quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Região Metropolitana de Porto Alegre teve três acidentes aéreos em cinco meses

Além do caso desta segunda-feira (3), outros dois aconteceram em setembro e maio, todos com voos que tiveram como origem ou destino aeródromos em Eldorado do Sul.

Bombeiros fizeram buscas nesta terça-feira (4) por aeronave que decolou de Eldorado do Sul
e desapareceu ao sobrevoar o Guaíba (Foto: Anselmo Cunha / Agencia RBS)
A queda de uma aeronave na noite dessa segunda-feira (3), no Guaíba, na zona sul de Porto Alegre, após decolar de pista em Eldorado do Sul, foi a terceira registrada na Região Metropolitana em cinco meses. Nesta terça-feira, bombeiros seguiram realizando buscas pelo piloto Luiz Cláudio Petry, 43 anos, que decolou da pista da Fazenda Jacuí em uma aeronave Wega 180, considerada um modelo ultraleve e de segmento experimental, conforme dados do painel Sipaer, da Aeronáutica.

Há pouco mais de um mês, houve outro caso em Eldorado do Sul. Um acidente com uma aeronave de pequeno porte deixou um morto e um ferido em 1º de setembro. Segundo informações recebidas pela Polícia Civil na ocasião, a aeronave estava fazendo um voo rotineiro dentro da área permitida e com a capacidade correta, de duas pessoas a bordo. O modelo era um ultraleve, Storm 300B, fabricado em 2001 e pertencente a uma empresa da Capital.

O avião tinha registro autorizado para a categoria privada experimental e saiu do aeródromo El Dourado. Segundo o registro da investigação, no painel Sipaer, logo após a decolagem, ao realizar uma curva à esquerda, a aeronave perdeu o controle em voo e colidiu contra o solo. O piloto, Rodolfo dos Santos Correia, 48 anos, morreu no local. Já o copiloto, Ivo Nei Becker Han, 52, foi internado no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, e recebeu alta no dia 14 de setembro. A investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e a causa é apontada como “perda de controle durante o voo”.

Já em 20 de maio deste ano, o avião de pequeno porte Embraer E110, conhecido como Bandeirante, fez um pouso forçado em uma plantação às margens do km 120 da BR-290, no distrito de Parque Eldorado, em Eldorado do Sul, antes do destino final, que era o Aeroclube do município. A aeronave havia partido do Aeroporto Comandante Rolim Adolfo Amaro, em Jundiaí, interior de São Paulo, carregada de peças automotivas, que seriam entregues na cidade da região metropolitana de Porto Alegre.

De acordo com o sistema da Aeronáutica, o motor do lado esquerdo apresentou falhas em seu funcionamento, fazendo com que a aeronave perdesse altitude e chocasse contra o solo. Os dois tripulantes tiveram ferimentos, sendo um grave e outro leve. A investigação deste caso também permanece em andamento.

Com relação aos três acidentes, o professor do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Frederico Faria, 43 anos, não acredita que haja uma causa em comum.

— Não tem relação um com outro, são aeronaves diferentes, em fases do voo distintas. Às vezes, é uma coincidência mesmo — analisa.

Faria enfatiza que, com o passar dos anos, há um esforço maior dedicado ao fator humano para evitar possíveis falhas.

— Se começou a se focar mais na parte de segurança de voo — explica.


Em contato com GZH, o Cenipa, que também acompanha o caso registrado em Porto Alegre, afirma que sua função é identificar os fatores que possam ter contribuído para as ocorrências, de modo que haja um trabalho de prevenção que evite novos acidentes. Vinculados ao órgão, investigadores do 5º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa V), localizado em Canoas, foram acionados para acompanhar a situação. Até o momento, não há como adiantar o que pode ter causado o acidente na noite de segunda-feira.

GZH também conversou com um piloto particular, de 54 anos, que não quis se identificar. Ele diz que percebe um aumento de acidentes envolvendo modelos experimentais, como os ultraleves.

— Isso está acontecendo no mundo todo com aeronaves experimentais. Elas são super bem construídas, mas precisa ter experiência de voo e, por isso, o risco aumenta. Antigamente se voava muito lento, mas agora os ultraleves estão mais rápidos que alguns aviões certificados. Precisa ter experiência para pilotar — argumenta.

A reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que é a reguladora federal da atividade no Brasil. Segundo o órgão, uma aeronave experimental não é submetida a uma longa campanha de testes, diferentemente de um avião com certificado de aeronavegabilidade convencional.

Confira a manifestação da Anac na íntegra

"O ultraleve é um tipo de aeronave que se insere na categoria experimental. Uma aeronave experimental é caracterizada por ser de construção amadora, que não é submetida a uma longa campanha de testes, diferentemente de um avião com certificado de aeronavegabilidade convencional.

