Um míssil disparado por um avião sem piloto norte-americano matou ao menos quatro pessoas no último domingo, na casa de um comandante insurgente no noroeste do Paquistão, o que representa o exemplo mais recente de uso daquilo que funcionários dos serviços de informações dos Estados Unidos definiram como sua mais efetiva arma contra a Al-Qaeda.
E funcionários do Departamento da Defesa informam que os aviões de controle remoto, que podem transmitir sinais de vídeo ao vivo por até 22 horas, fizeram mais do que qualquer outro sistema de armas para rastrear insurgentes e salvar vidas norte-americanas no Iraque e no Afeganistão.
Aeronaves Predator são vistas em hangar em Poway, na Califórnia
Os aparelhos se tornaram uma das armas favoritas das forças armadas, a despeito das muitas deficiência de que sofrem devido à pressa de colocá-los em serviço. Uma alta na demanda pelos aparelhos está contribuindo para as novas idéias do Pentágono sobre como desenvolver e colocar em operação sistemas de armas novos.
Funcionários da força aérea reconhecem que mais de um terço de seus aviões de espionagem sem piloto Predator - máquinas de 8 m de comprimento, acionadas por motores de snowmobile e com custo de US$ 4,5 milhões por unidade - caíram em acidentes, a maioria dos quais no Iraque e no Afeganistão.
Os operadores que os controlam, trabalhando em trailers estacionados do outro lado do mundo, com o uso de joysticks e telas de computador, dizem que alguns dos controles são toscos. Por exemplo, o botão de disparo de mísseis está instalado em posição perigosamente próxima à do comutador que desativa os motores do aparelho. Além disso, a escassez de operadores é tamanha que a força aérea recentemente apelou a oficiais reformados para que voltassem à ativa, em busca de ajuda.
Mas os líderes militares dizem que é possível viver com essas deficiências. Desde o pico da guerra fria, as forças armadas tendem a procurar as soluções mais ousadas e mais avançadas em termos tecnológicos para todas as ameaças, o que gera longas demoras e estouros de custos e resulta em caças a jato raramente usados que custam US$ 143 milhões, e em planos para destróieres de US$ 3 bilhões, um preço que a marinha diz não se enquadrar ao seu orçamento.
Agora, o Pentágono parece estar aprendendo a aceitar o velho ditado de Voltaire - "o perfeito é inimigo do que é bom". Em discursos, o secretário da Defesa Robert Gates instou seus compradores de armas a adotar "soluções 75% que funcionam em meses" em lugar de esperar por "soluções douradas".
E à medida que o governo Obama prepara seu primeiro orçamento, representantes dizem que o plano é liberar mais dinheiro para sistemas mais simples, tais como aviões sem piloto capazes de propiciar resultados agora, especialmente em meio à intensificação dos combates no Afeganistão e no Paquistão.
Uma rara oportunidade de acompanhar de perto o uso do Predator exibe tanto as dificuldades quanto as recompensas de colocar sistemas de armas em uso com mais rapidez. "Serei realmente franco", disse o coronel Eric Mathewson, que comanda o grupo de trabalho da força aérea sobre sistemas aéreos não tripulados. "Estamos operando no limite".
Ele diz que a força aérea está correndo para treinar mais operadores, que controlam os aparelhos via conexões de satélite, do oeste dos Estados Unidos, com o objetivo de cobrir as necessidades geradas por um crescimento de quase 300% no número de missões diárias, ao longo dos dois últimos anos.
Os comandantes de campo no Iraque e no Afeganistão, onde a força aérea controla os Predators, dizem que a capacidade do aparelho de sobrevoar uma área por horas e transmitir alertas em vídeo sobre as atividades dos insurgentes vem sendo crucial para reduzir a ameaça de bombas instaladas à beira das estradas e para a identificação de instalações terroristas. A CIA cuida dos vôos de aparelhos não tripulados no Paquistão, onde mais de três dúzias de ataques com mísseis contra líderes da Al-Qaeda e do Talibã foram lançados nos últimos meses.
Considerados como novidade ainda alguns anos atrás, a frota da força aérea cresceu para 195 Predators e 28 Reapers, uma versão mais nova e mais pesadamente armada do precursor. Os dois aparelhos são produzidos pela General Atomics, uma empresa de San Diego.
Incluindo os modelos usados pelo Exército para detectar explosivos instalados à beira de estradas e pequenos modelos portáteis que podem ajudar soldados a observar o que existe atrás da próxima colina ou edifício, o número total de aviões sem piloto operado pelas forças armadas cresceu de 167 em 2001 a 5,5 mil agora.
A necessidade urgente de mais aparelhos resultou no abandono de alguns dos procedimentos usuais. Parte dos 70 Predators que caíram, por exemplo, sofreram acidente como resultado da decisão de colocá-los em operação antes que concluíssem seus testes, e de adiar a substituição das estações de controle para não estancar o fluxo de informações.
"O contexto era fazer o absoluto mínimo necessário a sustentar a luta agora, e aceitar os riscos, consertando os problemas ao longo do caminho", disse Matthewson.
As queixas sobre baixas civis, especialmente nos ataques no Paquistão, causaram algumas preocupações aos defensores dos direitos humanos. Representantes das forças armadas dizem que a capacidade dos aparelhos para observar um alvo por longos períodos torna os ataques mais precisos, e que os disparos são cancelados caso os operadores acreditem que há civis por perto.
Predators e Reapers hoje realizam 34 vôos de vigilância no Iraque e no Afeganistão a cada dia, ante 12 em 2006. Também transmitem 16 horas de vídeo ao mês, parte deles diretamente a tropas no local.
Fonte: The New York Times via Terra - Tradução: Paulo Migliacci
Nenhum comentário:
Postar um comentário