A missão deles é discutir ideias com os atuais engenheiros e gerentes de projeto. Mas os conselhos deles muitas vezes chegam em termos francos que refletem a disposição de dar nomes às coisas como eles a veem.
Por causa disso, ex-gerentes da Boeing às vezes são ridicularizados, chamados de "burocratas", e engenheiros que participaram de projetos fracassados têm sido jocosamente acusados de "fumar maconha". Uma linguagem não muito comum no conservador império da Boeing.
Em antecipação ao Salão Aeroespacial Internacional de Farnborough, a maior feira da aviação, que começou ontem nos arredores de Londres, uma das tarefas do grupo de veteranos foi determinar como a empresa deve proceder com algumas de suas linhas de jatos mais vendidas.
Um conceito em que os membros já jogaram água fria foi o uso de turbinas com rotores abertos. Em teoria, esses motores poderiam tornar mais eficiente o uso de combustível e reduzir as emissões de poluentes, mas eles são muito barulhentos e sua segurança ainda não foi comprovada.
"Você já viu o projeto de um rotor aberto que pareça um avião de verdade?", pergunta Lars Andersen, um ex-gerente de programa do Boeing 777, que se aposentou em 2007. "O rotor aberto tem sérios problemas de engenharia e projeto", disse ele, em um encontro informal no mês passado. Além de seu papel de conselheiro, a Boeing o trouxe de volta em tempo integral para liderar um grupo que vai estudar o futuro do 777.
Alguns dos aposentados criticaram a tentativa da Boeing de buscar novas práticas de produção e montagem de partes que causaram dores de cabeça para a equipe do Dreamliner, um avião com menor consumo de combustíveis, no qual a empresa apostou uma parte do seu futuro. "A tecnologia não vende aviões", diz John Roundhill, engenheiro e ex-vice presidente de estratégia de produto e desenvolvimento, que se aposentou em 2002. "O cara que apresenta o melhor avião para o mercado ganha fatia de mercado."
Jim Albaugh, presidente da área de aviões comerciais da Boeing, recorreu a oito executivos aposentados da empresa para formar um Grupo Consultivo Sênior. "Eu estava apreensivo com fato de que nós tínhamos aposentados que estavam preocupados com a empresa e eu queria tê-los dentro da casa", disse Albaugh ao Wall Street Journal. "Eles têm algumas opinões muito fortes", disse ele.
Em uma mesa redonda de café da manhã perto de Seattle, o líder extraoficial do grupo, Joe Sutter, de 89 anos, não poupou críticas aos esforços iniciais da fabricante de terceirizar a produção de partes fundamentais do Dreamliner, uma tentativa que fez com que o avião ficasse dois anos atrasado em relação ao cronograma. Na semana passada, diretores da Boeing advertiram que a entrega do primeiro Dreamliner pode ser adiada para as primeiras semanas de 2011, mas disseram que continuam planejando para que isso ocorra no fim deste ano. Sutter qualifica o plano como uma ideia concebida "quando os burocratas estavam gerindo o negócio".
Com relação à solução de contar com parceiros para suprir componentes essenciais, disse Sutter, "é bom que haja um grande número de caras da Boeing lá para vigiar".
De fato, esse é um recurso que a Boeing está levando a sério. No fim do ano passado, a companhia colocou funcionários dela em vários fornecedores e começou a trazer de volta parte do trabalho terceirizado para recolocar o avião nos trilhos.
Uma lenda no mundo aeroespacial, Sutter é o mais renomado veterano vivo da Boeing. Ele entrou para a empresa logo depois da Segunda Guerra Mundial e teve um papel de liderança em todas as linhas de jatos da Boeing até o fim da década de 1980. Ele é especialmente conhecido por ter comandado a equipe que desenvolveu o jumbo 747, o produto símbolo da empresa na era do jato. Ele se aposentou na Boeing há 23 anos, mas ainda mantém um escritório na unidade de Renton, no Estado de Washington, noroeste dos EUA, e trabalha pelo menos alguns dias por semana.
Muito espirituoso e robusto, Sutter mantém uma atitude independente e opiniões fortes sobre o passado, o presente e o futuro da empresa. Quando perguntado se o Sonic Cruiser — uma proposta de vida curta feita em 2001 de um grande jato que viajaria quase na velocidade da som — foi um esforço real ou simplesmente uma cortina de fumaça para confundir a rival Airbus, Sutter respondeu sem hesitação. "Foi um esforço real", disse, "de gente que estava fumando maconha."
Os companheiros de Sutter no grupo consultivo também não são pessoas sem história. Eles são engenheiros reconhecidos que participaram de todos os jatos comerciais construídos pela Boeing desde 1945. E não têm medo de dar suas opiniões ou de entrar em minúcias do negócio de aviões. Os gerentes de projeto do programa Dreamliner convidaram os membros do grupo consultivo para participar da parte mais importante do programa em dezembro do ano passado, quando eles preparavam o jato para o seu tão adiado primeiro voo.
O grupo, formado por aposentados que moram na região de Seattle, se reporta a Albaugh e deve se encontrar quatro vezes por ano, mas já se reuniu quase duas vezes mais desde que foi formado. Alguns são pagos e outros não.
Fonte: Peter Sanders (The Wall Street Journal) via Zwela Angola - Foto: Amanda Koster/WSJ
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