sábado, 29 de maio de 2010

Quem vai fazer os aeroportos decolarem

Grandes grupos já se organizam para participar da privatização dos terminais, que será inevitável

Na semana passada, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) anunciou um plano de investimentos para ampliar os principais aeroportos brasileiros. A estatal vai construir 15 galpões provisórios em 12 aeroportos localizados em cidades que serão sede dos jogos da Copa do Mundo de 2014.

Fila em Congonhas, SP: a Infraero anunciou uma reforma bilionária, mas a solução definitiva passa pelas concessões - Foto: Antônio Gaudério (Folha Imagem/Folhapress)

Guarulhos, na Grande São Paulo, receberá três desses miniterminais. As obras devem começar a partir de julho e vão consumir R$ 114,9 milhões. Seria uma boa notícia, não fosse por um pequeno detalhe: as reformas são insuficientes para atender ao aumento brutal da demanda registrado nos últimos anos e que, segundo prognósticos, deve aumentar em ritmo mais intenso no futuro próximo.

Com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o setor receberá uma avalanche de investimentos. Apenas a Infraero anunciou que vai desembolsar cerca de R$ 5 bilhões até 2013. Para especialistas, o montante não será suficiente para suprir a demanda. De onde virão os recursos?

“O setor vai passar por uma grande transformação e a iniciativa privada terá um papel decisivo nesse processo”, diz Roberto Deutsch, presidente da A-Port, empresa do grupo Camargo Corrêa criada em 2007 para investir em projetos ligados à área aeroportuária. Além dela, empresas brasileiras como Odebrecht e Grupo Advento e a espanhola Ferrovial estão de olho na inevitável privatização dos aeroportos brasileiros.

"É preciso ampliar a infraestrutura aeroportuária" - Líbano Barroso, presidente da TAM - Foto: Davilym Dourado (Valor)

De todos os históricos gargalos de infraestrutura existentes no Brasil, o mais visível é o aeroportuário. Não é preciso muito esforço para perceber o inferno que é fazer uma viagem de avião no País. Terminais superlotados, voos que atrasam, esteiras de entrega de bagagens insuficientes, filas para fazer o check-in, é possível elencar um rosário de problemas que afetam o setor.

“O mercado de aviação brasileiro vem crescendo a taxas de 12% ao ano nos últimos quatro anos”, disse à DINHEIRO Líbano Barroso, presidente da TAM. “Somente em 2009, o aumento foi de 17% e podemos esperar que as taxas de crescimento se mantenham na proporção de duas a três vezes a expansão do PIB.

Por isso, está clara a necessidade de ampliação da infraestrutura aeroportuária, principalmente em São Paulo.” O diagnóstico do presidente da maior companhia aérea brasileira sinaliza o que está por vir. A estatal Infraero detém o monopólio da construção e gestão de todos os aeroportos comerciais do País. Há uma década, quando a economia nacional não andava no ritmo desejável, o problema foi de certa forma contornável. Afinal, viajar de avião era coisa de rico – e havia poucos ricos no País para superlotar os aeroportos.

A mudança desse cenário, que resultou no surgimento de uma massa enorme de novos consumidores, elevou de forma expressiva o número de viajantes. Enquanto isso, os aeroportos se mantiveram os mesmos. Conclusão: hoje, a maioria dos aeroportos do País opera 35% acima de sua capacidade.

Embarque em Guarulhos (SP): o maior terminal do País já opera acima da sua capacidade. E terá de ser modernizado antes da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 - Foto: Divulgação

A Camargo Corrêa foi ágil. Uma hora a privatização terá de vir e, quando vier, ela já estará bem posicionada. Atualmente, a empresa é responsável pela gestão de novos aeroportos (quatro em Honduras, três no Chile, um na Colômbia e outro em Curaçao), mas sua grande aposta é mesmo o mercado brasileiro.

“O Brasil é hoje o grande mercado de concessão de aeroportos da América Latina e um dos mais atrativos do mundo”, diz Deutsch. “Fizemos um amplo estudo e descobrimos que os principais aeroportos do País são viáveis economicamente.” Concorrente da Camargo Corrêa em diversas áreas de negócios, a Odebrecht também será a sua principal rival no campo aeroportuário.

A Odebrecht tem expertise na área. Desde 1950, participa da construção de alguns dos principais aeroportos brasileiros. Mais recentemente, direcionou seus investimentos para o Exterior. Em janeiro, fechou um contrato com o governo de Moçambique, na África, para construir o Aeroporto Internacional de Nacala, ao custo de US$ 112milhões.

O próximo passo é administrar os aeroportos – o que será possível, no Brasil, com a privatização. O País já desperta o interesse de estrangeiros. No mês passado, o presidente da espanhola Ferrovial, uma das maiores empresas de infraestrutura do mundo, anunciou que, no setor aeroportuário, ninguém oferece mais oportunidades do que o Brasil.

Em comparação aos principais aeroportos do mundo, os brasileiros estão atrasados há décadas. Nos Estados Unidos, estão se transformando cada vez mais em verdadeiros shopping centers, com salas de cinema, bons restaurantes e ampla rede de lojas. No Brasil, eles funcionam como as rodoviárias de antigamente, sempre lotadas e sem oferecer conforto aos viajantes. Para o presidente do Grupo Advento, Juan Quirós, uma das grandes deficiências dos terminais é justamente a falta de serviços de qualidade.

É aqui que sua empresa quer entrar, erguendo empreendimentos como hotéis, centros de convenções e todo tipo de serviço para os usuários. O problema é descobrir quando começará o processo de privatização. Em 2010, ano eleitoral, não será. “A bomba vai ficar para o próximo governo e quero ver quem vai ter coragem de mexer com a Infraero, que se tornou mais um órgão político do que técnico”, diz um consultor.

Fonte: Amauri Segalla (IstoÉ Dinheiro)

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