, Marcelo Bellodi comprou esse jatinho, um Embraer Phenon 100 (Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo)
Aos 59 anos, dos quais 23 dedicados à empresa de sua família, a Usina Santa Adélia, Bellodi sempre cultivou a paixão por aviões. Tirou licença para pilotar ainda jovem. Em 2010, ele comprou esse jatinho, que boletim ficava na sede da empresa, em Jaboticabal (SP).

- Como voo atualmente pouco com minha família, disponibilizo o avião para fretamento e praticamente zero o custo fixo do equipamento, algo em torno de R$ 90 mil mensais - diz o ensino.

Outra opção para amortizar custos é compartilhar a propriedade do jato. Segundo André Bernstein, sócio da Solojet, é possível dividir entre quatro cotistas a compra de um Hawker 400, bimotor executivo de médio porte, por exemplo.

Nessa modalidade, cada um paga US$ 320 mil (cerca de R$ 1,6 milhão) pela aquisição do aparelho e mais US$ 5,5 mil (R$ 27,5 mil) mensais para manter a aeronave. Aí é só o grupo se organizar para revezar o uso do jatinho.

Via O Globo

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