Militares americanos desembarcam no palácio do governo do Haiti, na capital Porto Príncipe. Maior parte da população recebeu bem a ajuda estrangeira, mas parte dos haitianos está desconfiada da atuação americana, assim como os governos de Brasil e França
Os protestos do Brasil e da França acerca da intensa presença dos Estados Unidos no Haiti depois do terremoto da semana passada e o envio de novas tropas da ONU para o país caribenho parecem não ter efeito nenhum sobre o impulso americano de comandar a reconstrução haitiana. Na tarde desta terça-feira (19), militares americanos desembarcaram no palácio do governo do Haiti, uma ação com efeito potencialmente negativo para a coordenação da ajuda.
De acordo com os primeiros relatos, cerca de 100 militares americanos chegaram em helicópteros ao palácio, que foi parcialmente destruído no tremor. O jornal americano The New York Times, que considerou a movimentação “símbolo da crescente presença militar americana”, afirmou que aparentemente os soldados estavam estabelecendo uma posição no palácio.
Segundo a agência de notícias France Presse (AFP), cerca de 100 militares se dirigiram a um hospital que fica nas proximidades do palácio e que está repleto de feridos. “Estamos aqui para dar segurança ao hospital. Trabalhamos com o governo do Haiti. Temos regras de engajamento, mas estamos em um missão humanitária”, disse à AFP o sargento Bill Smith, que comandava as tropas.
Segundo a agência, a maior parte dos haitianos recebeu bem a ajuda internacional, mas alguns estão incomodados com a intensidade da presença americana. “É uma ocupação. O palácio é nosso poder, nossa face, nosso orgulho”, disse o haitiano Feodor Desanges à AFP. Os correspondentes do canal de TV americano CNN também registraram a frustração de haitianos, que dizem não precisar de mais militares, mas sim de ajuda.
A disputa entre Brasil, Estados Unidos e França ganhou destaque nesta terça-feira (19) na revista alemã Der Spiegel, que publicou em seu site um artigo intitulado “Haiti se torna colônia novamente”. Segundo a revista, os três países disputam a “predominância” no Haiti, que viu suas precárias instituições esfaceladas pelo terremoto.
A Spiegel cita o controle americano do aeroporto como o caso mais claro da disputa. Para desembarcar suas tropas, os EUA desviaram para a República Dominicana aviões da França, da ONG Médicos Sem Fronteira e do Programa Mundial de Alimentos, da ONU. Bernard Kouchner, o ministro das Relações Exteriores da França, chegou a afirmar que os EUA tinham “anexado” o aeroporto.
O jornal O Globo fez uma análise completa do artigo e os blogueiros de ÉPOCA Paulo Moreira Leite e Guilherme Fiuza opinaram sobre a polêmica que envolve Brasil e Estados Unidos.
A possibilidade de um incidente diplomático na reconstrução do Haiti fez com que o presidente Lula e o presidente dos EUA, Barack Obama, criassem uma espécie de “linha de comunicação informal” para coordenar as operações dos militares dos dois países. Antes, uma conferência que envolveu a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e o chanceler Celso Amorim, além de representantes da ONU e da Organização dos Estados Americanos (OEA), decidiu que a ONU e o governo do Haiti farão a coordenação dos trabalhos, enquanto os EUA cuidarão da ajuda humanitária e o Brasil da segurança do país.
Fonte: Época - Foto: Gregory Bull (AP)
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