Empresa russa operadora da aeronave já havia sido alvo de sanções dos EUA por transportar cargas para Caracas.
O cargueiro russo Ilyushin IL-76, operado pela empresa Aviacon Zitotrans — sancionada pelo governo dos Estados Unidos em 2023 —, pousou em Caracas, na Venezuela, nesta quinta-feira (14/8), após deixar o Aeroporto Internacional de Brasília, segundo informações do site FlightRadar.
A Aviacon Zitotrans foi incluída nas sanções do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA justamente por transportar cargas para a Venezuela.
No dia 7 de agosto, o avião russo partiu de Moscou e seguiu para Baku, capital do Azerbaijão, onde fez sua primeira parada. No dia seguinte, voou até Argel, capital da Argélia. Já em 9 de agosto, o destino foi a Guiné. De Conacri, na madrugada de 10 de agosto, a aeronave decolou rumo ao Brasil e pousou em Brasília às 8h12, conforme registros do site Flightradar24.
Segundo registros de tráfego aéreo, trata-se de um modelo Ilyushin IL-76 pertencente à Aviacon Zitotrans, alvo de sanções dos EUA desde 2023, como parte das medidas de retaliação à invasão da Ucrânia. A aeronave russa pode transportar entre 28 e 60 toneladas, com lotação de até 145 soldados.
A aeronave permaneceu no Aeroporto Juscelino Kubitschek por três dias, de domingo (10/8) a quarta-feira (13/8). A Força Aérea Brasileira (FAB) não divulgou o conteúdo da carga e informou que apenas o operador do voo tem conhecimento do material transportado.
Um integrante da cúpula da FAB afirmou que a presença do cargueiro russo no Brasil não fez parte de qualquer operação militar conjunta entre os dois países.
Após deixar o país, o avião seguiu para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, depois pousou em Bogotá, na Colômbia, antes de chegar à Venezuela.
Por que o avião está sob sanção dos EUA
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos incluiu a aeronave em sua lista de bens bloqueados após identificar vínculos da companhia operadora com o governo russo e atividades consideradas estratégicas para a guerra na Ucrânia. As sanções impedem que empresas e cidadãos norte-americanos realizem qualquer tipo de transação com o avião ou seu operador, sob risco de penalidades.
Embora as medidas tenham alcance global, países que não adotam formalmente as sanções — como o Brasil — não têm obrigação legal de impedir o pouso da aeronave, mas podem sofrer pressão diplomática.
O que diz a legislação brasileira
O Brasil não adota sanções unilaterais de outros países, como as impostas pelos EUA. O ingresso de aeronaves estrangeiras segue regras previstas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pela Força Aérea Brasileira (FAB), que exigem documentação e autorizações específicas, mas não proíbem operações apenas por causa de restrições impostas por governos estrangeiros.
Diplomatas ouvidos pelo portal Metrópoles afirmaram que não há ilegalidade sobre o avião russo em Brasília, já que as sanções foram impostas apenas pelos EUA, sem qualquer restrição equivalente no Brasil.
Mesmo assim, a aterrissagem pode gerar repercussões em Washington, em meio ao clima de tensão entre os governos de Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva. Um dia antes do pouso do avião russo, o presidente Lula conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin
A repercussão diplomática
A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil foi informada do pouso e pode solicitar esclarecimentos ao Itamaraty. Até o momento, não há registro público de nota formal norte-americana sobre o episódio.
Do lado russo, não houve manifestação oficial, mas o caso é interpretado como um sinal de que Moscou mantém acesso a rotas internacionais apesar das restrições impostas pelos EUA.
Impacto político e comercial
O episódio envolvendo o avião russo ocorre em meio a um contexto delicado das relações Brasil–EUA–Rússia. O governo brasileiro mantém uma postura de neutralidade em relação à guerra na Ucrânia, buscando preservar acordos comerciais com ambos os lados.
A política externa brasileira tem sido apontada como um dos motivos para o aumento da tarifa de importação dos produtos nacionais aos Estados Unidos. Recentemente, em viagem à Washington, senadores alertaram que a proximidade com a Rússia e a manutenção de relações comerciais podem gerar sobretaxas para o Brasil.
A política externa brasileira tem sido apontada como um dos motivos para o aumento da tarifa de importação dos produtos nacionais aos Estados Unidos. Recentemente, em viagem à Washington, senadores alertaram que a proximidade com a Rússia e a manutenção de relações comerciais podem gerar sobretaxas para o Brasil.
Via Felipe Salgado (Metrópoles) e ND+

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