Três amigas que acompanharam Jacqueline Ruas, de 15 anos, durante excursão para Disney afirmam que a guia pediu para as adolescentes usarem maquiagem e até óculos escuros para disfarçar abatimento. A medida, segundo as garotas, era uma forma de evitar que fossem barradas no avião. Na viagem, Jacqueline morreu por complicações respiratórias.
Em nota, a agência Tia Augusta nega a versão das jovens: "não é verdade a história sobre uso de maquiagem ou de óculos escuros antes do embarque", diz a resposta, acrescentando que é do interesse da empresa o esclarecimento dos fatos.
Três testemunhas dos últimos momentos de Jacqueline, Laryssa, Fernanda e Carolina - a melhor amiga de Jacqueline, contam que, quando estavam deixando o hotel pra ir ao aeroporto, receberam da guia Gisele dos Santos uma orientação inesperada.
“Ela pedia para a gente se maquiar, para parecer bem para entrar no avião”, disse Fernanda. "Ela pediu para todos", complementa a amiga. Para Jacqueline, a recomendação da guia teria sido outra. “Ela pediu para colocar os óculos escuros, para ela não ser barrada no avião. Ela estava com olho fundo, ela estava com olheira. Nossa, ela parecia muito ruim”, diz a adolescente. O Sindicato dos Aeronautas afirma que a medida pode ter impedido que Jacqueline fosse atendida corretamente.
Viagem dos sonhos
A excursão começou em 19 de julho, quando ocorreu o embarque para Orlando, no Estados Unidos. Ao chegar aos EUA, o grupo foi hospedado em um hotel temático, a poucos quilômetros da Disney, no quarto 7436. Eram quatro meninas no quarto.
Em uma mesma noite, as quatro passaram mal. Foram atendidas, medicadas, mas só Jacqueline não melhorava. A febre e a dor de garganta apareceram na terça-feira, 28 de julho. Mas Jacqueline decidiu seguir no ritmo da excursão. Enfrentou a maratona dos parques.
Quando foram todos às compras em um shopping, ela passou a maior parte do tempo sentada. “Ela dormia sentada, ela não conseguia deitar, porque a respiração dela piorava mais do que estava”, diz Fernanda Soares.
Jacqueline foi atendida pela segunda vez no hotel e logo depois levada ao pronto-socorro do hospital Celebration. Os médicos fizeram vários exames, inclusive para detectar nova gripe. Deu negativo e ela foi liberada às 6h. Era véspera da viagem de volta.
A ficha do hospital mostra que a médica do plantão acrescentou apenas xarope à lista que já tinha o antigripal Tamiflu, e um antibiótico. Mas havia uma recomendação clara: continuar o tratamento com um médico. Em caso de piora, voltar imediatamente ao pronto-socorro.
Retorno
A volta ao Brasil foi no sábado, 1° de agosto, no voo 759 da Copa Airlines. Segundo as amigas, Jacqueline estava "debilitada, super debilitada". Na troca de avião, no Panamá, precisou de cadeira de rodas. “Ela ficou dormindo numa cadeira do saguão, de duas horas e meia pra três horas. Não se providenciou nenhum médico pra dar uma olhada nela.”, diz Fernanda.
Na segunda parte do voo, Jacqueline mal abriu os olhos. Segundo amigas, ela chegou a ser acordada, deu uma única garfada na refeição, e dormiu outra vez, para nunca mais acordar. Pouco antes do pouso, em São Paulo, foi Laryssa quem descobriu o pior. Jacqueline não respirava.
Pneumonia
O diretor da Tia Augusta disse que os pais foram avisados da suspeita de pneumonia. "A guia nos afirma que informou à família 'fiquem tranquilos que não tem o H1N1 e há, segundo o hospital, um princípio de pneumonia. Ela pode seguir viagem tranquilamente'.", diz o diretor-executivo da agência Tia Augusta Filipe Fortunato.
Mas, segundo os pais, uma funcionária da agência só ligou três dias depois dos primeiros sintomas e contou que Jacqueline tinha apenas uma gripe forte, como outros 15 adolescentes do grupo. “Em momento algum foi relatado pneumonia”, diz a mãe de Jacqueline. “Foi uma surpresa para nós ela ter sido liberada doente do hospital, ter embarcado doente, e ter trocado de avião em uma cadeira de rodas, doente”, diz Danilo Ruas, pai de Jacqueline.
“A gente quer uma providência, quer a responsabilidade. A gente quer Justiça”, diz Magda Santos, tia de Jacqueline.
Morte
O atestado de óbito indica que Jacqueline morreu de infecção generalizada decorrente de uma broncopneumonia. O especialista Carlos Roberto de Carvalho explica que a viagem de 13 horas pode ter agravado a doença. Dentro de um avião, a pressão interna é mais baixa do que em solo numa cidade como São Paulo, por exemplo. Circula menos oxigênio no sangue e nos pulmões, o que pode dificultar a respiração de uma pessoa debilitada.
"Se for possível não viajar na vigência de uma doença respiratória, a recomendação é que não se viaje", diz o pneumologista Carlos Roberto de Carvalho.
Fonte: G1 (com informações do Fantástico)
Hospital americano recomendou retorno imediado de Jacqueline Ruas se condição piorasse
Uma das recomendações do documento era: "se sua condição piorar ou aparecer novos sintomas, volte imediatamente ao departamento de emergências." Segundo outras adolescentes que participaram da excursão, Jacqueline não conseguiu fazer as malas para retornar ao Brasil, o que foi feito pelas próprias amigas. Mas, na conexão do voo, no Panamá, a adolescente reclamou de tontura, foi levada numa cadeira de rodas até o avião, mas não foi levada ao posto médico. O diagnóstico teria sido princípio de pneumonia.
Especialistas dizem que a agência de turismo errou ao não consultar um médico no aeroporto.
- O clima da cabine do avião não é recomendável para quem tem problemas respiratórios. A umidade relativa do ar gira em torno de 15%, quando o recomendável é 40%, a temperatura é baixa e a cabine é pressurizada a 2.500 metros de altitude. Uma pessoa com quadro de pneumonia terá tontura e falta de ar - disse o médico José Eduardo Delfini Cançado, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia.
Para ele, uma avaliação médica no Panamá poderia ter evitado a tragédia. A Tia Augusta Turismo disse que no Panamá foi perguntado a Jacqueline se tinha condições de viajar e como a jovem respondeu positivamente, o grupo seguiu viagem para o Brasil.
Fonte: Diário de S.Paulo via O Globo - Foto: Reprodução/Álbum de família