sábado, 13 de março de 2021

Guerra Fria 2.0: Bombardeiro B-1B faz uma parada no Ártico pela primeira vez

O pouso tem uma carga simbólica: um recado após o discurso do novo governo americano Joe Biden com críticas ao governo russo de Vladimir Putin (Foto: Departamento de Defesa dos EUA/Facebook)
Os Estados Unidos pousaram pela primeira vez um bombardeiro com capacidade nuclear na região considerada o "quintal" da Rússia, localizada acima do Círculo Polar Ártico, em uma provocação de força com o país. O episódio ocorreu no domingo (7), mas as primeiras informações começaram a circular durante a semana.

Mapa que mostra as localizações gerais da Estação Aérea Principal de Bodø da Força Aérea Real Norueguesa, ao norte, e da Estação Aérea Principal de Ørland, a sudoeste. 
Conhecido como "Cavaleiro das Trevas", o bombardeiro — aeronave militar projetada para atacar alvos terrestres principalmente com o lançamento de bombas — é do modelo B-1B e foi projetado na Guerra Fria. À época, o objetivo da aeronave era ser utilizada em missões de penetração na então União Soviética (URSS).


Nesta missão, a tripulação fez o chamado "pit-stop morno" no aeroporto de Bodø, no qual os motores são desligados e o avião é reabastecido em terra com a tripulação embarcada.

O local de aterrissagem é considerado a rota mais curta para um ataque contra Moscou por conta da curvatura da Terra, e é visto como "quintal" por Moscou por ter forte presença militar do lado oposto da península que abriga Noruega e Suécia.


Além de rotas militares, as distâncias menores entre a Rússia e o Ocidente pelo polo Norte, o degelo do Ártico tem aberto caminhos comerciais marítimos. Com isso, há mais exploração de gás e petróleo.

Com relação a Bodø, especificamente, a base fornece acesso rápido para os bombardeiros nos mares da Noruega e de Barents e na região do Grande Ártico. A partir daí, os B-1Bs poderiam representar um novo tipo de desafio para as operações russas nessas áreas, especialmente as de suas forças navais baseadas no canto noroeste daquele país. 

Os navios e submarinos da Marinha Russa navegam rotineiramente pelo Mar de Barents e depois pelo Mar da Noruega em seu caminho em direção ao chamado fosso da Groenlândia, Islândia, Reino Unido (GIUK) e o oceano Atlântico norte além dele. 

Um mapa da era da Guerra Fria mostrando a lacuna GIUK

Guerra Fria 2.0


Não é a primeira vez que aviões com capacidade de arremessar bombas voaram pela região. No entanto, o pouso tem uma carga simbólica: um recado após o discurso do novo governo americano Joe Biden com críticas ao governo russo de Vladimir Putin.

Isso porque Biden fez discursos e tomou medidas contra Putin, acusando o governo russo de tentar matar o opositor Alexei Navalni e aplicando sanções a autoridades ligadas ao presidente russo. Por isso, sinais aparentemente pequenos, como o envio de um avião para uma base remota no Ártico, ganham importância como termômetro das disposições de lado a lado.

No mês passado, a Rússia enviou um navio de guerra, o Marechal Ustinov, pela primeira vez para o fiorde de Varanger, que marca a fronteira marítima com a Noruega —membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) , aliança militar liderada pelos EUA.

O cruzador da classe Slava da Marinha russa, Marechal Ustinov
Desta forma, é possível ler o aceno a Putin como uma forma de asseverar independência em relação a Biden, que até aqui só sinalizou a manutenção da política de confronto com a China instituída pelo seu antecessor, Donald Trump.

Por este motivo, a "Guerra Fria 2.0" pode até mudar de tom, mas não de objetivo. Biden já deixou claro que considera a China o maior rival estratégico dos EUA, enquanto vê a Rússia como uma perigosa adversária, particularmente no campo militar.

Nesta sexta-feira (12), Biden promoverá uma reunião virtual com seus aliados do Quad, o grupo militar que reúne EUA, Japão, Austrália e Índia, em oposição a Pequim. As tensões sino-americanas seguem em alta em pontos como o mar do Sul da China, que recebe B-1Bs com frequência.

Via Yahoo! / The Drive

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