Chamado Enola Gay, o grande avião foi modificado para carregar a bomba atômica e mudou o mundo.
Antiga fotografia do avião B-29 Superfortress, batizado como Enola Gay (Foto: Divulgação/Departamento de Defesa dos Estados Unidos) |
No dia 1º de setembro de 1939, foi declarado oficialmente o início da Segunda Guerra Mundial, um dos maiores conflitos que a humanidade já presenciou. De um lado, estava o Eixo, formado pela Alemanha nazista, Itália fascista e Japão imperial; do outro, os Aliados: Inglaterra, França, Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Ao longo de seis anos, o mundo se comoveu no que é considerado um grande marco para as guerras, enquanto os Aliados se uniam para conter o avanço das tropas nazistas, que queriam expandir seu império. O conflito, por sua vez, só foi declarado encerrado no dia 2 se detembro de 1945, com a rendição do Japão — provavelmente, um dos países mais afetados.
E não é à toa que se diz que o Japão tenha sofrido muito com a guerra. Afinal, em pleno ano de 1945, o mundo ainda não estava preparado para o surgimento de uma nova arma, a mais letal já criada pelo homem até então: a bomba atômica. E o país asiático descobriu seu poder de destruição no dia 6 de agosto daquele ano, quando a bomba Little Boy foi lançada sobre a cidade de Hiroshima, vitimando, de uma vez, entre 50 e 100 mil pessoas.
Emblemática fotografia tirada após a explosão da bomba atômica Little Boy em Hiroshima, no Japão (Foto: Domínio Público via Wikimedia Commons) |
Avião modificado
A estratégia adotada para os Estados Unidos com o fatídico bombardeio era de evitar uma invasão de tropas nas ilhas japonesas, o que levaria à morte sangrenta de incontáveis japoneses e americanos. Então, apenas uma bomba atômica poderia resolver tudo — embora tivessem lançado outra três dias depois sobre Nagasaki.
Para realizar tal proeza, os americanos utilizaram um avião militar de ponta na época, do modelo B-29 Superfortress. Porém, somente uma nave em específico transportara a Little Boy, esta nomeada como "Enola Gay", que precisou de várias modificações em sua estrutura para suportar a bomba de destruição em massa.
"Toda a armadura que protege a tripulação foi removida para economizar peso", disse o curador de aviação militar americana do Air and Space Museum, 1919-1945, Dr. Jeremy Kinney. "Você tem uma bomba atômica de 10.000 libras [cerca de 4,5 toneladas] que precisa carregar, então precisa tornar o avião mais leve."
Além disso, conforme descreve o site do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, também foram removidas as torres de armas controladas remotamente, pensando em aumentar a velocidade da aeronave. No fim, o que permaneceu como original foi apenas a posição do canhão de cauda, que continuou para defender-se dos ataques inimigos.
O avião Enola Gay (Foto: Divulgação/Departamento de Defesa dos Estados Unidos) |
Missão de Hiroshima
O Enola Gay já era pilotado por Robert Lewis, capitão da Força Aérea do Exército, tendo partido com ele de onde foi construído até o Novo México, e depois para Tinian, nas Ilhas Marianas, onde sua tripulação praticou manobras de voo. Porém, quem lideraria o bombardeio de Hiroshima seria o coronel Paul Tibbets Jr., comandante do 509º Grupo Composto.
Então, nas primeiras horas do dia 6 de agosto de 1945, o Enola Gay partiu em direção a Hiroshima e, por volta das 8h15, a Little Boy foi lançada. E foi assim que, em apenas um instante, a cidade japonesa foi atingida por uma explosão equivalente a mais de 10 mil toneladas de TNT, o que pôde ser sentido até pela estrutura do avião.
Com a explosão, aqueles próximos ao local exato sobre o qual a bomba foi lançada se tornaram carvão quase instantaneamente. Segundo o Departamento de Energia dos EUA, cerca de 70 mil pessoas morreram com a explosão, e outras inúmeras nas semanas que se seguiram, graças à radiação.
"[Os membros da tripulação] sentiram fortemente que o uso da bomba atômica acabou com a Segunda Guerra Mundial no Pacífico", afirmou Jeremy Kinney. "Eles reconheceram a perda de vidas e o que isso significava para o povo japonês, mas sentiram que era necessário porque não queriam que mais americanos morressem no que pensaram que seria uma longa e sangrenta invasão [do Japão]."
Parte da tripulação do Enola Gay (Foto: Divulgação/Departamento de Defesa dos Estados Unidos) |
Posteriormente, o Enola Gay ainda seria utilizado outra vez, no dia do ataque à Nagasaki, sendo uma das aeronaves que acompanhou — não lançou, dessa vez — a explosão da segunda bomba atômica, a Fat Man, considerada duas vezes mais potente que a anterior.
Veterano de guerra
Após os bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, a Segunda Guerra Mundial caminhou para o fim de maneira mais rápida, e o Enola Gay finalmente não precisaria mais trabalhar nessas brutais missões. Ainda assim, permaneceu com as Forças Aéreas do Exército estadunidense, participando em testes atômicos no Atol de Bikini, até ser aposentado em 1960.
Então, o grande avião foi armazenado próximo à Base Aérea de Andrews, em Maryland, já desmontado: "As asas estavam fora. A cauda estava fora. Estava tudo em pedaços grandes", descreve o curador de aviação militar.
Foi só em 1984 que decidiram reconstruir a aeronave mais uma vez, em um trabalho que demandou anos. "Cada centímetro quadrado da superfície de duralumínio foi polido. Os motores foram completamente revisados, assim como as hélices. Ele tinha alguns homens gordos pintados sob as janelas dos pilotos para indicar as missões de Hiroshima, Nagasaki e Bikini. Esses foram retirados porque a decisão era restaurá-lo a um determinado momento [antes de Hiroshima]."
Em 2003, completamente remontado, o avião foi exposto no Udvar-Hazy Center, do Museu do Ar e Espaço em Chantilly, Virgínia. Ainda hoje, a pintura original escrito "Enola Gay" pode ser vista.
Fotografia de 2003 do Enola Gay (Foto: Getty Images) |
Via Via Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins (Aventuras na História)
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