sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Revistas minuciosas testam a paciência de passageiros nos EUA

Passageiros enfrentam longas filas no Aeroporto Internacional de Los Angeles

Ao chegar ao aeroporto internacional O'Hare, em Chicago, na quarta-feira, o passageiro Dennis Weyrauch descreveu duas horas de espera e escrutínio no aeroporto de Amsterdã antes da decolagem de seu voo; como aconteceu com todos os passageiros do avião, sua bagagem de mão foi revistada metodicamente, o conteúdo dos vidros de seu kit de higiene pessoal foi averiguado e ele passou por revista corporal.

"Foi bastante completo. Um processo longo. Parecia uma revista policial", disse Weyrauch, 53 anos, advogado em Eagle, Idaho. "Para dizer a verdade, me pareceu exagero. Não me senti mais protegido devido a essas medidas de segurança, e fiquei imaginando, do ponto de vista prático, por quanto tempo eles poderão manter esse nível de atenção".

Em aeroportos de todos os Estados Unidos, quase duas semanas depois de um atentado terrorista frustrado em um voo para Detroit, dezenas de viajantes relataram experiências notavelmente diferentes em termos de medidas de segurança. Nos voos domésticos, muita gente viu pouca novidade, além da presença reforçada de cães policiais nos terminais dos aeroportos e, em certos casos, revistas e verificações de bagagem de mão aleatórias.

Para as pessoas que embarcaram em voos internacionais rumo aos Estados Unidos, as mudanças foram muito mais pronunciadas. As filas eram longas, verificações triplas e até quádruplas foram conduzidas, documentos foram esquadrinhados e quase todos revelam terem sido revistados.

"Se o processo fosse assim o tempo todo", disse Weyrauch sobre o tempo perdido, "eu reconsideraria a frequência das minhas viagens". As pessoas pareciam em sua maioria pacientes e compreensivas quanto aos esforços adicionais de segurança, mas havia alguns passageiros exasperados, confusos e - na maioria dos casos - atrasados.

Ao contrário do restante do país, as filas para a revista de passageiros estavam curtas no aeroporto de Denver, no dia 6 de janeiro

No aeroporto internacional Newark Liberty, Leroy Cowell desembarcou com um dia inteiro de atraso. Uma verificação de segurança na Jamaica causou o atraso inicial de seu avião, e depois uma verificação adicional de segurança de duas horas, em Miami, o fez perder sua conexão. O presente que estava trazendo para a mãe, dois peixes fritos, estragou.

"Isso pode manter as pessoas mais seguras, mas envolve revistas demais, demora demais", disse Cowell, 38 anos. "O procedimento é demorado demais". As companhias aéreas afirmam que ainda é cedo para determinar se as pessoas mudarão seus padrões de viagem aérea, mas os dados sobre os 10 dias posteriores ao incidente no dia do Natal mostram incidência mais elevada de atrasos e de voos cancelados em alguns dos maiores aeroportos dos Estados Unidos e do exterior, ante os números para o mesmo período dois anos antes.

Alguns aeroportos foram atingidos por tempestades de neve, mas dados da FlightStats, uma empresa que compila estatísticas sobre aeroportos e linhas aéreas, também sugerem que as medidas reforçadas de segurança podem ter impacto forte sobre os atrasos.

Os viajantes que estavam embarcando na quarta-feira, enquanto isso, se declaravam ainda incertos quanto ao que esperar nos aeroportos, a despeito do número de dias transcorrido desde o ataque frustrado e dos esforços reforçados, mas inconsistentes, de segurança adotados pela Administração da Segurança nos Transportes (TSA), uma agência federal. Alguns passageiros domésticos se viram selecionados aleatoriamente para revistas corporais em aeroportos de cidades como Wichita, Kansas, mas a maioria não passou por essa experiência.

E outras aparentes contradições também se revelaram. Susannah Kassmer disse que foi instruída a remover o instrumento musical que toca, uma espécie de gaita de foles, do estojo de transporte, e a provar seu propósito, antes de ser autorizada a embarcar em um voo de Dusseldorf a Newark. Mas Anthony Aguirre, outro passageiro, disse que foi revistado antes de embarcar em seu voo no O'Hare, mas que os seguranças haviam ignorado uma garrafa contendo um martini de chocolate que ele transportava no bolso traseiro de suas calças largas.

