Conhecida como "O lago" pelos moradores locais, China Lake encontra-se a 275 km ao nordeste de Los Angeles, na extremidade ocidental do deserto de Mojave, perto do famoso Vale da Morte (com temperaturas superioes a 50ºC), e faz parte do Complexo de Testes Oeste, junto com as bases de White sands e Point Mugu.
Em China Lake, se encontra a Divisão de Armas do Centro de Guerra Aeronaval, onde a Marinha e os Fuzileiros Navais dos Estados Unidos desenvolveram e testaram praticamente todas as armas do seu arsenal durante os últimos 50 anos. Lá é realizado o processo completo de desenvolvimento, desde a pesquisa, passando pela fabricação do protótipo e os seus testes, até a avaliação e documentação, além do apoio à produção e às unidades que as utilizam.
Por armas, não devemos entender apenas bombas, mísseis e similares. Trata-se de novas aeronaves e qualquer equipamento ou sistema que se deseje introduzir em uma aeronave já em serviço.
Assim, as unidades de testes também trabalham em aspectos como a guerra eletrônica, a detecção de ameaças, as contramedidas, os sistemas de ataque noturno e os assentos ejetáveis.
Na base trabalham 630 militares e 3 250 civis, apoiados por outros 1 700 funcionários de diferentes empresas fornecedoras.
China Lake possui vários locais de testes independentes, muito bem equipados com radares, sistemas laser de seguimento e câmaras que permitem seguir a aeronave do pátio da base até o local de testes, ver como lança as armas e a sua volta à base.
Tudo isso de uma forma sem igual em qualquer outra base do mundo, o que atrai visitantes de outras forças aéreas, embora, além da Marinha, o Centro de Ensaios em Voo da USAF (a Base Aérea Edwards também fica no deserto de Mojave) seja o maior usuário dessas instalações.
Outro importante visitante habitual é a Força Aérea Britânica e, especialmente, os Jaguar e Tornado da Unidade de Avaliação Operacional de Jatos e Armas localizada na base de Coningsby e, mais recentemente, também da RAF, um dos novos Astor R1.
A Divisão de Armas do Centro de Guerra Aeronaval dispõe em China Lake de dois esquadrões, o VX-9 e o VX-31, cada um deles com funções diferentes dentro do programa de testes que acompanha a entrada em serviço das novas armas.
VX-31 "DUST DEVILS" O comandante Eric Holmberg é o principal responsável por essa unidade.
Os "Dust Devils" realizam todas as pesquisas, desenvolvimentos, testes e avaliações que são feitos em China Lake, trabalhando tanto de forma independente quanto junto a fabricantes e fornecedores, os quais, em muitas ocasiões, "alugam" a unidade para que ela realize ensaios para eles, pagar esses despesas é muito mais barato que manter uma frota própria de aeronaves adequadas para os testes. Testar uma arma não é apenas pendurá-la de um avião e dispará-la.
Inicialmente, é necessário se assegurar que ela possa ser operada pelo subtipo de avião disponível. A seguir, trabalhando junto ao fabricante, o VX-31 testa exaustivamente a arma e o seu software para verificar se pode ser usada em todo o envelope de voo do avião e que os seus parâmetros e simbologia são os corretos.
Tudo isso antes de passá-la aos seus colegas do VX-9, os quais se encarregarão da avaliação operacional. Um ambiente muito complexo, e o fato de que em muitas ocasiões são exploradas novas áreas, faz com que a unidade disponha de uma grande variedade de pilotos.
O trabalho pode ser qualquer coisa menos monótono. Algumas vezes, determinados pilotos devem se encarregar exclusivamente de um projeto, mas em outras ocasiões cuidam de vários ao mesmo tempo. Sua missão é trabalhar lado a lado com os engenheiros encarregados de solucionar quaisquer problemas detectados durante os testes. De acordo com Brady Bartosh piloto chefe de testes do VX-31: "O que fazemos aqui é voar, consertar e voar".
O VX-31 dispõe de 31 aeronaves com as quais, em 2008, realizou 4 565 horas de voo. São 18 Boeing (McDonnell Douglas) F/A18 (um A+, dois B, três C, dois D, dois E e oito F), um North American T-39 Sabreliner, um Bell UH-1Z, un AH-1Y, três Sikorsky SH-60S/F, seis McDonnell Douglas Harrier (cinco AV-8B e um NAV-8B) e um Bell T-34 Mentor.
