Na fotografia acima, veem-se os destroços do voo TWA 800, que foram armazenados num hangar em Calverton, Nova Iorque, enquanto os investigadores analisavam a causa da explosão do avião, que teve lugar pouco depois de ter descolado do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, a 17 de julho de 1996
Nos dias que se seguiram à colisão entre um helicóptero militar e um avião de passageiros em Washington DC, no final de janeiro, e ao acidente com um avião de transporte médico em Filadélfia, já em fevereiro, os investigadores federais expressaram rapidamente as suas condolências às famílias das vítimas e estabeleceram parcerias com organizações sem fins lucrativas para fornecer informação e apoio.
Mas nem sempre as coisas foram assim.
Enquanto as autoridades da área da aviação e as equipas de segurança nos transportes se concentravam na recuperação dos destroços e na reconstituição das causas dos acidentes, as famílias das vítimas eram muitas vezes deixadas frustradas pela falta de informação e pelo ritmo lento das investigações, que costumam demorar cerca de um ano.
Há cerca de 30 anos, um avião de passageiros explodiu pouco depois de ter partido do Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova Iorque, deixando as autoridades perante uma investigação difícil, complexa, ao mesmo tempo que as famílias exigiam respostas.
Da tragédia e dos esforços incansáveis dos advogados de defesa, resultou uma lei do Congresso dos Estados Unidos da América que obrigava o governo a fornecer apoio às famílias das vítimas após os desastres aéreos.
Voo TWA 800
![]() |
Uma parte da asa do voo TWA 800, alguns dias depois da tragédia, a flutuar no Oceano Atlântico, junto a Long Island, Nova Iorque (JON LEVY/AFP/Getty Images) |
Em 1996, o voo TWA 800, que tinha Paris como destino, transportava 230 pessoas quando explodiu, poucos minutos depois de ter levantado voo, matando todos aqueles que seguiam a bordo. Com a ajuda da Marinha dos EUA, da Guarda Costeira dos EUA e de embarcações de pesca contratadas para o efeito, os investigadores conseguiram recuperar mais de 95% da aeronave. E, quase um ano depois, os restos mortais de todos aqueles que perderam a vida com a explosão do avião.
A tragédia, que desencadeou uma das maiores e mais caras investigações na área da aviação de que há memória, também gerou uma onda de teorias da conspiração, embora o NTSB, a agência dos EUA responsável pela investigação de acidentes em transportes, a tenha acabado por classificá-la como um acidente, uma vez que não encontrou provas de sabotagem.
Após a explosão do voo TWA 800 em 1996, e de uma investigação exaustiva que durou quatro anos, a equipa de Frank Hilldrup, um responsável do NTSB que integrou a equipa original de investigadores, determinou que a provável causa da explosão foi um curto-circuito elétrico, que detonou vapores no depósito de combustível da asa central, embora nunca tenham determinado, de uma forma definitiva, de onde veio a faísca inicial.
Os familiares das vítimas da tragédia do voo TWA 800 terão enfrentado dificuldades para obter informações das autoridades, apesar de alguns compreenderem a complexidade do acidente.
“Assistimos a uma enorme, a uma tremenda, destruição”, contou Jose Cremades, familiar de uma das vítimas, em 1997, depois de ter visto os destroços da aeronave que acabaram por ser reunidos. “O avião estava mesmo partido em pedaços pequenos, e temos de compreender a complexidade, a dimensão, desta tarefa, que o FBI e o NTSB estão a levar a cabo. Penso que estão a fazer um ótimo trabalho”.
Apoio às famílias
A explosão levou à criação de legislação específica, conhecida como “Aviation Disaster Family Assistance Act”, que mudaria para sempre a forma como são tratadas as famílias e os entes queridos das vítimas de acidentes aéreos.
“A lei exige que as companhias aéreas desenvolvam e mantenham planos que respondam às necessidades das famílias dos passageiros envolvidos em acidentes aéreos”, pode ler-se num documento do NTSB. “A lei também exige que, no mínimo, o plano da companhia aérea inclua dezoito garantias plasmadas na lei”.
Segundo a mesma lei, o NTSB é “responsável por coordenar os recursos do governo federal para apoiar os governos locais, estaduais e tribais, as organizações de apoio em desastres e a transportadora aérea, de modo a satisfazer as necessidades das famílias”.
Peter Goelz, antigo diretor do NTSB, disse à CNN, em 2000, que o “Aviation Disaster Family Assistance Act” foi criado quando “ficou claro” para aquele organismo, para o Congresso, assim como para outras entidades, “que as famílias mereciam ter acesso a mais informações a cuidados mais direcionados após um desastre deste género”.
“Por isso, quando acontece um desastre, os familiares são os primeiros a receber a informação vinda do governo, antes da imprensa. São atualizados com regularidade. O que estamos a tentar fazer é não agravar a tragédia”, disse Goelz.
Depois da recente colisão em Washington DC, a lei foi colocada em prática pelo NTSB. Todd Inman, desta agência, explicou o seguinte na altura: “Reunimo-nos com as famílias. Há mais de uma centena de familiares que estão a receber informações. Faz parte da lei que define o apoio às famílias”.
Inman concretizou que as famílias receberam informações do médico legista, do chefe dos bombeiros, do presidente do NTSB e da unidade de apoio às famílias da companhia aérea.
A American Airlines fez logo chegar ao terreno a sua equipa de apoio às famílias, denominada CARE Team. Segundo a companhia, trata-se de um grupo com treino específico para dar apoio aos familiares dos passageiros e dos membros da tripulação após um acidente.
“Até agora, a American Airlines mobilizou 175 membros da CARE Team para Washington DC e Wichita, Kansas. Todos os membros da equipa foram designados para o apoio às famílias”, explicou Andrea Koos, da American Airlines.
A CARE Team, que está disponível 24 horas por dia para as famílias, também é responsável pela marcação de viagens para os familiares e ajuda a encontrar serviços direcionados para o cuidado de crianças, idosos e animais de estimação.
A lei também encarrega o NTSB de designar uma “organização independente sem fins lucrativos”, como a Cruz Vermelha, para coordenar o “cuidado emocional, o cuidado psicológico e os serviços de apoio às famílias” das vítimas dos acidentes ou dos seus familiares.
À procura de respostas
O senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, que tem sido um forte crítico do congestionamento no Aeroporto Nacional Reagan, alertando que era apenas uma questão de tempo até acontecer uma colisão fatal, disse acreditar que o NTSB determinaria o que levou ao acidente no final de janeiro.
“Acredito que o NTSB irá a fundo na questão. Tenho a sensação de que já sei algumas coisas que eles vão descobrir. Estou confiante de que nos darão respostas. Nessa altura, o Congresso e a administração norte-americano terão de nos dar soluções, com base nas recomendações desta agência”, disse na altura a Jake Tapper, da CNN, no programa “State of the Union”.
O NTSB trabalhará para emitir um relatório preliminar sobre a causa da colisão, enquanto os familiares também lidam com as suas perdas.
“Estou pura e simplesmente em choque neste momento”, afirmou à CNN Andy Beyer, que perdeu a filha e a esposa neste acidente. “É demasiada dor e sofrimento. A um ponto em que não consigo sequer aproximar-me da porta do quarto da minha filha em casa”.
Via CNN (Portugal)
Nenhum comentário:
Postar um comentário