sexta-feira, 15 de agosto de 2025

E se alguém lançasse um avião de papel da Agência Espacial Internacional? Estudo investigou

Do origami à exploração espacial, pesquisa revela como um simples avião de papel pode contribuir com a ciência, voando por alguns dias em órbita e servindo como ferramenta para missões científicas de baixo custo

Lançado a 400km de altitude, um avião de papel orbita por 3.5 dias antes de queimar
na atmosfera (Foto: Pexels/Rakicevic Nenad)
A pergunta parece coisa de criança: o que aconteceria se você jogasse um avião de papel no espaço? Mas um novo estudo, publicado na revista Acta Astronautica, mostrou que a resposta pode ter implicações reais para a exploração espacial.

Pesquisadores simularam o lançamento de um avião de papel a partir da Estação Espacial Internacional (ISS, International Space Station), a 400 km de altitude, e descobriram que, apesar de sua simplicidade, ele poderia ser útil para missões científicas de baixo custo.

O experimento partiu de uma ideia inusitada: o que aconteceria com um avião de papel, feito com uma única folha A4, se fosse solto a 400 quilômetros da Terra? Para responder à pergunta, a equipe realizou simulações e testes em um túnel de vento usando um modelo levemente modificado, com estrutura de papel e alumínio, para avaliar sua estabilidade de voo, resistência ao calor e tempo de decaimento orbital.

O resultado surpreendeu a equipe. Esse avião se mostrou estável ao voar na atmosfera rarefeita da órbita terrestre baixa e, segundo os cálculos, permaneceria em órbita por cerca de 3,5 dias antes de reentrar na atmosfera. Durante essa reentrada, o modelo sofreria aquecimento intenso da ordem de 10⁵ W/m², o suficiente para provocar combustão ou decomposição do papel, mas não antes de fornecer dados valiosos.

Imagem demostra o cenário de uma possível missão com um avião de papel na ISS (Imagem: JAXA)
É justamente essa "descartabilidade" que chamou a atenção dos cientistas. Como o avião de papel é muito leve e sofre bastante com a resistência do ar, ele pode ser usado como uma sonda simples para medir a densidade da atmosfera nas camadas mais altas. E como é extremamente barato, dá para lançar vários de uma vez, permitindo coletar dados em diferentes pontos ao mesmo tempo e de forma contínua.

“Um avião espacial de papel pode oferecer novos caminhos para a utilização e exploração sustentáveis do espaço”, afirma a equipe no estudo. Eles também destacam que, além de medir a densidade atmosférica, os aviões poderiam ser equipados com sensores leves ou sistemas de imagem em filmes finos para outras finalidades científicas.

Com o espaço próximo da Terra cada vez mais lotado de satélites e detritos, soluções sustentáveis e de baixo impacto como essa ganham relevância. Em um cenário onde o chamado Efeito Kessler, a reação em cadeia de colisões entre objetos espaciais, é uma ameaça real, iniciativas como essa reforçam a importância de pensar pequeno para alcançar grandes resultados. Mas uma coisa é certa: até as ideias mais simples podem ajudar a desbravar os caminhos do espaço.

Via Carina Gonçalves (Galileu)

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