Durante o ano de 2008, a unidade substituiu seus UH-1 de diferentes modelos pelos mencionados SH-60. A missão de ambos os helicópteros é o SAR civil. Da mesma forma, trocou os dois Metro civis que eram usados para o transporte de pessoal entre China Lake e Point Mugu, por dois Gulfstream I operados pela Phoenix Air.
O Esquadrão também viu reduzida sua frota de Harrier devido à falta de aviões nas unidades de primeira linha. Finalmente, no ano passado, terminaram os trabalhos com o EA-18G Growler e o exemplar que possuía passou para o VX-9 para os testes operacionais.
A missão do T-34 Mentor é a segurança aérea. No passado, aconteceram vários acidentes devido à chamada hipnose de alvo. Em algumas ocasiões, o piloto concentrado em acertar o alvo em terra se esquece de pilotar o avião e se choca contra o solo, ou é atingido por fragmentos do alvo.
Por isso, a missão dos pilotos do T-34 é orbitar sobre os alvos e avisar o piloto caso ele se aproxime demais do solo.
VX-9 "VAMPIRES"O comandante Ian C. Anderson é o chefe dessa unidade. Como já foi mencionado, a missão do VX-9 é testar as novas armas em condições reais.
Quando o VX-9 se encarrega de um programa, sua primeira missão é escrever os manuais e documentos de estratégia, avaliar o software do protótipo, além dos sistemas de controle de voo e armas para determinar a sua validade para os esquadrões operacionais. É o que se conhece como testes operacionais.
Isso significa que, diferentemente dos seus colegas do VX-31, o pessoal do VX-9 não tem nenhuma relação com o fabricante ou com os fornecedores.
Além disso, como a sua missão é fazer os testes em cenários o mais reais possível, não é difícil encontrá-los participando de exercícios como o Cope Thunder, no Alasca ou o Red Flag em Nellis.
A maioria dos pilotos do VX-9 é oriunda dos esquadrões operacionais, mas poucos são pilotos de testes.
O motivo é que é necessário que nos testes sejam refletidas as habilidades dos pilotos que usarão a nova arma. Antes de chegar ao VX-9, o piloto deve ter passado entre cinco e seis anos voando em uma unidade operacional.
Em muitos casos, a transferência para o Esquadrão VX-9 ocorre logo após o primeiro deslocamento embarcado do piloto com o seu esquadrão.
Normalmente, cada piloto passa três anos no VX-9, tempo durante o qual é qualificado
em vários tipos de avião.
Como em todas as unidades de testes, o trabalho no VX-9 é muito estafante. Os pilotos não devem apenas levar suas aeronaves a realizar manobras extremas, mas, ao mesmo tempo, analisar o comportamento dos sistemas e fazer anotações em cadernetas presas às pernas, para o caso de quaisquer falhas nos sistemas de gravação instalados a bordo.
Atualmente, o esquadrão dispõe de vários Boeing (McDonnell Douglas) F/A-18 de diferentes versões, como o VX-31; helicópteros Bell AH-1W, AH-1Z, UH-1Y e, quando necessário, podem usar os Harrier do VX-31 ou algum Grumman EA-6B Prowler de unidades operacionais. Diferente das aeronaves do VX-31, os aviões do VX-9 estão minimamente equipados para os testes e podem ser destinados fácil e rapidamente a uma unidade operacional, caso seja necessário.
O BOEING EA-18 GROWLEREsse derivado do Boeing F/A-18F Super Hornet será o substituto do Grumman EA-6B Prowler da US Navy, a qual, por enquanto, planeja adquirir 85 exemplares até 2012, destinando-os a 12 esquadrões e a uma unidade de conversão operacional na Base Aeronaval de Whidbey Island, no Estado de Washington.
Boeing EA-18 Growler - United States Navy - Foto: shephard.co.uk - Clique sobre a imagem para ampliá-laCuriosamente, os Fuzileiros Navais, usuários dos F/A-18E/F super Hornet, decidiram manter seus EA-6B até a chegada da versão de ataque eletrônico do F-35.
Em 3 de junho de 2008, o Esquadrão VAQ-129 "Vikings" de Whidbey Island aceitou oficialmente o seu primeiro Growler, assim chamado devido a um jogo de palavras entre Prowler, o avião que substituiria e a letra "G", da sétima versão do F/A-18.
Fonte: Avião Revue - Texto e fotos: Christian Beenen, VX-9, VX-31 e Hans van Dijkhuizen