sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Por que se deve analisar as águas residuais de aviões vindos da China?

A análise das águas residuais é muito menos penosa para os passageiros e mais fácil de realizar
do ponto de vista logístico do que os testes individuais (Foto: AFP)
Diante da explosão de casos de covid-19 na China, alguns países começam a examinar as águas residuais dos aviões procedentes do gigante asiático. A medida não impedirá a propagação do vírus, mas permitirá identificar possíveis novas variantes.

No que consiste?


Trata-se de examinar a urina e as fezes misturadas de todos os passageiros de um voo procedente da China. O objetivo é detectar a presença ou não do coronavírus para se ter uma ideia de seu grau de circulação e das diferentes variantes.

Para isso, depois da aterrissagem de um avião, as autoridades locais recolhem amostras de suas águas residuais. Em seguida, estas são enviadas para laboratórios, onde são submetidas a testes exaustivos. Se o vírus for detectado, seu genoma é “sequenciado” para vinculá-lo a uma variante conhecida.

Outra possibilidade é recolher as águas residuais de todo um aeroporto. Mas isso não permite mensurar os riscos relacionados com um lugar de origem específico.

Quem faz?


Muitos países decidiram controlar as águas residuais dos aviões procedentes da China, entre eles Austrália, Bélgica e Canadá. Os Estados Unidos planejam fazê-lo, segundo a imprensa americana, e a União Europeia (UE) provavelmente recomendará o mesmo a todos os seus Estados-membros, depois que os especialistas se pronunciaram a favor esta semana.

Para quê?


A análise das águas residuais permite aos países agir em um momento no qual os casos de covid explodiram na China após o levantamento de restrições drásticas mantidas durante três anos.

Mas não se espera que isso limite a propagação do vírus além-fronteiras, ao contrário da obrigatoriedade de testes negativos aos viajantes.

“Estas amostras representam uma janela sobre o que está acontecendo atualmente na China”, explica à AFP o epidemiologista Antoine Flahault, em um contexto de “dúvidas sobre a transparência e a diligência da informação sanitária oficial do governo chinês”.

“Saber que entre 30% e 50% dos passageiros procedentes da China estão atualmente infectados é uma informação útil na ausência de números confiáveis sobre a incidência atual da covid-19 no país”, destaca.

Também é possível detectar nestas águas residuais a presença de novas variantes, que poderiam fazer a epidemia evoluir como aconteceu com a ômicron no fim de 2021.

Qual é o seu sentido?


A análise das águas residuais é muito menos penosa para os passageiros e mais fácil de realizar do ponto de vista logístico do que os testes individuais. Por isso, a medida favorece o setor de transporte aéreo.

A associação que promove os interesses coletivos dos aeroportos europeus, ACI Europa, defendeu esta semana que as análises sejam limitadas às águas residuais, ao invés de exigir testes aos viajantes.

Quais são seus limites?


O exame das águas residuais é uma ferramenta que “funciona incrivelmente bem”, mas não dá uma “visão exaustiva” da presença do vírus a bordo de um avião ou das variantes que circulam nele, adverte à AFP o virologista Vincent Maréchal.

Este método apenas mostra a presença do vírus entre os passageiros que usaram o banheiro.

Além disso, a análise das águas residuais pode ser interessante para se conhecer o grau de circulação do vírus, mas dá pouca margem para empreender ações concretas e rápidas.

São necessários vários dias para concluir a coleta das águas, seu transporte ao laboratório e sua análise posterior.

“Uma vez que temos a informação, o que fazemos com ela? Entramos em contato com todas as pessoas [que estavam] no avião?”, pregunta-se Maréchal. “É interessante, mas já é tarde para as medidas que poderiam ser tomadas”, ressalta.

Via AFP/IstoÉ Dinheiro

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