domingo, 12 de junho de 2022

FBI ainda procura Pantera Negra que sequestrou avião em 1972

Os sequestros de aviões eram populares nos anos 1970 e um grande caso da época ainda não foi fechado, estando o FBI ainda à procura de seu responsável.

Boeing 727 da Western (Foto via © Aero Icarus)
Os Panteras Negras foram um partido político extremamente forte naquela época nos EUA, e liderava as pautas do movimento negro, muitas delas envolvendo arrolamentos com a ideologia comunista, o que levou à perseguição de seus membros pelo governo, que classificava o grupo como terrorista.

Uma das membras mais ativas do grupo era Angela Davis, presa em 1970 acusada de sequestro e homicídio, e que estava aguardando julgamento (que pararia o país, assim como a sua busca a nível nacional).

Os Panteras Negras sempre estiveram no radar do governo, seja pelas posições comunistas, seja pelo uso irrestrito da Segunda Emenda, e também por ‘atos contra a sociedade’, que incluiria protestos armados, sequestros de pessoas e também de aviões.

Panteras Negras protestam armados em frente à tribunal (Foto: Washington State Archives)
Revoltado pela prisão de Angela e como traumas da Guerra do Vietnã, Willie Roger Holder, um ex-soldado e também membro dos Panteras Negras, decidiu sequestrar um avião. Para isso convenceu sua namorada e companheira de partido, Catherine Marie Kerkow, para que tomassem um voo de Los Angeles para Seattle operado por um Boeing 727 da Western Airlines.

Apesar de naquela época já haver algum nível de inspeção e abordagem de segurança em aeroportos, não havia nada como hoje e ainda existir uma certa confiança nos viajantes. Para somar ao cenário pré-sequestro, era junho, início do verão no hemisfério norte, com aeroportos lotados todos os dias. Isso facilitou a infiltração da dupla na aeronave.

Após o avião decolar, Catherine e Willie entregaram uma carta aos tripulantes, onde afirmavam que dentro de sua maleta havia uma bomba e que, caso os pilotos não seguissem as ordens, ela iria explodir em voo.

Foto do casal na época do sequestro (Foto: Divulgação/FBI)
A tripulação acatou as ordens e o voo foi sequestrado. O casal rebelde queria $500 mil dólares em espécie para liberar os reféns, além de combustível para voar para fora do país. Após libertarem 97 passageiros em São Francisco e fazer uma parada técnica em Nova Iorque, o 727 saiu do país e foi parar na Argélia, onde tinha um braço internacional dos Panteras Negras.

O plano final era libertar Angela Davis, que iria para a Argélia encontrar com o casal, ,e assim, fugirem exilados para o Vietnã do Norte. A prisioneira acabou sendo inocentada por um júri popular dias após o sequestro do Boeing, num julgamento que já estava marcado antes do casal tomar o avião da Western Airlines.

O Boeing foi devolvido e a tripulação também, assim como $488 mil dólares do resgate. O casal Willie e Catherine ficou alguns anos fora do ‘radar’ das autoridades do FBI, principalmente do Diretor J. Edgar Hoover, que tinha colocado Angela como a mulher mais procurada da América, e logo depois também colocou o casal no Top 10 de procurados da agência.

Em 1975, o casal foi para a França com passaportes falsos, mas as autoridades locais pegaram os dois na fronteira do país, onde ficaram presos por documentação falsa. O ex-soldado acabou sendo extraditado para os EUA, onde foi preso. Já Catherine sumiu novamente, e nunca mais foi vista.

Até hoje o FBI procura a fugitiva, imputando a ela o crime de “Pirataria Aérea”, que é uma das formas como chamavam o sequestro de aeronaves. Estima-se que ela tenha hoje entre 71 e 76 anos de idade. Curiosamente, no dia 9, dias depois do sequestro ter completado 50 anos, o FBI postou em seu Facebook o aviso ainda ativo de Catherine entre os mais procurados:


Não se sabe publicamente se Catherine continua viva e se voltou para a Argélia ou EUA. O sequestro do avião em si não trouxe grande benefícios à causa dos Panteras Negras, já o caso de Angela fez o governo americano aumentar a propaganda anti-comunista e também contra o partido, que acabou perdendo força.

Os protestos armados também causaram o início das legislações anti-armas, principalmente na Califórnia, onde Angela Davis teria cometido os supostos crimes e foi julgada (e inocentada).

O sequestro do voo Western 701, inclusive, foi o “último grande sequestro” daquela época, já que o governo dos EUA decidiu colocar inspeção obrigatória em todos os passageiros a partir daquele verão de 1972. Um sequestro de tamanha magnitude só viria a ser repetido nos atentados de 11 de setembro de 2001.

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