Os 150 anos do nascimento de Alberto Santos Dumont são celebrados no próximo dia 20 de julho. O brasileiro, além de ter criado o 14-Bis, também inventou uma série de outras aeronaves, como o Demoiselle, primeiro avião esportivo do mundo e o primeiro a ser fabricado em série.
O Demoiselle
Após o voo inaugural do 14-Bis em 1906, Santos Dumont continuou a desenvolver outros projetos. O mais bem-sucedido foi o Demoiselle, que teve seu voo inaugural já em 1907.
Esse avião teve quatro versões diferentes identificadas. Como as invenções de Dumont eram numeradas, os Demoiselles são as aeronaves de número 19 a 22, as últimas criadas pelo brasileiro.
Seu nome pode ser traduzido de duas formas, "libélula" ou "senhorita". Acreditava-se que o formato das asas e o material de seda que as cobriam traziam graça para o invento, por isso seu nome.
Tinha estrutura de bambu e metal, com telas feitas de tecido. Demorava cerca de 15 dias para ser construído individualmente.
Primeiro produzido em série
Réplica do Demoiselle em exposição no Museu Aeroespacial, no Rio de Janeiro (Imagem: Suboficial Johnson Barros/FAB) |
Construção em série foi facilitada pelo fato de Santos Dumont não ter patenteado o projeto. Antes disso, os aviões costumavam ser apenas protótipos ou exemplares únicos.
Desenhos do modelo foram divulgados em várias publicações. A revista Popular Mechanics, de junho de 1910, trazia em destaque na sua capa destacada a frase "Como construir um monoplano de Santos Dumont".
Apenas um fabricante, Clément-Bayard, teria produzido 50 unidades. A ideia era a fabricação de 100 exemplares, mas foi abandonada após a venda de apenas 15 unidades ao preço de 7.500 francos franceses cada à época.
Outras fontes afirmam que foram construídos 300 exemplares, sem contar aquelas produzidas por construtores individuais. Entretanto, não há registros oficiais de quantas unidades teriam sido feitas, já que a patente era livre e os projetos do avião circulavam abertamente e qualquer um poderia utilizá-las.
Quanto custava?
Os Demoiselles produzidos tinham diversos preços. Eles oscilavam dependendo dos materiais usados, do fabricante, motor, entre outros fatores.
O próprio Santos Dumont disse que sua construção não chegava a 5.000 francos. Em uma entrevista declarou que não tinha intenção de patentear sua invenção e que ele forneceria os desenhos da aeronave a quem os solicitasse.
Com o valor de 5.000 francos dava para comprar entre 10 e 50 cavalos do tipo exportação à época, ou cinco cavalos de alto padrão. A média salarial de um trabalhador homem francês girava em torno de 40 francos por dia naquele período.
Demoiselle, de Santos Dumont: Brasileiro estacionava o avião em frente à sua residência em Paris (Imagem: Acervo/FAB) |
Clément-Bayard, que também fabricava automóveis, vendia seus Demoiselles na Europa por US$ 1.250. Ele também abriu uma escola de aviação que levava o nome do avião.
Nos Estados Unidos, um fabricante vendia Demoiselles sem motor por US$ 250. Em outro local do país, uma empresa comercializava a versão motorizada por US$ 1.000.
Como comparação, o carro Ford T, considerado um dos mais baratos à época, custava US$ 825 em 1908. Nos anos seguintes, com a produção em massa, esse valor cairia para US$ 290, ainda mais caro que um Demoiselle sem o motor.
Apesar do sucesso, Dumont nunca chegou a produzir em série seus inventos. Ele dizia que queria popularizar a aviação e que, a melhor forma para isso, era deixar seus projetos no domínio público.
Desenho do Demoiselle disponibilizado na revista Popular Mechanics em 1910 (Imagem: Reprodução/Popular Mechanics) |
Desaparecimento, acidente e fim dos voos
Santos Dumont, a bordo do Demoiselle, chegou a "desaparecer" durante um voo. Em uma tarde de 1909, ele decolou dos arredores de Paris e sumiu entre as nuvens de chuva.
Após horas sem notícias do brasileiro, seu mecânico avisou a polícia do sumiço. Este seria o primeiro caso de um desaparecimento de avião em voo da história.
Logo mais, descobriram que ele estava bem. Dumont havia pousado em um castelo após voar por 18 km e dormira na propriedade a convite de seus residentes.
Em 1910, Santos Dumont sofreu um acidente sério em um Demoiselle. Apesar das poucas testemunhas, informações constam que a aeronave caiu de uma altura de 33 metros.
Essa teria sido a última vez que ele pilotou um avião. Tempos depois, descobrira que, aos 36 anos, sofria de esclerose múltipla, momento em que dispensou toda sua equipe de mecânicos.
Morreu em julho de 1932, aos 59 anos, ao cometer suicídio. Seu coração foi removido secretamente e encontra-se em exposição no Musal (Museu Aeroespacial), no Rio de Janeiro até os dias de hoje.
Ficha técnica
Santos Dumont em um Demoiselle (Imagem: Acervo/FAB) |
- Demoiselle (Nº 20)
- Comprimento: 6,2 metros
- Envergadura (distância de ponta a ponta da asa): 5,5 metros
- Altura: 1,3 metro
- Peso vazio: 110 kg
- Velocidade máxima: Cerca de 96 km/h
- Capacidade: Um (apenas o piloto)
- Autonomia: 15 quilômetros
O especialista em aviação Ricardo Padovese disponibiliza uma experiência em 3D onde é possível ver como era estar dentro do avião. Ela pode ser conferida aqui.
Via Alexandre Saconi (UOL)
Fontes:
Musal (Museu Aeroespacial), da FAB (Força Aérea Brasileira)
Livros
"As lutas, a Glória e o Martírio de Santos Dumont", de Fernando Jorge; "Asas da Loucura: A Extraordinária Vida de Santos Dumont", de Paul Hoffman; "Clément-Bayard, Sem Medo e Sem Censura", de Gérard Hartmann; "Nas Alturas: Uma Biografia de Santos Dumont", de Rodolfo Nunhez; "Os Meus Balões", de Santos Dumont, com tradução e adendos de Arthur de Miranda Bastos; "Santos-Dumont, Aviador Esportista: O Primeiro Herói Olímpico do Brasil", de Lamartine Dacosta e Ana Miragaya.
Revistas
L'Aérophile, Popular Mechanics e Flight, todas da época.