Gostar por gostar, os pilotos da FAB sempre preferiram os aviões norte-americanos, considerados os melhores do mundo.
Mas o F-18 da Boeing ficou espremido entre a preferência política pelo Rafale francês e a opção técnica da própria Aeronáutica pelo Gripen NG sueco.
Essas posições tornaram-se claras desde o início do programa FX-2, para a compra de 36 novos caças da FAB. Na primeira viagem exploratória, a Paris, em fevereiro de 2008, o ministro Nelson Jobim (Defesa) já admitia publicamente a preferência pelo Rafale.
Na ida a Washington, no mês seguinte, ele também já praticamente descartava os caças norte-americanos, enquanto o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, admitia estar deslumbrado com os modelos de última geração, o F-35 e o F-22. Por isso, passou por um leve constrangimento.
Ao alegar a incompatibilidade desses aviões americanos com as necessidades brasileiras, o ministro dirigiu-se a Saito, buscando uma concordância: "Não é, Saito?" Desconfortável, o brigadeiro deixou transparecer que discordava: "Bem... o Brasil teria uma capacidade dissuasória maravilhosa..."
Depois disso, a escolha afunilou para o francês, o americano e o sueco, com a área política sempre apontando para o Rafale. Argumento recorrente: os EUA não transfeririam tecnologia, e o Gripen NG sueco não passava de um protótipo.
Washington contra-atacou enviando em agosto de 2009 uma carta da secretária de Estado, Hillary Clinton, em que ela assumia o compromisso de transferir tecnologia.
Não foi suficiente. Nos Estados Unidos, o feito pelo governo pode ser desfeito pelo Congresso.
Veio o 7 de Setembro, no mês seguinte, e Lula se atrapalhou ao anunciar a compra dos Rafale antes da conclusão do relatório da FAB.
O governo teve de dar o dito pelo não dito. Os governos dos três países assumiram então a liderança das pressões, enquanto as cúpulas das companhias faziam filas em Brasília.
Foi quando os EUA passaram a divulgar discretamente notas mostrando que o Rafale não era só francês e continha componentes americanos também sujeitos a veto.
O que paralisou o cronograma foi a divulgação pela Folha, em janeiro deste ano, do ranking da FAB: Gripen NG em primeiro, F-18 em segundo e Rafale em terceiro e último. Coube a Jobim arranjar um discurso e argumentos em sentido contrário.
O relatório tem 27 mil páginas, considerou sete critérios e o Gripen venceu justamente por ter o melhor preço e as melhores condições de transferência de tecnologia.
A 26 dias do final dos oito anos dos dois governos de Lula, porém, a Aeronáutica e o próprio Saito deixaram de ter preferências. O que interessa agora é ter um caça novo, qualquer caça.
Como já disse o chanceler Celso Amorim, "a decisão é política". Se é assim, dificilmente será pró-americanos.
Por: Eliane Cantanhêde (jornal Folha de S.Paulo)
Mas o F-18 da Boeing ficou espremido entre a preferência política pelo Rafale francês e a opção técnica da própria Aeronáutica pelo Gripen NG sueco.
Essas posições tornaram-se claras desde o início do programa FX-2, para a compra de 36 novos caças da FAB. Na primeira viagem exploratória, a Paris, em fevereiro de 2008, o ministro Nelson Jobim (Defesa) já admitia publicamente a preferência pelo Rafale.
Na ida a Washington, no mês seguinte, ele também já praticamente descartava os caças norte-americanos, enquanto o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, admitia estar deslumbrado com os modelos de última geração, o F-35 e o F-22. Por isso, passou por um leve constrangimento.
Ao alegar a incompatibilidade desses aviões americanos com as necessidades brasileiras, o ministro dirigiu-se a Saito, buscando uma concordância: "Não é, Saito?" Desconfortável, o brigadeiro deixou transparecer que discordava: "Bem... o Brasil teria uma capacidade dissuasória maravilhosa..."
Depois disso, a escolha afunilou para o francês, o americano e o sueco, com a área política sempre apontando para o Rafale. Argumento recorrente: os EUA não transfeririam tecnologia, e o Gripen NG sueco não passava de um protótipo.
Washington contra-atacou enviando em agosto de 2009 uma carta da secretária de Estado, Hillary Clinton, em que ela assumia o compromisso de transferir tecnologia.
Não foi suficiente. Nos Estados Unidos, o feito pelo governo pode ser desfeito pelo Congresso.
Veio o 7 de Setembro, no mês seguinte, e Lula se atrapalhou ao anunciar a compra dos Rafale antes da conclusão do relatório da FAB.
O governo teve de dar o dito pelo não dito. Os governos dos três países assumiram então a liderança das pressões, enquanto as cúpulas das companhias faziam filas em Brasília.
Foi quando os EUA passaram a divulgar discretamente notas mostrando que o Rafale não era só francês e continha componentes americanos também sujeitos a veto.
O que paralisou o cronograma foi a divulgação pela Folha, em janeiro deste ano, do ranking da FAB: Gripen NG em primeiro, F-18 em segundo e Rafale em terceiro e último. Coube a Jobim arranjar um discurso e argumentos em sentido contrário.
O relatório tem 27 mil páginas, considerou sete critérios e o Gripen venceu justamente por ter o melhor preço e as melhores condições de transferência de tecnologia.
A 26 dias do final dos oito anos dos dois governos de Lula, porém, a Aeronáutica e o próprio Saito deixaram de ter preferências. O que interessa agora é ter um caça novo, qualquer caça.
Como já disse o chanceler Celso Amorim, "a decisão é política". Se é assim, dificilmente será pró-americanos.
Por: Eliane Cantanhêde (jornal Folha de S.Paulo)
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