A reforma terá início pela pista de pouso e decolagem. A primeira etapa do projeto inclui ainda a construção de uma segunda pista, ampliação do pátio de aeronaves e do estacionamento de veículos, reforma do terminal de passageiros e aumento do número de balcões de check in. Até 2020, Viracopos poderá ombrear com o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, que tem capacidade para atender 20 milhões de pessoas por ano.
O custo da ampliação é substancialmente inferior ao da construção de um novo aeroporto - tese levantada por analistas desde o início do caos aéreo brasileiro, em 2006. A reforma de Viracopos está estimada em 6,4 bilhões de reais. Já a construção de uma nova pista internacional não sai por menos de 6 bilhões de dólares - cerca de 10,5 bilhões de reais.
"A ampliação de Viracopos não resolverá definitivamente o problema da aviação em São Paulo", pondera o professor Orlando Fontes Lima Júnior, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Mas o amenizará consideravelmente pelos próximos anos, principalmente com relação às cargas aéreas e aos voos internacionais". Ele acredita que a construção de outro aeroporto é inevitável, mas defende que a nova pista seja instalada em um ponto ainda mais ao interior do estado, para descentralizar as operações.
Sem filas
Atualmente, enquanto Cumbica impõe aos viajantes uma espera na fila de até duas horas, o embarque e desembarque dos passageiros de voos domésticos no aeroporto próximo a Campinas não demora mais do que 15 minutos. Apesar de os voos internacionais regulares terem desaparecido dali, toda a infraestrutura para esse tipo de operação está montada. Curiosamente, ainda são poucas as companhias aéreas que enxergaram esse filão.
Viracopos conta com um terminal de passageiros, 32 balcões de check in, quatro elevadores, praça de alimentação, 47 lojas, sete portões de embarque, quatro esteiras de bagagens, duas salas de embarque, duas salas de desembarque, três postos de alfândega, além de dois canais de inspeção internacionais e três domésticos. A pista, de 3.240 metros de extensão, é adequada para receber qualquer tipo de aeronave. Ali, são feitos diariamente 171 pousos e decolagens.
Se no passado este foi o grande aeroporto internacional de passageiros em território paulista, atualmente é o maior centro de cargas do Brasil. Passam por ali 141 cargueiros por semana. Em setembro de 2008, o vaivém somou mais de 15.000 toneladas de produtos importados e quase 8.000 toneladas de exportações.
Em volume de passageiros, é o aeroporto que mais cresce no país. Enquanto a média brasileira gira em torno de 10%, Viracopos apresentou, entre janeiro e setembro deste ano, um crescimento de 171% em relação aos 12 meses de 2008. A expectativa é que passem por lá 3,2 milhões de pessoas até o fim de 2009 - número ainda distante da capacidade do aeroporto.
Para o empresário gaúcho Ramon Guilherno Dauber, que desembarcou em Campinas pela primeira vez há uma semana, o aeroporto da cidade foi uma descoberta animadora. "Tenho medo de descer em Congonhas [na capital] pela quantidade de acidentes que já aconteceram ali e não gosto de Cumbica, porque, além de estar sempre lotado, ainda nos obriga a perder algumas horas no congestionamento da Marginal do Tietê", explica.
Distância
Além dos ônibus da companhia aérea Azul, que transportam gratuitamente os clientes para São Paulo, Sorocaba, Jundiaí, Americana e Piracicaba, as únicas formas de chegar ao aeroporto ou partir dali são o táxi (uma viagem para a capital paulista custa 250 reais) ou os ônibus da Caprioli, empresa que cobra 8 reais pelo trecho Campinas-Viracopos e 35 reais pela viagem a São Paulo. Como o estacionamento já não comporta a demanda, quem opta por ir com veículo próprio chega a esperar até 20 minutos por uma vaga.
"O estado brasileiro ainda não entendeu a necessidade de integrar os aeroportos com o transporte público", ressalta Adalberto Febeliano, diretor de Relações Institucionais da Azul. "Quando se melhora a integração, aumentam o fluxo de passageiros e o número de voos". Organizador de um seminário sobre Viracopos no ano passado, Lima Júnior, da Unicamp, considera dispensável ligar por ferrovia a capital e o aeroporto. "Basta criar linhas de ônibus", acredita. "Além da implantação mais rápida, o custo é infinitamente menor".
É mais do que hora de se começar a pensar no assunto. Afinal, pouco adianta solucionar o problema nos ares se os passageiros não conseguirem chegar até o local de embarque por terra.
Fonte: Branca Nunes (Veja.com) - Arte: Luciana Martins - Foto: Divulgação