terça-feira, 21 de julho de 2009

Busca por vida ET e defesa do planeta dividirão atenções da corrida espacial

Missões robóticas vão estudar Marte, Plutão e estrelas distantes.

Tecnologia de satélites ajuda a entender e monitorar ambiente da Terra.


Pelo menos nos próximos dez anos, e talvez nos próximos 20, vai ser difícil que seres humanos consigam repetir, em pessoa, a façanha histórica dos astronautas da Apollo 11. Mas isso não significa que a exploração do espaço vai ficar congelada, à espera da próxima missão à Lua. Usando sondas robóticas como seus "órgãos dos sentidos" no Cosmos, a humanidade tem chances consideráveis de obter informações valiosas sobre a natureza da vida no resto do Sistema Solar e da galáxia - sem falar na contribuição das pesquisas espaciais para preservar a própria vida na Terra.

"Estamos começando uma etapa extraordinária da nossa história como espécie", avalia Geoff Marcy, astrônomo da Universidade da Califórnia em Berkeley e especialista na busca por planetas fora do Sistema Solar. "Pela primeira vez, estamos descobrindo como a Terra e a vida emergiram dos átomos e da energia do Universo. Vamos encontrar nossa origem lá fora, entre as estrelas."

No começo da próxima década, Marte é o grande alvo. Marte? Sim, o planeta vermelho está longe de já ter dado o que tinha que dar.

Concepção artística da sonda Mars Science Laboratory

Como o nome diz, o Mars Science Laboratory é um laboratório móvel, dotado de boa parte das ferramentas necessárias para analisar in loco a física e a química das rochas e do solo de Marte, em busca de moléculas orgânicas - os "tijolos" básicos que compõem as células vivas. Com isso, a sonda, que também tem formato de jipe, como os atuais Spirit e Opportunity, será capaz de determinar se Marte já abrigou formas de vida, mesmo que elas sejam muito primitivas, ou mesmo se, por algum grande golpe de sorte, elas ainda estão por lá em algum lugar, talvez escondidas sob a superfície, em lugares onde ainda se pode encontrar água no estado líquido. O lançamento está programado para 2011.

Em meados da década, deve ocorrer a vista ao "ex-planeta" Plutão, por parte da sonda New Horizons, também da Nasa, que já está a caminho de 2006 (sim, é muito, muito longe). Apesar de não ser mais planeta, Plutão é importante por fazer parte do cinturão de Kuiper, um conjunto de corpos em geral pequenos e gelados nas bordas do Sistema Solar. O cinturão de Kuiper guarda resquícios químicos da formação do Sistema Solar, trazendo, portanto, pistas importantes para entender como os domínios do Sol se formaram a partir de 5 bilhões de anos atrás.

Extrassolares

São, sem dúvida, jornadas emocionantes nas "vizinhanças" espaciais da Terra. "Mas não há dúvida de que o campo mais efervescente será mesmo na busca por planetas como o nosso fora do Sistema Solar. Se você perguntar a qualquer astrônomo hoje qual é o campo mais quente, ele dirá 'exoplanetas'. Não há como fugir disso", diz Salvador Nogueira, jornalista de ciência especializado na cobertura da corrida espacial e autor do livro "Rumo ao infinito - passado e futuro da aventura humana na conquista do espaço".

A dificuldade, nesse caso, é conseguir fazer imagens de planetas a anos-luz daqui, cuja fraca luminosidade é totalmente obscurecida pela de sua estela-mãe. É como tentar enxergar uma lanterninha debaixo de um refletor de estádio.

Por enquanto, o método mais interessante e criativo para conseguir essa façanha vem da missão europeia Darwin, programada para o final da década, que enviará uma frota de pequenas sondas para o espaço. Cada uma delas recolherá a luz vinda de sistemas estelares distantes de um ponto ligeiramente diferente, de maneira a "somar" a luz dos pequenos planetas e "subtrair" a das estrelas. Com isso, deverá ser possível ter uma ideia da composição química atmosférica dos "gêmeos" da Terra e estimar se eles são mesmo habitáveis ou apenas desertos com aparência promissora, como Marte e Vênus.

Concepção artística da missão Darwin

Cuidando de casa

Enquanto as missões ambiciosas não chegam, é importante lembrar de outra função primordial das sondas espaciais, diz o engenheiro eletrônico Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): observar o estado de saúde da própria Terra.

"Eu acho que, no século XXI, o nosso negócio terá de ser defender o planeta", afirmou ele ao G1. O Inpe já vem cumprindo essa missão ao monitorar em detalhes o desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica com a ajuda de sua linha de sátelites CBERS.

Para Câmara, o Brasil pode participar dessa nova era sobre a exploração espacial dando ênfase a uma cultura de continuidade na construção de sondas - tornando-as parte de uma espécie de linha de montagem - e investindo pesado em instrumentos de análise e distribuição de imagens, que ajudarão a comunidade científica a obter o máximo possível de dados sobre o ambiente e o clima da Terra. "Temos pessoal e tecnologia para isso", diz ele.

Fonte: Reinaldo José Lopes (G1) - Imagens: NASA

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