Missões robóticas vão estudar Marte, Plutão e estrelas distantes.
Tecnologia de satélites ajuda a entender e monitorar ambiente da Terra.
Pelo menos nos próximos dez anos, e talvez nos próximos 20, vai ser difícil que seres humanos consigam repetir, em pessoa, a façanha histórica dos astronautas da Apollo 11. Mas isso não significa que a exploração do espaço vai ficar congelada, à espera da próxima missão à Lua. Usando sondas robóticas como seus "órgãos dos sentidos" no Cosmos, a humanidade tem chances consideráveis de obter informações valiosas sobre a natureza da vida no resto do Sistema Solar e da galáxia - sem falar na contribuição das pesquisas espaciais para preservar a própria vida na Terra.
"Estamos começando uma etapa extraordinária da nossa história como espécie", avalia Geoff Marcy, astrônomo da Universidade da Califórnia em Berkeley e especialista na busca por planetas fora do Sistema Solar. "Pela primeira vez, estamos descobrindo como a Terra e a vida emergiram dos átomos e da energia do Universo. Vamos encontrar nossa origem lá fora, entre as estrelas."
No começo da próxima década, Marte é o grande alvo. Marte? Sim, o planeta vermelho está longe de já ter dado o que tinha que dar.
Em meados da década, deve ocorrer a vista ao "ex-planeta" Plutão, por parte da sonda New Horizons, também da Nasa, que já está a caminho de 2006 (sim, é muito, muito longe). Apesar de não ser mais planeta, Plutão é importante por fazer parte do cinturão de Kuiper, um conjunto de corpos em geral pequenos e gelados nas bordas do Sistema Solar. O cinturão de Kuiper guarda resquícios químicos da formação do Sistema Solar, trazendo, portanto, pistas importantes para entender como os domínios do Sol se formaram a partir de 5 bilhões de anos atrás.
Extrassolares
São, sem dúvida, jornadas emocionantes nas "vizinhanças" espaciais da Terra. "Mas não há dúvida de que o campo mais efervescente será mesmo na busca por planetas como o nosso fora do Sistema Solar. Se você perguntar a qualquer astrônomo hoje qual é o campo mais quente, ele dirá 'exoplanetas'. Não há como fugir disso", diz Salvador Nogueira, jornalista de ciência especializado na cobertura da corrida espacial e autor do livro "Rumo ao infinito - passado e futuro da aventura humana na conquista do espaço".
A dificuldade, nesse caso, é conseguir fazer imagens de planetas a anos-luz daqui, cuja fraca luminosidade é totalmente obscurecida pela de sua estela-mãe. É como tentar enxergar uma lanterninha debaixo de um refletor de estádio.
Por enquanto, o método mais interessante e criativo para conseguir essa façanha vem da missão europeia Darwin, programada para o final da década, que enviará uma frota de pequenas sondas para o espaço. Cada uma delas recolherá a luz vinda de sistemas estelares distantes de um ponto ligeiramente diferente, de maneira a "somar" a luz dos pequenos planetas e "subtrair" a das estrelas. Com isso, deverá ser possível ter uma ideia da composição química atmosférica dos "gêmeos" da Terra e estimar se eles são mesmo habitáveis ou apenas desertos com aparência promissora, como Marte e Vênus.
Concepção artística da missão Darwin
Cuidando de casa
Enquanto as missões ambiciosas não chegam, é importante lembrar de outra função primordial das sondas espaciais, diz o engenheiro eletrônico Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe): observar o estado de saúde da própria Terra.
"Eu acho que, no século XXI, o nosso negócio terá de ser defender o planeta", afirmou ele ao G1. O Inpe já vem cumprindo essa missão ao monitorar em detalhes o desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica com a ajuda de sua linha de sátelites CBERS.
Para Câmara, o Brasil pode participar dessa nova era sobre a exploração espacial dando ênfase a uma cultura de continuidade na construção de sondas - tornando-as parte de uma espécie de linha de montagem - e investindo pesado em instrumentos de análise e distribuição de imagens, que ajudarão a comunidade científica a obter o máximo possível de dados sobre o ambiente e o clima da Terra. "Temos pessoal e tecnologia para isso", diz ele.
Fonte: Reinaldo José Lopes (G1) - Imagens: NASA
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