O bombardeiro supersônico Sukhoi Su-24M que foi abatido e caiu praticamente em cima de posições ucranianas nos arredores de Bakhmut no dia 2 de dezembro era pilotado por um par de aviadores veteranos contratados pelo Wagner Group, a notória e misteriosa empresa mercenária da Rússia.
O Su-24 é pelo menos o terceiro avião de guerra pilotado pelo Wagner que os ucranianos derrubaram desde que a Rússia ampliou sua guerra contra a Ucrânia a partir de fevereiro. O Wagner também perdeu um par de jatos de ataque Sukhoi Su-25.
As perdas ressaltam a ameaça duradoura que as defesas aéreas ucranianas representam para os aviões russos e também destacam a considerável – talvez até crescente – participação do Wagner na campanha aérea russa sobre a Ucrânia.
É evidente que, quando o Wagner desdobra forças terrestres significativas, ela também coloca seus próprios pilotos nas cabines de aviões de guerra russos mais antigos – e pilota esses aviões em apoio direto de seus caças no solo.
A estrutura legal, logística e de comando para as operações aéreas do Wagner permanece obscura. O Wagner compra ou aluga aviões russos ou apenas os empresta? O Kremlin exerce algum controle direto sobre os pilotos do Wagner ou a empresa mercenária escolhe todos os seus próprios alvos e planeja todas as suas próprias surtidas? Quem compensa as famílias do crescente número de pilotos do Wagner que morreram em combate?
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Um soldado ucraniano examina um fragmento de um jato Su-25 da Força Aérea Russa após uma batalha recente na vila de Kolonshchyna, Ucrânia, no dia 21 de abril de 2022 (Foto: AP/Efrem Lukatsky) |
O envolvimento do Wagner na guerra aérea ucraniana tornou-se evidente no final de maio, quando as tropas ucranianas disparando um míssil guiado por infravermelho Stinger abateram um Su-25 sobre Popasna, 32 quilômetros a leste de Bakhmut, na região de Donbass, no leste da Ucrânia.
A BBC confirmou que o homem que morreu atrás dos controles do Su-25 enquanto apoiava o ataque russo em torno de Popasna era Kanamat Botashev.
Botashev, de 63 anos, estava aposentado. Ele deixou a força aérea russa como general em 2012, depois de “pegar emprestado” um caça Sukhoi Su-27 – um tipo que ele não estava qualificado para voar – e quebrá-lo após um breve passeio acrobático. Após sua aposentadoria, Botashev teria assinado com o Grupo Wagner.
Um mês depois, soldados da 72ª Brigada Mecanizada ucraniana carregando um míssil Igla disparado de ombro abateram outro Su-25 e capturaram Andrey Fedorchukov, o velho piloto do jato. Fedorchukov disse a seus interrogadores que tinha um contrato com o Wagner de US$ 3.200 por mês.
As tropas ucranianas também usaram um míssil de ombro para derrubar o Su-24 sobre Bakhmut em dezembro. O piloto e o co-piloto morreram e as forças russas recuperaram os corpos. A mídia russa identificou a tripulação como Alexander Antonov e Vladimir Nikishin. As fotos indicam que ambos os aviadores estavam no final da meia-idade – e presumivelmente haviam se aposentado do serviço militar ativo antes de ingressar no Grupo Wagner.
Se o Wagner perdeu três jatos, quase certamente opera várias vezes esse número. Considere que a maior empresa de aviação russa desde fevereiro cancelou cerca de um quinto dos cerca de 300 jatos táticos que implantou na Ucrânia e nos arredores. Se a mesma taxa de perda se aplicar ao Wagner, a empresa mercenária pode supervisionar dezenas de jatos.
É evidente que as fuselagens estão, ou até muito recentemente, no inventário ativo da força aérea russa. O Su-24 que caiu em Bakhmut no momento de sua destruição ainda usava as marcas da força aérea e seu número de série do governo, RF-93798.
Mas o Su-24, como o Su-25, está entre os tipos mais antigos no serviço da força aérea russa. O braço aéreo está constantemente substituindo ambos os tipos por variantes mais recentes do Sukhoi Su-27. Talvez o Kremlin permita que Wagner coloque seus pilotos nos cockpits de jatos que a Força Aérea Russa já escolheu para a aposentadoria.
Isso não esclarece exatamente como a Wagner dá suporte aos aviões com combustível, armas e peças – e como planeja as surtidas. Fica claro, porém, que Wagner realiza ataques aéreos nos mesmos setores onde os batalhões da companhia realizam operações terrestres. O Grupo Wagner por meses se concentrou estranhamente em capturar Bakhmut, uma cidade com pouco valor estratégico. Os ataques aéreos da empresa visam principalmente as forças ucranianas na mesma área.
A força aérea do Grupo Wagner parece ser nova e pode ser imatura. “Tanto na Líbia quanto na Ucrânia, há relatos de que membros do Grupo Wagner pilotaram aeronaves de asa fixa da força aérea russa – e que na Ucrânia os pilotos incluíram oficiais aposentados da força aérea russa”, disse Kimberly Marten, cientista político da Universidade de Columbia, a Subcomissão da Câmara dos Deputados dos EUA em setembro. “Mas não houve relatos de uma conexão da força aérea antes de 2020”, acrescentou Marten.
A eventual resolução da batalha por Bakhmut – quando quer que seja – poderia lançar alguma luz sobre o modelo de negócios do Wagner para guerra aérea. Assim que o Grupo Wagner capturar Bakhmut, ou desistir de capturar Bakhmut, ele adicionará seus pilotos à campanha aérea mais ampla da Rússia? Ou os pilotos de Wagner, nas cabines dos jatos do governo, continuarão apenas apoiando as forças terrestres do Wagner?
Via Fernando Valduga (Cavok)
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