Aeroporto de Hamburgo, na Alemanha - Foto: Christian Charisius
Desde o período logo após o atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, os passageiros de viagens internacionais, sobretudo rumo aos Estados Unidos, não precisavam ter tanta paciência com os trâmites em aeroportos. Desde o atentado frustrado de um nigeriano a um avião da Northwest que voava da Holanda aos Estados Unidos no Natal, o reforço das medidas de segurança em todo o mundo tem provocado atrasos nas partidas e nas chegadas, além de aborrecimento para os viajantes.
Aeroporto de Washington, nos EUA - Foto: Kevin Lamarque
O aeroporto da Cidade do México recebeu ontem funcionários do Departamento de Segurança dos EUA para auxiliar no aperfeiçoamento das medidas de revista dos passageiros. Segundo o jornal mexicano Reforma, o governo americano verificará também as medidas adicionais em outros aeroportos mexicanos. "Supervisionarão as operações da equipe de detecção de explosivos e o monitoramento de passageiros suspeitos", afirmou o jornal.
Aeroporto de Gatwick, no Sul da Inglaterra - Foto: Luke MacGregor
As companhias aéreas no México também foram informadas que os passageiros para os Estados Unidos serão submetidos a controles extras minutos antes de embarcarem no avião. Por isso, as empresas começaram a pedir aos passageiros para chegarem duas horas antes. "Nós já somos submetidos a uma revista extra. O que nos foi pedido é que acatemos cada uma das normas. Temos a obrigação de reportar qualquer conduta suspeita", indicou o piloto mexicano René Monterrosa.
Aeroporto de Los Angeles, nos EUA - Fotos: Mario Anzuoni
Na Holanda, a Coordenação Nacional para Contraterrorismo anunciou o aumento da segurança no Aeroporto Schiphol, de Amsterdã, depois de um apelo das autoridades americanas. Na Grã-Bretanha, o Departamento de Transporte também fez o mesmo pedido aos operadores britânicos. "Os passageiros que viajam aos Estados Unidos devem esperar que seu voo tenha controles de segurança adicionais antes do embarque", informou a operadora de aeroportos britânicos, BAA, em um comunicado.
Aeroporto de Calgary, em Alberta, no Canadá) - Foto: Todd Korol
"Estou horrorizado com a tentativa de ataque terrorista em um voo entre Amsterdã e Detroit no dia de Natal", lamentou em Bruxelas, Jacques Barrot, vice-presidente da Comissão Europeia para Justiça, Liberdade e Segurança. O funcionário anunciou que o órgão executivo da UE ficará em contato com todas as autoridades para garantir que as regras e os procedimentos estejam sendo aplicados na Europa.
Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha - Foto: Ralph Orlowski
Scanners
Com a preocupação por mais segurança, quem deve faturar são as fabricantes de scanners de alta definição. Vários aeroportos prometeram instalar o aparelho para melhorar o controle sobre os passageiros . O governo holandês prometeu usá-los no máximo em três semanas no aeroporto de Amsterdam-Schipol, para os viajantes que se dirigem aos Estados Unidos. O oficial de aviação civil nigeriano, Harold Demuren, também informou que o país africano comprará scanners de corpo inteiro e em três dimensões para os aeroportos. Ele espera que as máquinas sejam instaladas já no início do ano.
Por outro lado, o tema dos scanners promete causar polêmica nos EUA. Por enquanto, apenas 19 aeroportos do país utilizam o equipamento, sendo que seu uso é opcional - os passageiros podem decidir não passar pela máquina. Vários congressistas sugeriram o uso do scanner de corpo inteiro em todos os aeroportos, uma vez que podem detectar itens não metálicos, como os explosivos carregados pelo estudante nigeriano. O presidente Barack Obama também teria autoridade para expedir um decreto presidencial obrigando ao uso do aparelho. Alguns advogados alegam, porém, que se trata de invasão de privacidade, pois o aparelho é capaz de produzir imagens detalhadas do corpo do viajante. "Será uma decisão do Departamento de Segurança Nacional (DHS). Obviamente, nós trabalharíamos com o DHS, a Casa Branca e nossos colegas congressistas nas decisões sobre segurança", concluiu Greg Soule, porta-voz do Departamento de Transportes.
Aeroporto Newark Liberty, em Nova Jersey, nos EUA - Foto: Mike Segar
Solidão expressa online
Apesar de ser filho de um banqueiro e estudante de uma das mais antigas universidades de Londres, o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, 23 anos, escreveu em microblogs na internet que se sentia frustrado na vida. "Sinto-me deprimido e sozinho. Não sei o que fazer. Além disso, acho que a solidão me leva a outros problemas", relatou em uma das 300 mensagens postadas no site Facebook e no forum islâmico Gawaher, recolhidas pelo jornal The Washington Post. Sob o pseudônimo de Farouk1986, Umar escrevia sobre assuntos variados, de futebol aos estudos do idioma árabe no Iêmen, antes de pedir entrada na University College London (UCL), assim como seu dilema entre adotar o liberalismo ou o extremismo como muçulmano.
"Como podemos encontrar o equilíbrio adequado?", perguntava a um colega do forum islâmico, além de reconhecer sua dificuldade para memorizar o Corão e completar os estudos islâmicos. "Esforço-me para viver minha vida diária de acordo com o Corão e a suna, faço o melhor que posso", contava quando ainda era estudante em Togo.
Em umas das conversas, ele relata sobre seus sonhos com a jihad, seguindo uma interpretação extremista do combate espiritual muçulmano. "Não entrarei em detalhes sobre minhas fantasias, mas basicamente são sobre a jihad. Eu imagino quando a grande jihad terá lugar, como os muçulmanos vencerão 'insh'Allah' (Deus queira) e dominarão o mundo inteiro, e estabelecerão um grande império outra vez!"
Quando questionado por outro colega se essas ideias se tratavam de "sonhos fantásticos" ou "planos", Farouk respondeu: "Eu não sei quanto a você, mas para mim, eu acredito 'insh'Allah' que realizarei meus objetivos e sonhos, pelo poder e força de Alá, por sua misericórdia, se for melhor. Reze para mim, ok? Reze muito".
O jovem agora é acusado de tentar explodir uma bomba quando o voo 253 da Northwest se aproximava de Detroit em 25 de dezembro. O governo americano investiga como Umar passou pelos trâmites de segurança em Lagos e Amsterdã, onde os detectores de metais não indicaram seu armamento. Ele carregava 80g do explosivo pentaeritritol costurados em sua roupa íntima e teria conseguido explodi-los não fosse a reação em tempo de um passageiro holandês.
Fonte: Viviane Vaz (Correio Braziliense) - Fotos: Agência Reuters