quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Espaço e oceano dão pistas de sobrevivência a mineiros chilenos

O Chile enfrenta uma das operações de resgate mais complexas jamais empreendidas e busca no espaço e nas profundezas oceânicas dicas de sobrevivência para ajudar 33 mineiros a suportar meses debaixo da terra, enquanto aguardam ser resgatados.

Os mineiros foram encontrados vivos no domingo, 17 dias depois de um desabamento em uma pequena mina de ouro e cobre no norte do Chile, mas o resgate deles pode levar até quatro meses, e eles ainda não foram informados desse prazo.

É um dos períodos mais longos que se tem conhecimento de mineiros vivos presos debaixo da terra.

Tendo sobrevivido a um incêndios e condições de vida difíceis na estação espacial russa Mir em 1997, o ex-astronauta da Nasa Jerry Linenger sabe, melhor do que a maioria das pessoas, o que os mineiros estão passando.

"O maior erro que se poderia cometer agora seria prometer demais a eles", disse Linenger. "No meu caso, saber que o ônibus espacial viria nos resgatar em três meses foi o bastante. Psicologicamente, você precisa saber quando sua provação vai terminar", disse.

"A chave é não dizer que o resgate vai levar dois meses, quando vai levar quatro. É possível adaptar-se a uma espera longo, desde que você não tenha que fazer essa adaptação duas vezes. As reservas das pessoas são limitadas."

Linenger disse que o fato de os mineiros já terem trabalhado metodicamente para suportar dificuldades, encontrado água e racionado os poucos alimentos de que dispunham mostra que eles já estão bem encaminhados.

"A pessoa simplesmente coloca de lado todos os outros medos e preocupações e foca sobre sua sobrevivência", disse o ex-astronauta.

O governo chileno pediu conselhos à Nasa sobre como manter os mineiros física e mentalmente em forma para enfrentarem os meses que têm pela frente. O governo quer enviar aos homens, que estão presos 700 metros abaixo do solo, rações alimentares do tipo usadas em missões espaciais.

"Psicologicamente falando, temos que tentar mantê-los no caminho certo e não lhes dar falsas esperanças de que o resgate vai demorar pouco", disse o ministro das Minas, Laurence Golborne, olhando para uma máquina gigante que estava sendo levada ao local para perfurar um caminho de saída para os mineiros.

O governo também pediu conselhos a tripulantes de submarinos da Marinha chilena.

O comodoro Ronald von der Weth Fischer, comandante da frota submarina do Chile, acha que os mineiros devem ser informados do prazo previsto.

"É sempre bom saber", disse ele à Reuters, falando desde um submarino no porto de Valparaíso.

"Eu recomendaria manter a comunicação fluindo com eles, para que fiquem conectados ao mundo externo. Eles precisam ouvir o noticiário, saber o que está acontecendo com seus times de futebol, para criar um senso de normalidade", afirmou.

"Além disso, precisam manter-se ocupados, alternando períodos de trabalho, descanso e recreação."

Os serviços de resgate vão perfurar um túnel com largura suficiente para abaixarem uma "jaula" com a qual pretendem retirar os mineiros, um a um, dos túneis poeirentos, úmidos e mal ventilados onde se encontram presos.

Médicos recomendaram que os mineiros façam exercícios físicos para conservarem sua boa forma e evitarem atrofia muscular, enquanto aguardam ser tirados da mina.

Água e sopa estão sendo enviados aos mineiros em pequenas cápsulas plásticas chamadas "pombas", através de um túnel com o diâmetro de uma laranja grande. Familiares dos mineiros colocaram cartas nas cápsulas.

O governo pretende enviar a eles dominós e baralhos para ajudá-los a passar o tempo e vai transmitir eletricidade a eles para operarem tipos diferentes de iluminação, para imitar a sensação de dia e noite. Luzes vermelhas opacas os ajudarão a dormir.

"Eles sabem que vão continuar isolados por algum tempo, mas esses caras são mineiros experientes, para os quais condições duras não constituem novidade", disse Miguel Fortt, voluntário que trabalha na operação de resgate e que a liderou por pouco tempo após o desabamento da mina, em 5 de agosto. "Isto é como preparar astronautas."

Fonte: Alonso Soto e Irene Klotz (com reportagem de Simon Gardner e Juana Casas em Santiago para a Reuters) via O Globo - Imagens: Reprodução

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