sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Peru leva caso de espionagem chilena à Unasul e à OEA

Declaração aprovada pelo Congresso 'repudia ato' e 'denuncia política armamentista do Chile'

A Comissão de Relações Exteriores do Congresso do Peru aprovou uma declaração em repúdio às supostas espionagens realizadas por um militar peruano, direcionadas ao Chile. O texto será enviado aos países-membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Organização dos Estados Americanos (OEA), segundo informou o parlamentar e ex-chanceler peruano Luis González Posadas.

As relações entre os dois países já andavam estremecidas havia meses, mas azedaram de vez no fim de semana, quando presidente peruano, Alan García, acusou o Chile de cooptar um militar peruano para espionar para o seu governo. De acordo com Lima, o suboficial da Força Aérea Víctor Ariza foi recrutado pelo Chile sete anos atrás e recebia US$ 3 mil mensais para repassar informações relativas ao arsenal, os planos de contingência e a identidade dos alunos da escola de inteligência da Aeronáutica peruana. As provas do esquema estariam no computador de Ariza e em documentos encontrados com ele.

Em agosto, García já tinha denunciado um acordo secreto entre o Chile e a Bolívia, que daria saída para o mar para os bolivianos, mas prejudicaria os interesses de Lima. Além disso, em duas ocasiões, em 2008, o Chile disse ter sido vítima de espionagem dos peruanos. Na mais grave, funcionários da embaixada chilena em Lima tiveram seus e-mails vasculhados por um hacker, supostamente a serviço da inteligência do Peru.

O texto em repúdio às supostas espionagens será enviado aos países-membros da Unasul e da OEA, segundo informou o ex-chanceler. "Foi aprovada uma declaração que contém três pontos. Primeiro, repudiar a espionagem do Chile; segundo, denunciar a política armamentista por parte do governo deste país; e terceiro, ratificar a política pacifista e integradora do Peru", comentou Posadas. O parlamentar também destacou que é "ofensivo que se espie e corrompa membros das Forças Armadas de um país amigo como o Peru, que generosamente esticou sua mão de fraternidade e abriu as portas ao Chile para estabelecer uma relação bilateral".

A declaração foi aprovada após os ministros peruanos das Relações Exteriores, José Antonio García Belaúnde, e da Defesa, Rafael Rey, comparecerem à sessão da Comissão de Relação Exteriores do Congresso.

Na madrugada da terça-feira, García disparou contra o país vizinho, qualificando-o de "republiqueta" e considerando os atuais fatos como "repulsivos, que não correspondem a um país democrático e deixam mal a presidência do Chile". A presidente chilena, Michele Bachelet, respondeu às críticas do peruano de forma diplomática. "São acusações ofensivas que nada contribuem para cooperação e a integração. Esse é o momento de trabalhar pelo bem-estar de nossos povos e o que deve primar é o respeito e a responsabilidade das autoridades".

Pouco depois, o chanceler peruano, José Antonio García Belaúnde, anunciou que as provas do ato de espionagem seriam entregues a Santiago, que nega as acusações. As provas citadas pelo chanceler estariam no computador do próprio suposto espião.

Fonte: Estadão (com informações de Ansa e O Estado de S. Paulo)

Atritos tiveram início há 130 anos

Por trás do duro discurso feito ontem pelo presidente peruano, Alan García, há 130 anos de ressentimentos e desconfiança. Chile, Peru e Bolívia enfrentaram-se entre 1879 e 1884 na Guerra do Pacífico, que terminou com os chilenos anexando parte do território peruano e bloqueando a saída da Bolívia para o mar - duas feridas nunca cicatrizadas. A herança de litígios fronteiriços começa no Deserto do Atacama e avança pelo Oceano Pacífico, em uma área de aproximadamente 95 quilômetros quadrados.

O problema é que qualquer solução que seja negociada entre Chile e Peru continuará impedindo que os bolivianos voltem a ter acesso ao Pacífico. Da mesma maneira, qualquer acordo entre Chile e Bolívia inviabilizará a demanda original peruana pela ampliação de seu mar territorial. Diante do impasse, o Chile armou-se, priorizando a compra de fragatas e submarinos. A Bolívia deu sinais de que poderia aceitar a simples abertura de um corredor de acesso ao Pacífico. E o Peru levou o caso à Corte Internacional de Justiça da ONU.

"A primeira etapa da estratégia peruana foi jurídica e terminou com a instalação do processo na Corte Internacional de Justiça, em Haia, em janeiro do ano passado. Agora, estamos vendo uma segunda etapa, na qual os principais componentes são de cunho comunicacional e militar", disse ao "Estado" José Rodríguez Elizondo, ex-embaixador chileno que esteve exilado no Peru por dez anos e se dedicou ao estudo do conflito sobre a fronteira marítima.

Fonte: João Paulo Charleaux (Estadão)

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