Aeronaves experimentais que já tenham concluído com sucesso sua avaliação operacional e acumulado 100 horas de voo podem sobrevoar áreas densamente povoadas pela extensão de até 2,8 km nas operações de pouso e decolagem. Essa operação é limitada a pilotos com experiência recente de três pousos e três decolagens na aeronave específica da operação. Ainda, há uma série de exigências de aeronavegabilidade e o operador deve obter um formulário de aprovação, assinado por uma organização de manutenção certificada pela ANAC segundo o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil (RBAC) nº 145 e autorizada a executar tarefas de manutenção em aeronaves de mesma configuração, categoria, classe e motorização similar ou por um mecânico de manutenção aeronáutica com habilitações válidas em célula e grupo motopropulsor. A responsabilidade pela análise de cumprimento dos requisitos, inclusive da trajetória do voo, é do piloto em comando.

É importante destacar que a segurança no transporte aéreo depende de vários fatores e parte destes estão ligados às atribuições legais da ANAC. Muitas regulamentações voltadas à segurança da aviação civil foram expedidas ou atualizadas pela Agência nos últimos anos, para reforçar a mitigação de riscos de acidentes. Garantir a segurança das operações aéreas é a prioridade da ANAC, e para ela dedicamos quase 80% de nossas atividades, motivo pelo qual a redução do índice de acidentes aéreos está entre os objetivos estratégicos da Agência.

Reforçamos, ainda, que a fiscalização sobre segurança realizada pela ANAC envolve a certificação das aeronaves, da tripulação e dos procedimentos de segurança adotados tanto pelas empresas, quanto pelos aeroportos. A Agência trabalha com conceitos preventivos de mitigação de riscos, obtida por meio de ações de vigilância continuada e de monitoramento das operações. As fiscalizações ocorrem, portanto, de forma programada, não programada e a partir de denúncias.

Para assegurar o cumprimento de seus objetivos e missão institucional, a Agência também tem realizado diversas ações de gestão interna, tais como: concurso público para incremento do quadro de pessoal; atualização do planejamento estratégico; elaboração da Agenda Regulatória e de projetos prioritários para diversos processos da Agência que englobam a Gestão da Fiscalização, a Otimização e melhoria da qualidade do processo de certificação de pessoal da aviação civil, entre outros."

As ocorrências


3 de outubro

Destroços da aeronave que foram encontrados no Guaíba por embarcações (Foto: Marcos Pacheco / RBS TV)
Onde foi: o ultraleve monomotor partiu de pista da Fazenda Jacuí, em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, e caiu no Guaíba, nas imediações da Ponta Grossa, na zona sul da Capital.

O que se sabe: segundo os bombeiros, o piloto é Luiz Cláudio Petry, de 43 anos. Ele é dono do monomotor e estava sozinho no momento da queda. Destroços da aeronave foram encontrados. Entre as partes identificadas, estão as asas e a cabine do piloto. Um posto de comando foi montado na Avenida Guaíba, próximo à praia de Ipanema, para as buscas.

Modelo: Wega 180, avião ultraleve de segmento experimental.

1º de setembro

Investigadores do 5º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
na ocorrência em Eldorado do Sul (Foto: Camila Hermes / Agencia RBS)
Onde foi: ultraleve saiu da pista El Dourado, em Eldorado Sul, e caiu em uma propriedade rural próxima à Estrada Santa Maria, no mesmo município.

O que se sabe: acidente com uma aeronave de pequeno porte que deixou um morto e um ferido. Segundo informações recebidas pela Polícia Civil, aeronave fazia um voo rotineiro dentro da área permitida e dentro da capacidade correta, de duas pessoas. O piloto, Rodolfo dos Santos Correia, 48 anos, morreu no local. Já o copiloto, Ivo Nei Becker Han, 52, foi internado no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre e teve alta.

Modelo: ultraleve Storm 300B fabricado em 2001, segmento experimental.

20 de maio

Embraer Bandeirante teve que fazer um pouso forçado em uma lavoura de arroz (Foto: André Ávila / Agencia RBS)
Onde foi: pouso foi em uma plantação próximo ao km 120 da BR-290, no distrito de Parque Eldorado, em Eldorado do Sul. A aeronave havia partido de Jundiaí, interior de São Paulo.

O que se sabe: piloto e copiloto ficaram feridos. Segundo testemunhas que viram a tentativa de pouso, a aeronave tentou uma aproximação de pouso no aeroclube de Eldorado. Por problemas em um dos motores, fez pouso forçado no solo. O piloto do avião, o comandante José Roberto Burim, 69 anos, militar reformado da Aeronáutica, foi levado para o Hospital da Base Aérea de Canoas pelo helicóptero AW 119 Koala da BM. Ele apresentava fratura na perna direita e no antebraço esquerdo. O co-piloto, Iury Camargo, que não teve a idade informada, foi encaminhado, de ambulância, para o posto central de Eldorado do Sul. Ambos são paulistas.

Modelo: Embraer E110, conhecido como bandeirante. Pertencente à empresa Sales Serviços Aéreos desde 2021 e foi fabricada em 1985. Tinha operação permitida para táxi-aéreo pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Via Kathlyn Moreira (GZH)

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