No exterior, especialmente, revistas corporais se tornaram o padrão, mesmo para os passageiros de países que não constam da lista de 14 nações que os Estados Unidos selecionaram para fiscalização adicional. Mas ainda assim os passageiros descreveram versões muito diferenciadas - de procedimentos completos, desajeitados mas invasivos, que incluíam revista de partes íntimas, a uma revista rápida por tato.

"Os seguranças pareciam mais desconfortáveis ao revistar as pessoas dessa maneira do que as pessoas se sentiam ao serem revistadas", disse Caritha Curti, que viajou com a filha de Tóquio a Newark, e em seguida a Boston. "Imaginei que, se eu realmente tivesse algo de escondido, eles não teriam notado".

Na quarta-feira, um funcionário da TSA confirmou que a agência havia solicitado às companhias aéreas que alterassem a forma de revista nos voos destinados aos Estados Unidos. O funcionário não descreveu a norma exata, mencionando questões de segurança, mas disse que as linhas aéreas de todo o mundo haviam sido solicitadas a realizar "revista corporal completa", e que o pedido era mais abrangente do que havia sido o caso no passado.

"Não podemos falar sobre a forma de nossas buscas corporais", disse o funcionário, que não tem autorização para comentar o protocolo e pediu que seu nome não fosse mencionado. "Mas posso confirmar que o método que temos em vigor agora é mais rigoroso que o aplicado antes, em termos internacionais".

Vincent Gesquiere, que voltou para casa, em Atlanta, de Bruxelas, na quarta-feira, disse que os seguranças haviam pedido que abrisse o cinto e alertado que "revistaremos partes muito próximas das áreas privadas de seu corpo", contou o passageiro. Ele disse não ter considerado o processo incômodo, e que se sentiu mais seguro devido ao nível reforçado de cautela.

Em dezenas de entrevistas em todo o país, os atrasos, as longas filas e a perda de voos é que pareciam mais perturbadores, no momento.

No aeroporto internacional Kennedy, em Nova York, Anthony Baker disse que havia conseguido passar sem problemas pelas regras excepcionalmente rigorosas adotadas em um voo oriundo de Dubai - revista corporal completa e proibição ao transporte de bagagens de mão. Mas no Kennedy, Baker, professor de Direito na Carolina de Norte, perdeu seu voo matinal de conexão para o aeroporto internacional de Raleigh-Durham, devido à demora na revista de sua bagagem.

Na tarde da quarta-feira, ele ainda estava no aeroporto a espera de um novo voo. Disse que embora se sentisse frustrado, não estava indignado. "Não é o fim do mundo", ele disse, com um livro nas mãos e um jogo de paciência ao seu lado no banco.

Anthony Baker, na Carolina do Norte, passou boa parte da última quarta-feira no aeroporto JFK, em Nova York

Alguns passageiros afirmaram que a incerteza quanto ao que esperar os havia deixado igualmente inseguros sobre como se sentirão caso precisem voar novamente nos próximos meses.

Nick Winter, 46 anos, administrador artístico da Orquestra Sinfônica de Chicago, voou para Chicago vindo de Londres, na quarta-feira, em meio a uma tempestade de neve. Devido à tempestade, ele diz que não sabia quando precisava sair para o aeroporto, com que antecedência deveria chegar para o embarque devido às novas medidas de segurança, e que por alguns instantes se deixou deprimir pelo incômodo da situação.

"Quando as pessoas descobrirem como os novos sistemas funcionam, se acostumarão a eles", disse. "Mas confesso que pensei se realmente preciso passar por todo esse incômodo".

Passageiros estrangeiros passam por revista minuciosa no Aeroporto Internacional de Los Angeles

Fonte: Monica Davey (The New York Times) via Terra - Tradução: Paulo Migliacci ME - Fotos: The New York Times

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