Passageira de voo do Recife para São Paulo tentou despachar o botijão para o compartimento de cargas da aeronave, mas foi impedida. Professores explicam que diferença de pressão é um dos pontos de risco.
Funcionário encontra botijão de gás dentro de caixa que seria despachada no Aeroporto Internacional do Recife (Foto: Reprodução) |
Uma mulher tentou despachar um botijão de gás de cozinha para um avião, no Aeroporto Internacional do Recife, na Zona Sul da cidade, e foi impedida pelo funcionário de uma companhia aérea (veja vídeo acima). O item é um dos proibidos pela Agência Nacional de Avião Civil (Anac) por representar riscos. Professores ouvidos pelo g1 explicam os motivos do perigo.
No vídeo, que circula nas redes sociais, o funcionário apontou que o botijão "é praticamente uma bomba" e disse que ela poderia derrubar "um avião com um negócio desses". Esse é um dos problemas que podem ser associados ao botijão em condições inadequadas de temperatura e pressão, apontaram especialistas ouvidos pela reportagem.
O gás liquefeito de petróleo (GLP), que fica dentro do botijão, é altamente inflamável, ou seja, pode pegar fogo facilmente, explicou o professor de química do Projeto Educação, Gilton Lyra.
“Em um avião, mesmo sendo um ambiente pressurizado, a pressão em altitudes é mais baixa e não fica igual à pressão no solo. E essas variações de pressão são perigosas para vazamentos ou explosões físicas”, afirmou o professor de química.
No vídeo, que circula nas redes sociais, a passageira afirma que o bujão está vazio. “Em cidades como o Recife, que estão ao nível do mar, a pressão é de uma atmosfera. Então, achar que o botijão acabou significa que dentro dele ainda tem uma atmosfera de pressão de gases ali dentro. A gente acha que acabou, mas não acabou. Só igualou a pressão de fora”, disse o professor de química.
“Quando a gente acha que acabou, ainda tem muito conteúdo gasoso ali dentro”, alertou Lyra.
Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e professor de física, Mário Monteiro explicou que, além disso, o botijão é projetado para determinada pressão e temperatura.
“O botijão de gás foi projetado, falando de engenharia, para aguentar uma pressão de dentro para a fora bastante alta, bem maior que a pressão de fora. No entanto, não se sabe como esse botijão em termos de infraestrutura ia se comportar a uma pressão tão baixa”, disse Monteiro.
O professor de física afirmou que uma forma de entender como a pressão pode afetar vasilhames é observar o que acontece com um garrafa pet, fechada com gás atmosférico dentro. "Muito provavelmente, se você estiver lá em cima e o avião tiver uma despressurização, além das pessoas e das bagagens serem jogadas para fora, essa garrafa fictícia de gás que você está levando tende a explodir", declarou Monteiro.
O inverso acontece em mergulhos, por exemplo, porque a pressão aumenta. "Se você pegar essa mesma garrafa que vai estar toda bonitinha, quanto mais você desce, mais ela vai comprimir. É o inverso da pressão baixa", disse o pró-reitor.
O corpo humano, ainda de acordo com Monteiro, não aguenta variação grande de pressão. “A gente foi projetado pela natureza para conviver aqui, na pressão atmosférica. No momento em que a gente vai para um local em que a pressão é menor, a gente sente logo os tímpanos, que são uma película muito fina”, disse.
Transporte
Outro fator de segurança é a questão do transporte. No caso dos botijões de GLP, há uma série de regras definidas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), segundo o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, Anderson Barros.
"O botijão é produzido e projetado para ser transportado em pé. Se deitar, e uma válvula daquela de retenção falhar, o líquido vai sair [e pode gerar um acidente]", contou Barros.
As regras para transporte são da resolução número 26 de 2015 da ANP, que determina que botijões de gás de cozinha só podem ser transportados em caminhões, picapes abertas com proteção lateral e traseira, com fixação da carga, e motos com sidecar que tenham autorização da agência.
Assim como dito pelo professor de química, Barros falou que, embora o bujão pareça vazio, ele não está de fato e, com mudança de temperatura, também pode haver explosão. É o que acontece, por exemplo, em incêndios em residências, explicou o tenente-coronel.
"O que causa a explosão é a condição que o botijão é colocado. Em um incêndio, ele vai aquecendo, o líquido vai se transformando em gás e o vasilhame não aguenta [e rompe]. Mas aí você tem que ter as condições externas para a explosão, que é o que pode acontecer em um voo. Você junta o botijão com gás, com muito ou pouco [conteúdo], em uma mudança de temperatura e pressão e é um perigo", disse.
Via Katherine Coutinho, g1 PE
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