sexta-feira, 23 de abril de 2021

Podcast conta conta história de homem que tentou jogar avião contra o Palácio do Planalto, há três décadas

'Atenção, passageiros Vasp 375: o atentado terrorista no Brasil' .

Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos à época, anunciou sequestro da aeronave quando ela sobrevoava o Rio de Janeiro. Rota deveria ser desviada para Brasília, onde maranhense pretendia matar o então presidente José Sarney.

Avião da Vasp, sequestrado em 1988 (Foto: TV Globo/ Acervo)
O Palácio do Planalto, em Brasília, por pouco não sofreu um atentado, como o que aconteceu em 11 de setembro de 2001, com as Torres gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos. Foi treze anos antes, em 29 de setembro de 1988.

Raimundo Nonato Alves da Conceição, de 28 anos, à época, entrou armado com um revólver calibre .32 no Boeing 375 da Vasp. O objetivo dele era sequestrar a aeronave e desviá-la para Brasília onde, ao atingir o Palácio do Planalto, teria como uma das vítimas o então presidente José Sarney.

A história é recontada no podcast "Atenção Passageiros Vasp 375: o atentado terrorista no Brasil", publicado pelo Globoplay, na última terça-feira (20). 

Apresentado pelo youtuber Lito Sousa, especialista com mais de 35 anos de experiência em manutenção de aeronaves, o episódio ouviu a filha do copiloto do voo, Salvador Evangelista, morto durante o sequestro.


O sequestro do avião


A aeronave fazia a rota Belo Horizonte/Rio de Janeiro. No entanto, quando o piloto Fernando Murilo Lima e Silva se preparava para pousar, o sequestrador o obrigou a redirecionar o vôo para Brasília.

A bordo estavam 98 passageiros e sete tripulantes. O comandante Murilo conseguiu emitir o código de alerta para a base, informando o sequestro do avião.

Mas, sem levar em conta os riscos, a torre entrou em contato com o piloto, para confirmar a situação. Foi nessa hora que Raimundo Nonato atirou e matou o copiloto, Salvador Evangelista.

"Ele levou um tiro na cabeça quando pegou o rádio para responder a um chamado da torre de controle de Brasília", disse o comandante Fernando Murilo, em entrevista ao G1, em 2011.

Outro copiloto, que estava na aeronave, como passageiro, também foi atingido de raspão ao tentar impedir a ação de Raimundo Nonato. "Ele [o sequestrador] gritava: ‘eu quero matar o Sarney. Quero jogar o avião no Planalto", lembra Murilo.

Raimundo Nonato era natural do Maranhão, conterrâneo do então presidente José Sarney. Ele alegou que tinha perdido o emprego em uma construtora devido à crise econômica que o país enfrentava e acreditava que a culpa era do presidente que governou o país entre 1985 e 1990.

Cerco policial em Goiânia


Como o comandante Murilo havia informado o código de sequestro pelo transponder (equipamento transmissor de emergências), o comando da Aeronáutica encaminhou aviões caça para acompanhar o boeing. O céu de Brasília estava encoberto e, portanto, não dava para visualizar o Planalto.

Segundo o podcast, a Polícia Federal informou que "o piloto sobrevoou a capital federal por cerca de uma hora" e então fez a rota sentido Goiânia "sem que o sequestrador percebesse".

Operação de resgate - sequestro do Boeing 737-300 da Vasp em 1988 (Foto: TV Globo/Acervo)
O painel da aeronave alertava baixo nível de combustível e, mesmo assim, Raimundo Nonato não autorizava o pouso. Para desestabilizar o sequestrador, o comandante Fernando Murilo fez manobras acrobáticas, que normalmente não são feitas em aviões comerciais.

Em uma dessas manobras bruscas, o sequestrador caiu e o piloto conseguiu pousar. A pista de pouso, em Goiânia, já estava cercada pela Polícia Federal.

O regaste mobilizou a Polícia Federal, a tropa de choque da PM, militares da Aeronáutica e da infantaria do Exército Brasileiro.

Depois de mais de sete horas de negociação, o sequestrador aceitou sair do boeing, onde os passageiros ainda permaneciam, para continuar o trajeto em um avião Bandeirante, de menor porte. Raimundo Nonato levou o piloto Fernando Murilo como refém.

Na hora de subir no avião, o sequestrador foi baleado por um tiro de fuzil, disparado pelas forças de segurança. O criminoso atirou então contra o piloto, que tentou correr em zigue-zague, mas foi atingido na perna (veja foto abaixo).

Comandante do voo da Vasp, Fernando Murilo de Lima e Silva, foi baleado durante sequestro.
 (Foto: Foto: José Paulo /AE)
Raimundo Nonato chegou a ser levado a um hospital de Goiânia, mas cinco dias depois, ele morreu. O piloto Fernando Murilo é tido como herói da aviação brasileira.

Murilo morreu em 2020, aos 76 anos, após complicações cardíacas e diabetes, segundo informou a família.

Avião sequestrado em 1988 após pousar no aeroporto de Goiânia (Goiás) (Foto: TV Globo/Acervo)

Entrevista com a filha do copiloto assassinado


No podcast, Lito falou sobre as medidas de segurança que eram ignoradas, como uso de detector de metais antes do embarque. Ele também entrevistou Wendy Evangelista, filha do copiloto assassinado, que, na época, ia completar 8 anos.

Wendy contou que, após a tragédia, adquiriu fobia de voar. Mas, com o tempo, foi superando o trauma e hoje viaja de avião.

"Tenho desconforto [de voar]. Medo já tive, mas depois do tratamento da fobia hoje classifico como desconforto", disse.

Copiloto da aeronave da Vasp, Salvador Evangelista, morto pelo sequestrador (Foto: TV Globo/Acervo)
Ela, que é psicóloga, lembrou com carinho dos momentos que teve com o pai, na infância: "Voava muito com o pai. Ele gostava que eu estivesse na cabine com ele", disse ela.

Por Mara Puljiz, G1 DF

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